domingo, 10 de junho de 2018

5391 - A contribuição alemã para a formação da nação brasileira III

Um dos primeiros europeus a viver no Brasil foi o alemão Hans Staden
  • Já desde 1489 existia em Lisboa, no Portugal, uma guarnição militar permanente com 35 artilheiros alemães, ou “atiradores de carabina”, os quais possuíam privilégios especiais e participavam de todas as viagens grandes de descobrimento dos portugueses. Tais alemães atingiram o Brasil com a frota de Cabral. Mas eles não foram as únicas pessoas da Alemanha que desembarcaram em 22 de abril de 1500 com Pedro Álvares Cabral na baía de Porto Seguro, na Bahia. O conselheiro, náutico e médico mestre Johann (de sobrenome provavelmente Emenelaus ou Emmerich) estava junto lá, bem como o cozinheiro alemão de Cabral. Mestre Johann ou João escreveu em 28 de maio de 1500, dias antes de Pero Vaz de Caminha, uma carta ao Rei Emanuel I, na qual ele descreveu, entre outras coisas, o “Cruzeiro do Sul”, explicando-o de modo científico. Assim o relatam os historiadores portugueses Frazão de Vasconcellos e Pedro Calmon.
  • Os primeiros alemães que se radicaram de modo planejado no Brasil, chegaram já em 1532 com Martim Afonso de Sousa até São Vicente. Segundo registro no livro de bordo eles eram enumerados em primeiro lugar, ao lado de italianos e de franceses. Assim eles participaram, entre outros, da fundação da primeira colônia agrícola do Brasil.
  • Nunca esquecido é o Hans Staden, o qual nos deixou em 1557 os primeiros documentos sobre a fauna e a flora, bem como sobre os povos indígenas que viviam na primeira metade do século 16 no Brasil. As primeiras imagens e o primeiro livro sobre o Brasil e seus aborígines são deste soldado mercenário de Homberg, na margem do rio Efze, província de Hessen. No filme produzido faz algum tempo por Luis Alberto Pereira, com o nome de “Hans Staden” é chamada a atenção, de forma impressionante, sobre a vida do mesmo no Brasil, naquela época histórica.
  • Ulrich Schmiedel de Straubing, Baviera, prestou igualmente uma colaboração valiosa à história inicial do Brasil; ele tem importância igual para os paises do Rio da Prata como Hans Staden para o Brasil. O livro editado em 1567 em Frankfurt/Meno “História verdadeira e agradável de algumas paisagens nobres e indígenas” possui um valor elevado como obra sobre as origens e condições da época colonial primitiva no Brasil.
  • Heliodoro Eobano Hesse deve ser considerado co-conquistador e co-fundador do Rio de Janeiro. Ele tinha sido em São Vicente gerente comercial da filial de Adorno, tendo ali conhecido também o Hans Staden. Como aliado de Estácio de Sá ele participou dos combates contra os franceses no Rio de Janeiro, nos quais Estácio de Sá foi morto. Porém Hesse se tornou, depois da vitória em 20 de janeiro de 1567, co-fundador da segunda São Sebastião do Rio de Janeiro.
  • A partir de 1535 aconteceu a imigração de famílias alemãs de comerciantes e armadores de navios ao Brasil, Assim chegou Arnual von Holland, patriarca da família Holanda, ele se tornou plantador de cana de açúcar e proprietário de engenhos próximos de Olinda, no Pernambuco. Em 1545 encontra-se Seebald Lins no Brasil, o patriarca da família Lins. Operou como armador de navios e comerciante de exportação de açúcar, madeira de pau brasil e de algodão, de Pernambuco. A família comerciante dos Hutter também emigrou naquele tempo para o Brasil. O seu sobrenome traduzido para o português transformou-se em “Dutra”.
  • Por volta de 1600 aconteceu a primeira expedição bandeirante ao interior de São Paulo. Em 1601 ocorreu uma expedição sob o comando do alemão Jost ten Glimmer e do bandeirante alemão Pedro Taques.
  • Moritz Graf von Nassau-Siegen-Dillenburg desembarcou em 1637 no Recife, Pernambuco, enviado pela Companhia Holandesa da Índia Ocidental. Então foi hasteada também a bandeira do Império Sacro Romano da Nação Alemã, do qual os Paises Baixos ainda faziam parte, formalmente, até 1648. Foi ele que transformou o Recife na cidade mais moderna de toda a América; os cientistas e pesquisadores alemães que ele trouxe consigo forneceram à Europa as primeiras informações científicas sobre o Brasil e sua população. A nação brasileira deve aos mesmos a primeira contribuição básica para o seu desenvolvimento espiritual/científico, e com isso uma auto-estima nacional. As características de Mauricio de Nassau foram tolerância política, étnica e religiosa (também a primeira sinagoga de toda a América, recentemente redescoberta, fora construída naquele tempo em Recife). Houve incentivo á ciência e arte, começou uma “época dourada” para o nordeste brasileiro. Isso até a volta dele à sua pátria alemã, em 1644.
  • Em 1648 o Georg Markgraf, o primeiro estudioso das ciências naturais, do séqüito de Moritz v. Nassau, publicou a sua obra “História Naturalis”.
  • Em 1660 chegou o monge beneditino Richard von Pilar ao Rio de Janeiro. Ele é considerado o fundador da arte de pintura brasileira. Peritos de arte encontram nas obras dele “um leve traço da antiga grande escola de pintura de Colônia”.
  • O primeiro navio brasileiro, uma fragata, foi construído em 1668 no Maranhão, no estaleiro do Kasper Werneck e Simão Ferreira Coimbra.
  • Eleodor Ebano, um neto de Heliodor Eoban Hesse, estará fundando Nossa Senhora da Luz, mais tarde Curitiba, elevado em 1668 à categoria de vila. Ele é tido como conquistador do Paraná.
  • Em 1684 a população de São Luiz, Maranhão, revoltou-se pela primeira vez contra a opressão portuguesa; ela foi chefiada pelo plantador e vereador alemão Emanuel Beckmann (Manuel Bequimão).
  • Em 1685 o trabalho jesuíta na Brasil atingiu o seu apogeu, jesuítas alemães erigiram o “Estado do Mayna” no Rio Amazonas superior. Em 1690 Johann Philipp Bettendorf publicou sua “Crônica” a respeito do “Estado Mayna”. Em 1696 apareceu a descrição da viagem de Anton Sepp von und zu Rechegg aos índios Guaranis no trilátero dos países Brasil-Paraguai e Argentina.
  • O padre Eusebius Nierenberg publicou a primeira obra na língua guarani; em 1705 ele construiu nas Missões riograndenses, em São Miguel, a primeira impressora, imprimindo ali o primeiro livro em solo brasileiro. Mais ou menos a metade dos religiosos jesuítas que atuavam em solo sul-americano até a proibição desta ordem, tinha origem na região de fala alemã.
  • Em 1707 o padre Samuel Fritz, de Trautenau, nos Sudetos, confeccionou o primeiro mapa do Amazonas. Esta obra do jesuíta alemão foi aproveitada ainda até o início do século 20 por causa de sua exatidão insuperável.
  • Em 1676 Johann Friedrich Böhm tornou-se o comandante supremo de todas as tropas no “Estado do Brasil”. Foi introduzida a maneira prussiana de exército. Ele fora designado como “libertador do Rio Grande do Sul”, pois como oficial ele defendeu o sul do Brasil com êxito contra os espanhóis. Na Guerra dos Sete Anos ele havia conseguido as suas experiências militares sob o comando do Conde de Lippe, um aliado de Frederico o Grande, e tais experiências lhe foram proveitosas agora na Brasil. Ele é considerado o fundador do exército brasileiro.
  • Em 1808 a corte portuguesa fugiu diante de Napoleão ao Rio de Janeiro, no Brasil. Entre os 15.000 funcionários e oficiais, cientistas e especialistas de todos os gêneros, inclusive artistas, também havia gente do espaço lingüístico alemão. A Academia Militar foi fundada em 1810 por Wilhelm Ludwig Barão von Eschwege, e por Francisco Borja Garção Stockler.
  • Von Eschwege inaugurou também em 1812 a “Fábrica Patriótica”, a forja siderúrgica de Congonhas do Campo em Minas Gerais. Ele está sendo considerado o fundador da indústria pesada brasileira, e ainda como o empresário industrial mais importante no Brasil no começo do século 19. E ainda como “Patriarca da Geologia Brasileira”. Em 1814 Daniel Peter Müller construiu a primeira fábrica de armas no país em São Paulo.
  • Maximilian Príncipe de Wied-Neuwied (Max von Braunsberg) chegou em 1915 ao Brasil. Pesquisou animais e plantas, no interior de Minas Gerais, estudou as línguas, os usos e costumes das tribos ali radicadas, editando a primeira monografia dum povo do Brasil, a saber a dos índios botocudos.
  • Em 1816 veio Sigismund Ritter von Neukomm ao Brasil; ele está sendo considerado pioneiro das “modinhas” brasileiras em concertos, exercendo grande influência como professor de música.
  • Com o casamento à distância da arquiduquesa Leopoldina de Habsburg com o príncipe herdeiro Pedro de Bragança em 1817 iniciou-se capítulo novo na história brasileiro-alemã. O significado de Leopoldina, que se autodenominava “princesa alemã”, não pode ser avaliada a não ser no grau mais elevado. A nação brasileira deve a ela a sua independência de Portugal. Sob a presidência dela foi tomada a decisão unânime do Conselho de Estado; a missiva dela a Pedro I determinava o último passo para a autonomia estatal do Brasil. Sem dúvida foi ela a figura feminina mais destacada da história brasileira.
  • A bandeira brasileira é expressão da feliz união de duas dinastias. A cor verde procede da casa dos Bragança, de Dom Pedro. A amarela da casa Lothringen-Habsburg, da qual era procedente o pai de Leopoldina, o imperador alemão Franz II, mais tarde imperador da Áustria Franz I. Como símbolos da independência, alcançada pelos monarcas brasileiros, permanecem amarelo e verde como as cores nacionais também na República. Por obséquio, em quais escolas do Brasil isto está sendo ensinado?
  • Em 1819 foi fundada a cidade de Nova Friburgo por suíços-alemães, no estado do Rio de Janeiro. Com Friedrich Sauerbronn, primeiro pastor evangélico no Brasil, chegou até lá, em 1824, um grupo de 300 alemães da província de Rheinhessen.
  • A colônia alemã “São Leopoldo” foi fundada em 25 de julho de 1824 no Rio Grande do Sul. Depois disso, com incentivo da coroa, foram radicados durante muitos decênios, pessoas das regiões de fala alemã da Europa, principalmente nos estados sulinos brasileiros. Começa assim uma nova forma de colonização, bem diferente da maneira de economia dos latifúndios.
  • Em 1825 o médico, estudioso das ciências naturais, Georg Heinrich Duque de Langsdorff começou a sua expedição pela mata virgem do Mato Grosso.
  • Karl Friedrich Philipp von Martius publicou a partir de 1840 sua “Flora Brasiliensis”, a mais importante obra botânica de todos os tempos. O seu companheiro e acompanhante fiel durante a permanência dele no Brasil, desde 1817, foi o zoólogo Johann Baptist von Spix.
  • Em 1850 o farmacêutico alemão e maçom. da ordem superior de maçonaria, Dr. Hermann Bruno Otto Blumenau fundou em Santa Catarina a cidade de Blumenau.
  • Em 1866 aconteceu durante a guerra do Paraguai a maior batalha, a das margens do Tuiuti, com a vitória dos aliados Brasil, Argentina e Uruguai, que foi alcançada especialmente através da “bateria alemã de artilharia”. Anton Ludwig von Hoonholtz, barão de Tefé, ficou com a designação “Herói da Guerra do Paraguai”; a vitória definitiva foi conseguida em 1870 pela atuação do marido, de descendência alemã, da Princesa Herdeira Isabel, Gaston von Orleans, o Conde d’Eu.
  • O brasão da República do Brasil, as chamadas armas do Brasil, é um esboço do engenheiro alemão Arthur Sauer. Ele o confeccionou em 1889, sob ordem de seu amigo, o marechal Deodoro da Fonseca, o primeiro presidente da República nova e também Grão-mestre de maçonaria do Grão-Oriente. Como é regra na heráldica, o brasão brasileiro é ao mesmo tempo simples, mas de significado simbólico bem acentuado. E ainda hoje ele é um dos símbolos nacionais mais sagrados dos brasileiros.

    É impossível relacionar a imensidão de personalidades e de fatos relevantes neste ensaio relativamente bem resumido, os quais foram decisivos até a formação da República do Brasil. Esta relação por itens e pontos é finalizada de propósito com a ocorrência importante para a história moderna do país, pois é relativamente mais simples lembrar-se de fatos que datam de no máximo cem anos. Para dizer isso com as palavras de Karl Heinz Oberacker Jr: ”Pessoal alemão contribuiu assim de maneira destacada para a circunstância deste espaço, dentro do qual no decurso de séculos deveria surgir a nação brasileira, ser incluído na abrangência dos conhecimentos da Europa. A nação brasileira deve agradecer a tal abrangência, em última análise, a sua existência em geral. E a Europa, e não somente Portugal, forneceu a esta nação as fundamentações básicas da vida, pois entre os primeiros colonizadores que se radicaram na América do Sul portuguesa, encontravam-se, ao lado de portugueses, ainda membros outros povos, e nem por último também alemães, os quais, no percurso de séculos até os dias de hoje, tiveram um papel importante na história do país”.     

  • Pesquisa de Dietrich Bonke

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