quinta-feira, 13 de setembro de 2018

5416 - Obra do professor Roque Mengato

Os grão dourados de trigo


Os maduros e dourados grãos do trigo

Em 20 de dezembro de 2005, tive um sonho. Sonhei que passava por um campo de trigo. Lá pelas tantas, a plantação acabou repentinamente e me deparei com uma cabana rústica, sombreada por imponentes pinheiros. Disfarçadamente, espiei o interior da choupana e vi uma jovem senhora ninando um lindo menino, num simples berço de madeira com formato de mangedoura.
Ao ser notado, me apresentei e tratei de justificar a minha presença.
Escolhendo as  palavras com o máximo cuidado, disse que desejava levar um feixe de espigas de trigo maduras para enfeitar o meu presépio de Natal.
No sonho, o cenário todo era algo maravilhoso e confortador, com o trigal dourado que me cegava com o seu brilho.
A mãe e o menino, mais o pinheiro e o trigo ofuscante, me deixaram em êxtase.
A madona, me olhando fixamente, fez com que eu me sentisse elevado do espírito comum e rotineiro para um nível espiritual que nunca antes havia experimentado.
Acordei, então, antes do meu pedido ser atendido. O que deixou, em mim, um profundo desapontamento, angustiado e com um sentimento de vazio.
Passei dois  dias triste e pensativo. Três  dias depois, enquanto caminhava despreocupadamente pela margem da RS-122, fui surpreendido por um fato inesperado:
Sentado à sobra de uma árvore, vi um menino bem parecido com aquele do sonho e, bem ao lado dele, numa rachadura do asfalto, três vistosos pés de trigo, com oito espigas maduras.
Quem teria plantado os grãos que deram origem àquelas plantas? Teriam sido aves que as deixaram caír do céu?  Ou as sementes teriam caído de um caminhão graneleiro?
Sem hesitar, pedi ao menino licensa para colher as oito espigas maduras. A criança não disse nem sim nem não e eu fiz a colheita rapidamente. Enquanto isso, o menino desapareceu, seguindo por um carreiro, de chão batido, rumo ao Loteamento Popular.
Até hoje ainda guardo as oito espigas numa redoma de vidro e, nessa época natalina, quando contemplo aqueles maduros e dourados grãos, recordo o que dizia a minha avó:
- O pão que sobra em tua mesa faz falta para o pobre, que não se divorcia da fome.

Crônica do professor Roque Mengato

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