Certa vez, por volta do ano de 1970, numa madrugada fria de inverno, Jaime Flores cumpria a sua tarefa diária de entrega do leite. Quando atravessava a faixa já asfaltada da RS-122, na Vila Rica, o cavalo que puxava a charrete na qual ele fazia a entrega escorregou no asfalto e caiu sobre a pista. Jaime tentou atravessar a faixa ligeiro, por causa do intenso movimento de carros e esqueceu uma recomendação que Bernardo, bem mais experiente, já lhe havia feito. A de que é preciso ter cuidado quando se anda a cavalo sobre o asfalto frio. Ao calor do sol o asfalto amolece e dá mais aderência às rodas dos veículos e, inclusvive, ao casco dos animais. Ao amanhecer, principalmente no inverno, o asfalto tem menor aderência e se torna perigoso.
No momento da queda, Bernardo passava no local, também de carroça, levando a família, e pôde prestar socorro ao jovem Jaime. Fez sinal para que os veículos que passavam diminuíssem a velocidade e ajudou a levantar o cavalo que, atrelado à carroça, ficou preso e tinha dificuldade para se levantar sozinho.
Devido ao calçamento das ruas da cidade, que intensificou-se nas décadas de 70 e 80, aumentou o desgaste das ferraduras dos cavalos que (como o de Bernardo e o de Jaime) circulavam muito pelo Centro. Com isto, as ferraduras tinham de ser trocadas mensalmente.
As ferraduras tinham pequenas saliências (algo semelhante ao salto dos sapatos) que fincavam na terra, dando mais estabilidade para o animal. No asfalto, porém isso não funcionava. Daí o perigo, principalmente em dias frios, quando a pista de asfalto fica mais “dura”.
No Caí, um dos últimos ferreiros que se dedicou a ferrar cavalos (pregar ferraduras nos cascos) foi Edmundo Werner (pai do dentista Ilson Werner), que teve seu estabelecimento na esquina das rua Coronel Paulino Teixeira com Floriano Peixoto. Bem no centro da cidade. Outro entre os últimos ferreiros caienses foi Reno Jacobsen, que tinha sua ferraria na esquina em frente ao armazém Tem Pass e à loja Compumaq.
Hoje é raro ver-se uma carroça circulando pelo centro do Caí, pois o trânsito cada vez mais intenso faz com que isso se torne perigoso. Bernardo foi um dos últimos a manter essa prática, na sua entrega de pão. E, mesmo depois de parar com essa atividade, continuou a fazer passeios com crianças das escolas infantis da cidade. As crianças pediam para andar na sua carroça e gostavam muito do passeio quando ele as atendia. Algumas costumavam pegar carona com Bernardo quando este fazia o seu trabalho diário de entrega do pão.
Por isso, Bernardo acabou fazendo (com a ajuda de alguns amigos, especialmente Danilo Griebler) uma carroça especialmente para essa finalidade. Era uma carroça bonita, enfeitada e especialmente planejada para oferecer conforto e segurança para as crianças. Assim ele fez muitos passeios levando crianças das creches, sempre acompanhadas de suas professoras. Esses passeios aconteciam em datas especiais, como o Natal, Páscoa e São João. As crianças participavam com roupas ou fantasias apropriadas (Papai Noel, coelhinho, caipira). A capacidade da carroça era para 18 crianças sentadas e mais duas “tias”.
Em alguns estabelecimentos comerciais, como o de Jacinto Tem Pass, os comerciantes faziam questão de receber a visita das crianças. Nesses locais, as crianças cantavam e ganhavam balas. Em algumas ocasiões, quando seu filho Geraldo o ajudava dirigindo a carroça, Bernardo acompanhava o canto das crianças tocando gaita. Ele ainda tem essa carroça e, eventualmente, faz passeios com crianças. Recentemente fez isso com os alunos da APAE, portadores de deficiências.
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