Pelo fato de estar sempre se deslocando pela cidade o tempo todo e por ser muito comunicativo e prestativo, Bernardo se tornou uma espécie de instituição caiense. Ele era o meio de comunicação mais eficiente, pelo qual as pessoas ficavam sabendo o que acontecia na cidade. E todos tinham confiança nas informações transmitidas por Bernardo. Servia, também, para dar uma carona em casos de necessidade, como já vimos que acontecia no transporte das parteiras. E ele também se prestava a enviar encomendas e correspondência para lugares que não eram alcançados pelo Correio. Bernardo tinha, também, um grande número de amigos e capacidade de convencer as pessoas, como também já vimos acontecer na conquista de clientes para a padaria em que trabalhava.
Depois que aconteceu a revolução de 1964, os antigos partidos políticos foram extintos e, por imposição do governo militar, foram criados apenas dois partidos: um de governo e outro de oposição.
Assim foi criado, em 1965, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que reuniu políticos do antigo PTB e outros partidos que se opuseram ao governo militar. No Caí, foi em 1966 que partidários do PTB, como Dary Laux, foram incumbidos por lideranças estaduais de reunir filiados para constituir o MDB no município. Mas o clima de medo existente na época, em vista de algumas perseguições ocorridas, fez com que os líderes locais encontrassem dificuldade para angariar filiados para o partido.
Sabendo da dificuldade, Bernardo disse ao Dary, meio de brincadeira:
- Se vocês não conseguirem o número que precisam, deixa o resto pra mim.
Faltavam só três dias para o encerramento do prazo e o partido havia conseguido apenas a metade das assinaturas necessárias. Um problema sério, pois eram necessários dois partidos para que houvesse eleição municipal no Caí.
O doutor Homero Bento de Freitas, delegado da época, era simpatizante do partido do governo, a ARENA. Ele residia no Caí e foi assistir a uma gincana que acontecia na Sociedade União Vila Rica, o popular Poeira. Bernardo trabalhava como ecônomo na sociedade e o delegado, ao chegar ao local, lhe entregou o revólver. Homero era um homem austero, mas Bernardo tinha uma certa familiaridade com ele porque o delegado era seu freguês de pão, que era entregue diariamente na sua casa.
Como o delegado sabia que Bernardo havia assumido a tarefa de recolher assinaturas, comentou:
- Tu vai fazer o MDB, né?
- Não conseguiram - respondeu o padeiro. - Agora depende de mim.
E o delegado o advertiu:
- Se tu pegá, já sabe: Não quero gente com problema na justiça ou na polícia.
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