domingo, 8 de agosto de 2010

903 - Comunicativo e prestativo

Bernardo Costa, percorrendo a cidade diariamente, conhecia a todos e sabia de tudo que ocorria

Perambulando diariamente pela cidade, Bernardo transmitia as notícias. O que, além de fazer parte do seu gosto natural pela conversa, era uma forma de agradar seus clientes. Além disso ele sempre teve uma disposição natural para prestar ajuda desinteressada. Com sua carroça, Bernardo, muitas vezes, se prestou a atender emergências, largando até o seu serviço para prestar um socorro urgente.
Era costumeiro ele levar uma parteira até a casa de uma família onde um parto estava na iminência de acontecer.
O Caí tinha várias parteiras em atividade nos anos 50, mas a que mais se destacava era a Vó Lamb (Ermelinda Lamb, que é nome de uma rua no bairro Quilombo). Habilidosa e generosa, ela atendia tanto aos ricos quanto aos pobres. Era considerada a melhor parteira da cidade e se atribuía a ela o feito de haver salvo a vida de muitas mães e seus bebês. O dinheiro que ela cobrava era pouco (algo como R$ 10,00 em valor atual) e não era o que mais lhe interessava. Muitos não tinham este dinheiro para pagar e eram atendidos da mesma forma. Frau Lamb atendia sem queixas até mesmo aquelas mulheres, mães de muitos filhos, que não lhe haviam pago o serviço do parto anterior. A parteira se sentia realizada quando voltava para sua casa havendo deixado a mãe e a criança salvas. O que interessava a ela era salvar vidas. Frau Lamb dava assistência à mãe e à criança também depois do parto e só dava o seu trabalho por concluído quando via a criança mamando no peito da mãe. Quando via necessidade, fazia um acompanhamento mais longo, auxiliando no desenvolvimento do bebê e na recuperação da mãe.
Quando a parteira recebia o aviso de que uma mulher estava já em trabalho de parto, tinha de chegar até a casa dela o mais rapidamente possível. Nessa hora sabia que podia contar com Bernardo, que suspendia o seu trabalho de entrega para levar Frau Lamb até a casa da parturiente. Os partos, naquela época, ainda aconteciam nas casas.
Outras parteiras que atuavam no Caí eram Antonieta Welter, que morava na rua 7 de Setembro e Alícia que morava num potreiro da rua São Lourenço, entre o Forum e a RS-122, onde mais tarde foi construído o conjunto habitacional denominado Casas Populares.
Naquela época, os serviços públicos eram muito deficientes. E algumas pessoas, assim como a Frau Lamb, eram reverenciadas pelo povo porque lhes davam ajuda nas horas de necessidade. Um caso típico foi o do médico Bruno Cassel que atendia as pessoas a qualquer hora, na sua casa, mesmo à noite e nos fins de semana e não cobrava a consulta. Isso fez com que o Doutor Cassel fosse eleito, por quatro vezes, prefeito do município. Votar nele era uma forma que as pessoas humildes tinham de retribuir os favores que o Doutor lhes havia prestado.
Caso semelhante era o de João da Silva Reis, popularmente conhecido como Cantarola. Agricultor analfabeto, ele desenvolveu a habilidade de castrar animais e prestava esse serviço aos produtores rurais da região. As porcas, depois de haverem cumprido sua fase de reprodutoras (dando duas ou três crias), eram castradas porque, com isto, engordavam mais. Assim, ao serem carneadas (mortas para servir de alimento) elas produziam mais carne e, principalmente a gordura (banha) que era muito usada na época para a preparação de frituras. De muitos, Cantarola não cobrava pelo serviço.
Ele também era músico. Foi o baterista do Jazz Espia Só, uma banda que tocava sambas, tangos e boleros. João Vila Rica, que era negro e morava na rua São João, era o líder dessa banda.
A extraordinária disposição de Cantarola para prestar favores fez com que ele se tornasse um político influente no município. Foi vereador, secretário municipal e vice-prefeito.

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