Hoje parece surpreendente que Bernardo Costa ia de carroça até a localidade de Santa Terezinha, que fica a aproximadamente oito quilômetros do centro da cidade. Mas, antes dele começar a trabalhar, a padaria de Dary Laux e Lauri Rangel, chegava a entregar pão em carroça puxada por dois cavalos numa linha que atendia o Chapadão, Arroio Bonito, São José do Hortêncio e até Capela do Rosário, que fica a, aproximadamente, 20 quilômetros do Caí. A padaria contava também com uma camionete que era usada principalmente por Dary Laux para fazer entregas nos então distritos caienses de Capela de Santana e Portão, além de Harmonia, que era distrito de Montenegro.
Quando começava a trabalhar na padaria, pelo ano de 1952, Bernardo acompanhou o funcionário Laurindo Lorscheitter, de camionete, para São José do Hortêncio e Capela do Rosário. Na ida, quando passaram pelo armazém de Werno Hess, em Arroio Bonito, o comerciante lhes perguntou:
- Vocês vão querer ir ao baile hoje?
A pergunta era natural, pois Bernardo e Laurindo eram solteiros e iam aos bailes quase todo sábado.
- “Queremo” - responderam os rapazes.
- Mas não vão poder, pois, quando voltarem, o arroio Cairé vai estar cheio e não vai dar passagem.
E foi o que aconteceu. Para retornar ao Caí, Bernardo e Laurindo tiveram de esperar o arroio baixar. Para isto ficaram no armazém de Ruben Lamb, no Arroio Bonito dos Lamb. Para quem não sabe, é bom esclarecer que existem duas localidades com o nome de Arroio Bonito, sendo que, para diferenciá-las, era costume usar o nome do comerciante de cada uma delas. Hoje as localidades são também diferenciadas pelo município em que se encontram, já que elas estão na divisa entre o Caí e São José do Hortêncio. Uma é dita Arroio Bonito do Caí e outra Arroio Bonito de Hortêncio. Antigamente (e até hoje, em parte) as localidades eram conhecidas com Arroio Bonito dos Hess e Arroio Bonito dos Lamb.
No armazém de Rubi Lamb, Bernardo teve a oportunidade de ver um touro que era uma verdadeira atração, pois pesava 1.140 quilos.
Bernardo, com o seu jeito simples mas insistente, fez sucesso nas vendas. Aumentou a freguesia da padaria Princesa. A ponto de o comerciante Faustino Frozi, que tinha armazém na esquina das ruas Oderich e Egydio Michaelsen, lhe fazer uma proposta. Ele compraria a padaria Natal e a colocaria no nome do Bernardo, com a condição de que o filho de Faustino fosse o responsável pelo trabalho de fazer o pão. Mas Bernardo preferiu continuar trabalhando com Dary Laux e Lauri Rangel.
Inicialmente a entrega de pão era feita somente pela manhã e, em cada um dos onze armazéns da cidade, eram deixados aproximadamente cinco pães de meio quilo e dois de um quarto de quilo. Não existia, na época, o pão cacetinho, que hoje é o mais consumido. Como se vê, o consumo do pão de padaria na cidade era pequeno. Além da população ser bem menor, ainda era costume, na época, as famílias fazerem pão em casa: o pão de forma. Comprar o pão francês, produzido nas padarias, era privilégio das famílias com maior poder aquisitivo. As mais pobres comiam o pão feito em casa ou o angu. O que vinha a ser um mingau feito de farinha de mandioca misturada com água. Essa era uma comida de pobre. Eventualmente, a farinha era misturada com leite ao invés de água. Principalmente na alimentação das crianças.
O roteiro de Bernardo incluía ainda as entregas feitas nas casas. Venda que, no seu apogeu, alcançou 80 residências. O pão era deixado, geralmente, na janela da casa. Depois de concluída a entrega, Bernardo ainda ajudava no trabalho da padaria, onde tinha como colegas Laurindo Lorscheider, Sérgio Machado e Otto Bays. Os patrões também ajudavam. Lauri Rangel era confeiteiro e Dary cuidava do escritório e da entrega pelo interior, com a camionete.
A padaria Hanauer também fazia um pão de forma, que era bastante apreciado. Para competir neste produto, Bernardo propôs que a sua padaria fizesse um pão de forma maior. E teve sucesso.
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