domingo, 22 de agosto de 2010

942 - Nos tempos do namoro

O Grande Hotel Müller, que era um ponto referencial da cidade, funcionou no prédio hoje ocupado pela Farmácia Ideal

Fora da Festa de São Sebastião não era fácil arrumar namorada. Não eram todas as moças que tinham licença da família para freqüentar bailes durante o ano e a festa do padroeiro tornava-se uma oportunidade rara para encontros e o início de um relacionamento.
Para que o namoro iniciado na Festa de São Sebastião tivesse continuidade, era necessário manter contatos nas missas que aconteciam todos os domingos, pela manhã. Fora disto, o contato entre os jovens apaixonados era difícil.
Bernardo, como outros jovens caienses, ia a festas de kerb também em localidades próximas, como no Alto Feliz, no Paradiso ou Bela Vista (salões de Mathias Juchem e de Marcos Kayser). Para custear estas viagens, os rapazes se juntavam para pagar um taxi. Pedro Piovesan, dono da Estação Rodoviária, e Pedro Luis Müller, proprietário do Grande Hotel Müller, eram taxistas naquela época. O Grande Hotel, cujo prédio ainda está em uso, alugado à Farmácia Ideal, estava situado na esquina da rua Marechal Deodoro com a Pinheiro Machado. Ele foi fundado em 1932 e ali funcionou também a primeira bomba de gasolina da cidade, com a bandeira Texaco.
Num destes bailes aconteceu um fato notável com o caiense Canísio Juchem, que era parente do dono do Salão Juchem. Canísio era valente e se envolvia frequentemente em brigas. Certa vez, um grupo de homens se juntou e, pegando-o a força, fez ele sentar sobre a chapa quente do fogão, na cozinha do salão de bailes, onde estavam fritando pastéis. Com esta brincadeira, Canísio ficou com a calça sapecada.
Na época, o racismo não ocorria apenas com relação aos negros. Os descendentes de alemães tinham, de modo geral, um nível econômico e social mais elevado do que os de origem portuguesa. E havia uma discriminação dos germânicos em relação aos descendentes de lusos, que eram chamados de “ploe”, expressão do dialeto hunsrükisch derivada da palavra “blau” que, no alemão gramatical, significa azul). No Brasil, o imigrante alemão encontrou duas raças diferentes da sua: os negros, que os colonos chamavam de schwarz (preto), e os brancos descendentes de lusos, de pele e cabelos mais escuros do que os seus, aos quais deu o nome de ploe (azul).
O fato do colono alemão discriminar o negro e o luso (considerando-os menos dispostos e aptos para o trabalho, por exemplo) não significava necessariamente uma aversão ou ódio. Mas era motivo suficiente, para os pais não verem com bons olhos o casamento de um filho ou filha com uma jovem ou um jovem que não fosse de origem alemã. Houveram casos de jovens que se apaixonaram por alguém da outra etnia e não puderam levar adiante o relacionamento devido às restrições da família. Por outro lado, ocorreram muitas superações dessa barreira. Existem, inclusive, casos de negros que foram comprados como escravos por colonos alemães e criados como membros da família, desenvolvendo-se uma grande afeição de parte a parte.
Mais forte que a barreira racial era a religiosa. Famílias católicas não aprovavam o casamento dos filhos com pessoa de outra região. Os padres jesuítas, especialmente, eram categóricos na oposição aos casamentos com pessoas de outra religião. Na colônia alemã do Vale do Cai, as religiões predominantes eram a Católica e a Evangélica Luterana.

Nenhum comentário:

Postar um comentário