Quando ainda morava na casa dos pais, no Chapadão, Bernardino já ajudava a manter a família fazendo biscates. Mas somente à tarde, pois de manhã ia à escola. Inicialmente ele trabalhou para Jacó “Kutel” tocando os bois na prensa de alfafa. Os bois circulavam em torno de um engenho, como acontecia nas moendas de cana, e a força dos bois era transmitida através de um pau chamado de manjarra para empurrar a alfafa na prensa, formando os fardos. Ali Bernardo mostrou certo talento para lidar com os animais. Havia um touro que ninguém conseguia cangar e que ele, mesmo ainda menino, conseguia conduzir com facilidade porque o tratava com jeito. Ao invés de gritar com o touro, ele conversava com ele e alisava o seu pelo. Logo, mesmo sendo ainda um menino, Bernardo era contratado também para trabalhar na capina de roças. Jacó “Kutel” tinha uma roça para o lado do Rio Branco, onde ia trabalhar nas épocas de capina, levando alguns empregados de empreitada, inclusive Bernardo. Jacó era surdo e tinha confiança no Bernardo para avisá-lo quando soava o apito da serraria movida a vapor que existia no Rio Branco (pertencente a Acilo Peters e situada num prédio quase em frente à igreja do bairro). O apito soava sempre às onze e meia da manhã, anunciando a hora da largada dos funcionários. Outros empregados já haviam enganado o patrão, dizendo que o apito havia soado antes disto realmente acontecer. Bernardo era um menino sério e trabalhador e nele seu Kutel podia confiar. Como já era um tanto idoso, seu “Kutel” cansava e, às vezes, perguntava ao Bernardo se o apito já havia soado. E o menino sacudia o dedo fazendo o sinal de que isto não havia acontecido ainda.
O trabalho de capina que Bernardino fez ainda na infância era principalmente em roças de cana. Trabalhava também na colheita do feijão. Ele era bastante solicitado para esse trabalho porque, além de trabalhar com afinco, também participava da conversa que os trabalhadores mantinham durante o trabalho. O que tornava mais fácil suportar o enfadonho trabalho na enxada.
Bernardino trabalhava também na chácara de Bernardino dos Santos Borges e de outros proprietários de terras da vizinhança. Bernardino dos Santos Borges foi pai de Inácio Borges que vive, ainda hoje, na casa que foi de seus pais.
Bernardino Borges era um homem muito sério. De pouca conversa. Mas gostava do menino Bernardino porque trabalhava bem. Chamava-o seguidamente para trabalhos de empreitada e o chamava de meu filho.
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