domingo, 22 de agosto de 2010

953 - As cubas do Cirino

Na primeira metade do século XIX, a cidade não contava com rede de esgoto

Foto do site Fotos Antigas RS

Até a metade do século XX , o Caí não contava com uma rede de encanamentos de água e esgoto. O que só veio a acontecer pelas décadas de 40 ou 50.
Poucas casas contavam com água encanada e a possibilidade de tomar banho de chuveiro. O banho era tomado dentro de banheiras de lata ou com o uso de uma canequinha.
As famílias tinham cabungos nos fundos do terreno, afastados das casas para evitar o mau cheiro. Os cabungos eram casinhas com pouco mais de um metro quadrado, construídas no fundo do terreno, a uma boa distância das casas, para evitar o mau cheiro. Dentro, havia apenas um acento de madeira com um buraco redondo sobre o qual a pessoa sentava-se para “fazer as suas necessidades”.
No centro, onde as casas eram mais próximas e os terrenos menores, e também em prédios como o da prefeitura e dos hotéis, utilizava-se o sistema de cubas. Ou seja: caixas (ou toneizinhos) feitas de madeira revestidas por dentro com chapas metálicas.
Diariamente passava pela cidade uma carreta de quatro rodas puxada por mulas (ou um caminhão velho) com a qual dois homens recolhiam as cubas cheias. Casas de famílias eras visitadas, geralmente, uma vez por semana, mas em hotéis e outros casos especiais o recolhimento podia ser diário. As cubas tinham duas alças de ferro nas quais os dois homens (cada um segurando uma das alças) pegavam para transportá-las até a carroça. Às vezes, até acontecia da cuba cair ou virar e o seu conteúdo se esparramar na rua ou na casa. Fato raro, é claro, mas que era motivo de comentários na cidade. A carroça ou caminhão transportava em torno de 20 a 30 barricas por viagem e as cubas, carregadas, pesavam de 20 a 30 quilos.
Esse era um serviço público, administrado pela prefeitura, e o conteúdo das caixas era levado até a propriedade de um tal de Cirino, que morava no bairro Angico (perto da atual fábrica de chuteiras). Na época havia, perto, o matadouro dos Cornelius. Lá os escrementos eram jogados num buraco cavado pela prefeitura. Por isso as cubas eram conhecidas no Caí como cubas do Cirino. Ele era um homem negro e também eram negros a maioria dos homens que trabalhavam no recolhimento das cubas. Naquela época os negros, bem mais do que hoje, geralmente eram mais pobres que os brancos e tinham de sujeitar-se a assumir os trabalhos mais humildes. E o recolhimento de cubas era o emprego mais humilde da cidade.

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