Diante da prefeitura, Erna Lisch (Enaxie), que é aparentada de Assmann, recolhia lixo nas proximidades da praça, por volta das 10h da manhã. Clóvis, que saia pela porta da frente, reparou a cena de longe. Atravessou a rua, afastando-se de Enaxie. Parecia estar fugindo da papeleira. Cinco minutos depois ele retorna, com um sanduíche nas mãos. Vai até a praça, onde estava Enaxie, convida-a para sentar. Reparte o sanduíche em dois, fica com a menor parte, e dá outra para ela. Terminado o lanche, do bolso, Clóvis tira outro sanduíche, repete a cena da partilha, e depois, saciado de sua fome social, volta à prefeitura.
“Não queria que isso fosse publicado na época, porque as pessoas iriam dizer que isso era para aparecer, por isso pedi que nada fosse posto no jornal. Hoje já dá pra contar a história”, diz Clóvis, ao ouvir do repórter o relato detalhado de uma história que ele próprio havia esquecido.
Quando na Angola, Assmann, se deparou com situações de completa miséria. Militares ainda cavavam trincheiras meses depois do final da guerra. Viviam de cogumelos e raízes, mas, procuravam a felicidade do seu jeito. Foi graças a um militar daquele país que Clóvis escapou da mutilação ou da morte. “Eu vinha caminhando e não vi uma mina terrestre. O angolano me puxou a tempo. Seria o fim”, diz Clóvis.
No país ele vivenciou momentos únicos, sendo um deles um encontro cultural em meio à selva. Enquanto os homens falavam sobre o futebol brasileiro, um se aproximou e disse a Clóvis que tinha outra paixão que não a bola. “Gosto muito da literatura brasileira. Jorge Amado e Machado de Assis”, disse o angolano. Quando Clóvis voltou ao país levou consigo 20 livros, de escritores consagrados, e encaminhou ao homem que, infelizmente, nunca mais viu. “A pobreza pode até ser compreendida, mas a riqueza cultural deste homem me surpreendeu, afinal, poderia ter outras prioridades, mas soube tirar dos livros uma grande motivação para continuar vivendo”, destacou Assmann. (texto de Alex Steffen)
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