domingo, 13 de março de 2011

1149 - O perigo dos ismos

O positivismo influenciava as decisões de governantes como Júlio de Castilhos
Um grande mal do século XX foram os governos autoritários que surgiram de movimentos ideológicos. Convencidos do valor superior da sua ideologia, os grupos dominantes se acham no direito de ocupar o poder custe o que custar, usando o poder governamental amassando os adversários, que eram considerados como inimigos, dignos de desprezo ou de ódio.
Isto se pode dizer do comunismo russo e do chinês, tanto como do nazismo e do fascismo. 
E, talvez, se possa dizer o mesmo da Revolução Francesa que, mesmo sendo inspirada em nobres ideais, chegando ao poder abusou dele impondo uma perseguição cruel aos adversários.
Dentro desta ótica, para se compreender a política gaúcha das primeiras décadas desse século, há de se levar em conta um ismo cujos adeptos dominaram o estado nas primeiras décadas do século XX.
Adeptos do positivismo, pessoas que se consideravam informadas, a doutrina criada por Auguste Conte era verdade absoluta. Como acontece nas religiões. Não admitindo contestação aos seus dogmas. O que, pelo menos na política, é uma pretensão absurda e catastrófica. Milhões morreram por isso na Alemanha, na Rússia e na China. As religiões, ao provocarem guerras, também tiveram esse efeito. Mas isso, no mundo ocidental, ocorreu em somente em eras mais remotas.
No Rio Grande do Sul, governantes como Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros também se tornaram autoritários e esmagaram seus opositores usando métodos condenáveis. Produto do apego à doutrina, maior do que o à verdade. 
Eles venciam as eleições apelando para a fraude e as ameaças. E achavam isso justificável, pois acima de tudo estava a vitória das forças que defendiam a doutrina. Isso justificava tudo.
Dentro deste contexto, aconteceu um dos episódios mais épicos e memoráveis da história caiense. A vitória de Egydio Michaelsen contra o partido governista, na eleição municipal acontecida em 1935.
Um indício do quanto o positivismo influía na mentalidade dos governistas na época do castilhismo, é exposta por Renato Mendonça no livro Hospital Schlatter.
Consta ali que o médico Gabriel Schlatter, recém chegado da Áustria, tentou convencer o governo a combater o grave problema da mortalidade de mulheres por ocasião do parto. Sabendo que a principal causa era a falta de higiene dos médicos e parteiras que assistiam as mulheres nessas ocasiões, ele se propôs a difundir este conhecimento entre aqueles profissionais. Não teve apoio. Isso porque "os positivistas não acreditavam na existência de bactérias e outros microorganismos que não se podia ver".
O apego a uma doutrina, que nunca será detentora de toda a verdade, leva as pessoas à ignorância e ao erro.
Dentro desta ótica é que entendemos o trabalho realizado nesse blog. Acreditamos que nada do que é escrito aqui é verdade absoluta. Sabemos que existem muitos erros nas nossas informações e análises. Estamos abertos a fazer correções e dar expressão a opiniões divergentes. Entendemos as contestações como enriquecedoras. E quando nossos erros são apontados encaramos estes apontamentos como preciosas colaborações. Não desejamos que se crie um historiasdovaledocaíismo.
O comentário abaixo, escrito pelo professor Daniel Spolier, mostra o que estamos propondo. Não fazemos censura sobre os comentários. A expressão de pensamento e de opinião é livre. No entanto, já houve um caso em que deletamos um comentário, em tom raivoso, contendo ofensas e acusações graves contra pessoas da comunidade valedocaiense.



Um comentário:

  1. Amigo Renato!
    Algumas considerações acerca de castilhismos e afins.
    1. A vitória de Egydio Michaelsen nas eleições de 1935 não podem ser considerada uma derrota da Reupublica Positivista gaúcha. O partido de âmbito local União dos Filhos do Cahy é uma dissidência liberal do PRL, partido criado por Flores da Cunha para aglutinar os novos setores que emergem com a Era Vargas. A grande questão aqui é que não se pode dissociar a subida de Vargas ao poder do projeto político dos positivistas no RS. Ao contrário, Vargas é a coroação nacional deste sistema pensado por Julio de Castilhos e borges de Medeiros. Getúlio é fruto desse meio, criado dentro do Partido Republicano Riograndense (PRR).
    2. Certamente o Castilhismo tratou a política com mão-de-ferro e com desassossegos para seus adversários, pereseguidos implacavelmente. Entretanto é inegável que os positivostas tinham um projeto de Estado para o RS, diferentemente das oligarquias que governanvam o resto do país, que possuiam um projeto, mas de Poder, não estatal.
    3. Em relação aos "ismos" , faltou citar o mais paradoxal deles, o capitalismo, que indiscultivelmente é o aior causador de guerras, perseguições políticas e genocídios... Mussolini e Hitler, ao subirem ao poder, foram tolerados pelas potências capitalistas ocidentais por serem um "mal menor" e se demonstrarem antagôncios ao socialismo soviético, o que explica muita coisa...

    Grande abraço!

    Paulo DAniel Spolier

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