quinta-feira, 4 de outubro de 2012

1490 - Gilbert Ludwig:14 anos nos Estados Unidos

Casa de Gilbert coberta pela neve

Casado e com três filhas para criar, Gilbert Ludwig viu a sua renda cair brutalmente por ocasião da crise do calçado, na década de 1990. Nascido em São José do Hortêncio, ele trabalhou na compra e venda de couros até que a concorrência dos chineses inviabilizou a produção nacional. Em 1998, a situação era tão crítica que a solução que encontrou foi partir para os Estados Unidos. Amigos que fez no seu trabalho de exportação de couros o incentivaram a tentar a vida naquele país.
Gilbert conta como foi:
“Apesar de não saber falar inglês, logo consegui emprego num restaurante, na cidade de Boston. E logo passei a trabalhar também na distribuição do jornal  Boston Globe. Depois de sete meses trabalhando no restaurante, fui promovido a auxiliar de cozinha. 
Conheci, então, um cliente, brasileiro de Minas Gerais, que vivia nos Estados Unidos há mais de vinte anos. Ele me sugeriu trabalhar com mudanças. Falou isso porque tinha um amigo íntimo que era dono de uma companhia do ramo e precisava de pessoas para levar à Califórnia, onde tinha uma filial da empresa.
Então, após um curto tempo em Massachussets, me transferi para a cidade de Fremont, na Califórnia, que fica há 20 milhas de São José, a capital do Vale do Silício. Na época a região passava por fase de crescimento explosivo.
 Para trabalhar e conseguir a carteira de habilitação, eu precisava regularizar a minha situação nos Estados Unidos. Com muita persistência consegui registro no Social Security (SS) que, mesmo não sendo autorização para o trabalho, já me ajudou. Com ele, consegui uma Commercial Drivers License e passei a pagar impostos usando o número do registro.
Joguei todas as minhas fichas e me arrisquei, saindo um pouco fora da legalidade. O fato deu ainda ter bastante dificuldade com a língua.
Passei muitas horas diárias estudando à noite estudando inglês em casa sozinho. Fazia isso apesar do cansaço provocado por longas jornadas de trabalho. Um sacrifício que, hoje, me proporciona grandes vantagens.
Com mais persistência, consegui emprego na United Van Lines, maior empresa de mudanças dos Estados Unidos. Neste trabalho, fiz serviços para militares de altas patentes e agentes internacionais do FBI.
O mais importante foi quando, um dia, meu gerente me entregou um cartão magnético que eu teria de apresentar para entrar em bases militares de segurança máxima, nas quais, até aquele momento, eu ainda não havia entrado.
Esse cartão é fornecido pelo FMI e outros órgãos de segurança que, antes, vasculham e investigam a vida da pessoa. Fiquei preocupado, pois eu ainda não estava com a minha situação legalizada, mas resolvi arriscar, já que eu tinha a identificação do SS. De fato, eles fizeram uma checagem pelo computador e, como o número batia com o meu nome, data de nascimento etc, me deixaram passar.
Confesso que os meus olhos ficaram molhados quando, na base do carteiraço, entrei na Naval Air Station, em Whidbey Island, no estado de Whashington. Foi emocionante quando eu entrei na base militar, com os nervos à flor da pele, com receio, entreguei o crachá para o segurança do portão, o cara passou ele pela leitora e apareceu a minha foto na tela, com todas as informações. O sujeito me devolveu o crachá e disse You’re all set (tudo certo).
Hoje eu falo e escrevo inglês com razoável fluência. Tenho uma pequena empresa de transporte chamada  Green N Yellow XPress (Expresso Verde Amarelo) Uma homenagem ao nosso país. Afinal, mesmo aqui tenho raizes e saudades do Brasil.
Trabalho com cargas refrigeradas no inverno e, no verão, volto às mudanças. Me viro assim porque a crise teve efeitos severos. Mas, graças a Deus, os Estados Unidos estão de pé novamente. A economia votou a ser dinâmica. Faltam alguns ajustes, mas se vê a luz do outro lado.
Eu estou totalmente adaptado aqui, após 14 anos. Tenho muita vontade de voltar ao Brasil, porém confesso que tenho medo. Não sei se me adaptaria às notícias de corrupção delirante, mortes, roubos etc.
Não concordo quando, no Brasil, a mídia mostra um caso de violência ocorrido aqui e o país todo para comentando isso e não vê os cadáveres, ladrões e tantas outras barbaridades que acontecem no Brasil.  Não tem comparação. Infelizmente tenho que dizer. Me doi na alma que a minha família está no Brasil e eu aqui. Tenho uma filha de 30 anos, Maira Sofia, formada em Comércio Exterior e Jornalismo. Ela, inclusive, morou comigo por três anos e estudou numa faculdade daqui. Outra é a Mayarah, formada em Direito desde 2011, e tenho ainda a Bárbara Luísa, de 19 anos, que está há dois anos de terminar a faculdade de Estética/Estilismo e que trabalha como designer gráfica no jornal O Diário, de Ivoti.

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