Os primeiros colonos alemães chegados ao Vale do Caí sofreram ataques dos
índios: o pior deles foi na localidade de Roseiral, no atual município de Feliz |
João: “Vovô, Vovô, conte alguma coisa sobre os
bugres. Eu gostaria muito de um dia ver um bugre.”
Vovô: “Joãozinho, Joãozinho, a sua
vontade de ver um bugre vai passar logo. Você sabe o que os bugres fizeram com
as criancinhas do Fritzenberg? É só perguntar ao primo Fritzen, que ele vai
contar a história.
Agarraram as crianças, amarraram-nas pelos pés e espatifaram
suas cabeças contra pedras. Isso aconteceu uns três anos depois de nossa chegada
ao Brasil. O pessoal morava no Fritzenberg, num lugar chamado Schillingsberg,
entre o Vale das Rosas e o Vale do Lobo (1). O sobrenome deles eram Stumpf. Naquela
época, também o velho primo Fritzen vivia lá em cima com seus pais. O morro
recebeu esse nome por causa deles.
Um dia, voltando do Vale das Rosas, onde
construía canoas com o pessoal dele, o velho Hortêncio Leite passou pela casa e
avisou o velho Fritzen: Olha, Stephan, aqui em cima não é bom para morar, pois
lá em baixo no Vale das Rosas está assim de bugres.
Ergueu um punhado de areia e
deixou escorrer pelos dedos para simbolizar a quantidade de bugres. "Veja
quantos são!"
E ele tinha toda razão, pois poucos dias depois, a família Stumpf
foi assaltada pelos bugres. A mulher foi ferida e a criança morta. Os colonos se
retiraram do Fritzenberg por algum tempo, mas quando tudo ficou quieto, voltaram
para suas colônias.
Mais ou menos um ano depois da primeira mortandade,
justamente no Domingo de Ramos de 1832, os bugres atacaram pela segunda vez e
escolheram o Vale das Rosas. Assassinaram as três famílias que ali moravam,
quais sejam: os Gellner, os Kneib e os Zimmermann e ainda duas crianças da viúva
Speicher.
A única que escapou ao banho de sangue foi Helena Gellner, na época
com 10 anos, a viúva Heck, que ainda é viva, e uma irmãzinha dela que a corajosa
criança arrancou dos braços da mães já morta.
Com ela no colo, escondeu-se nas
moitas até que os bugres foram embora. Após essas novas chacinas, os moradores
não sentiam mais segurança alguma no Fritzenberg, de modo que desceram para a
Picada, onde moraram com duas ou três famílias em uma colônia.
Outros, como os
Fritzen e os Welter, mudaram-se para a Picada Nova, que foi começada por eles.
Se os bugres não tivessem vindo, a Picada Portuguesa já teria sido aberta até
o Vale do Tabaco e o atual Vale das
Palmeiras teria sido o prolongamento da nossa Picada. Então Joãozinho, chega de
bugres ou quer mais?”
Joãozinho: “Olha, Vovô, se os bugres
lidam com a gente desse jeito, é lógico que não quero saber nada
deles.”
1 Roseiral e Vale do Lobo, localidades do atual município de Feliz.
Texto traduzido do alemão, diponibilizado por Hari Klein
Texto traduzido do alemão, diponibilizado por Hari Klein
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