quinta-feira, 27 de junho de 2013

2213 - O consumo na vida dos colonos pioneiros

Sonho de consumo dos antigos colonos
E como era o comércio e o transporte, como eram os caminhos e as estradas em meio à mata? 
Nos primeiros anos, nossas compras eram feitas no Hövel, um comércio no Passo (1). Como não tínhamos nem uma Kanoe (2) para fazer a travessia do Rio Cadea (3), jogamos troncos de árvores no rio. lá embaixo no Campestre, junto ao Passo Velho, que chamamos Ponto dos Macacos. Fizemos também um outro nas proximidades daquele local em que hoje vamos a cavalo rumo às 14 Colônias (4). Mais tarde abriram uma pequena venda na Estância (5), onde passamos a fazer nossas compras. 
A rigor, naqueles tempos não havia tantas coisas para vender como hoje. A maior parte dos artigos domésticos, talheres, pratos e panelas ainda eram da Alemanha. Quando uma dessas peças estragava ou quebrava, remediávamos como podíamos. Nos primeiros tempos, as xícaras de café eram cabaças. Eu ainda me lembro muito bem como um dia o nosso pai e alguns outros colonos foram a cavalo à Estância, com o objetivo de comprar xícaras de café. 
Nós crianças logicamente ficamos cheios de expectativas face ao evento de chegada das xícaras de verdade. Mas não pudemos por os olhos nelas, pois os colonos haviam passado um belo dia na Venda da Estância, pondo-se ao caminho da volta bastante tarde e visivelmente alegres. Isto significou o fim precoce das xícaras. Uns esbarraram seus cavalos em árvores, quebrando-as, outras as quebraram eles próprios ao montarem desajeitadamente nos cavalos, um outro caiu com sua montaria e despedaçou suas xícaras. 
Resumindo: quando chegaram à Picada, apenas Weitzmann estava com suas xícaras inteiras. Entretanto, para que o destino "não poupasse ninguém", os demais se apoderaram do alforje de Weitzmann e quebraram suas xícaras também. Entretanto, este entrevero não foi motivo para brigas ou discussões nessa alegre comitiva, como certamente seria o caso hoje em dia. Weitzmann não tinha outra alternativa senão dar boas risadas com essa brincadeira um tanto grosseira. Também em termos de vestimentas dependíamos apenas de nós mesmos. Plantamos linho e algodão. Nas longas noites de inverno, os vizinhos se reuniam ora na casa de um, ora na casa de outro para tecer fios e contar histórias, dar boas risadas e ficar contentes. Naquela época ainda havia vários tecelões, iguais a esse que nos restou, o Christ-Hannes, que dos fios faziam tecidos. Sim, até tingimentos fizemos, usando ervas e raízes da natureza como corantes. Tínhamos um “uniforme” de trabalho, camisas e toalhas de linho. E com tudo isso, era um equipamento melhor que esses de hoje, que compramos importados da Europa a troco do nosso suado dinheirinho. Crianças, prestem atenção, também aqui no Brasil valeu o velho refrão de que tudo o que é feito e tecido em casa, é o que melhor serve para o agricultor...
E vocês, Ana Catarina e Maria, se ao invés de ficar com essa bobagem de tricotar, tivessem
aprendido a tecer, e se eu mandasse alguma coisa, haveria um tear a cada três casas.

1 São Leopoldo
2 canoa
3 arroio Cadeia
4 Lindolfo Collor
5 Estância Velha

Texto traduzido do alemão disponibilizado por Hari Klein
Foto do acervo de Moacir Johann

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