quinta-feira, 27 de junho de 2013

2214 - O vovô fala aos seus netos como foi a vida nos primeiros anos da colonização

Quando chegaram ao Brasil, os imigrantes encontraram
dificuldades inesperadas, mas levaram a civilização para o meio da selva
Nessa narrativa, um idoso de São José do Hortêncio, por volta de 1880, conta aos seus netos como foi a vida quando ele era criança e veio, junto com seus pais, entre primeiros colonos ao chegarem àquela localidade.

Depois que o vovô esvaziou várias vezes a cuia com sua bebida preferida, continuou sua narrativa do seguinte modo:
Vocês podem imaginar a nossa alegria em, finalmente chegar à nossa nova terra: o Rio Grande do Sul. Visitamos todas as igrejas de Porto Alegre para dizer obrigado por termos suportado bem a longa e difícil viagem. 
Agora, como ingênuos alemães, pensávamos que íamos diretamente para tomarmos posse dos 272 Morgen, que cada uma das nossas famílias deveria receber. Achávamos que essas terras se situavam nas redondezas e que era só chegar e plantar. 
Mas agora iríamos conhecer o Brasil: “Paciência, alemão, você não está mais na Prússia, está no Brasil!” – Depois de passarmos mais alguns dias inativos em Porto Alegre, puseram-nos em lanchas e nos transportaram Rio dos Sinos acima, até às proximidades de onde atualmente é São Leopoldo, e onde existiam apenas umas poucas casas. 
Aquele local era chamado de “Passo”, pois ali havia uma passagem pelo Rio dos Sinos. Do "Passo" seguimos para a "Feitoria Velha", uma estância imperial, onde os imigrantes recém-chegados eram acolhidos em galpões de madeira. 
Também o pessoal de Hunsrück, que havia chegando antes de nós, tinha passado uma temporada nesse local. Agora já tinham seguido para suas colônias, mas antes tiveram de passar um ano inteiro na Feitoria, e tudo isso apenas para aprendermos a “paciência” brasileira. 
Finalmente, depois de muito vai e vem, fomos para o Portão e para a Estância, onde as mulheres e crianças ficaram hospedadas com os migrantes já instalados. 
Ainda me lembro da Família Schreiner, junto à qual fomos hospedados. Os homens e rapazes seguiram para as colônias que lhes eram atribuídas. Ali derrubavam a mata e plantavam aqui e ali, voltando de tempos em tempos para visitarem suas famílias. 
As ferramentas principais, como machado, foice e enxada eram dadas pelo Governo, mas nunca vimos nada do gado prometido. Da gente chegada conosco, 55 famílias foram assentadas na atual Picada Portuguesa, que naquela época era chamada de Picada Rio Cadea (1), e também nas 14 Colônias (2\0. Antes da nossa chegada, já havia umas quinze famílias do pessoal de Hunsrück nessa picada, ou seja, na parte dianteira, perto de onde agora é a igreja. 
Por isso, a maioria de nós foi morar lá pela região do Fritzenberg, ou mesmo nas encostas dele. Depois de nós chegaram os chamados "ingleses", ou seja, aqueles que em virtude do naufrágio haviam ficado parados na Inglaterra durante um ano. Destes, cerca de 17 famílias foram alocadas na Picada Portuguesa ou nas 14 Colônias.

1 - São José do Hortêncio
2 - Lindolfo Collor

Texto traduzido do alemão disponibilizado por Hari Klein
Foto do acervo de Moacir Johann

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