sábado, 8 de agosto de 2009

37 - Cavalos e carretas, no pasado e até hoje

A importância dos lavrantes de lombilho pode ser melhor compreendida se levarmos em conta o apego extraordinário do gaúcho pelo cavalo. Euclides da Cunha, em Os Sertões, refere-se a isto da seguinte forma: “O cavalo, sócio inseparável desta existência algo romanesca, é quase objeto de luxo. Demonstra-o o arreamento complicado e espetaculoso. O gaúcho andrajoso sobre um pingo bem aperado está decente, está corretíssimo. Pode atravessar sem vexames os vilarejos em festa.”
Para entender a linguagem de Euclides da Cunha, convém esclarecer que apero vem a ser o equipamento do cavalo: lombilho, buçal, rédeas etc. Arreamento vem a ser mais ou menos a mesma coisa. Euclides diz que o gaúcho, mesmo que esteja mal vestido não fará feio caso se apresente montado num cavalo bem equipado. Uma situação algo parecida com o que ocorre atualmente com relação ao automóvel.
Mas, voltando à carreta, vale lembrar ainda que ela não pode ser considerada uma peça de museu. Ela ainda é muito utilizada nas propriedades rurais pelo Brasil inteiro e, no centro e norte do país ainda se encontra muito aquele tipo mais arcaico e ruidoso descrito por Hörmeyer com certa perplexidade.
A carreta de bois é ainda muito usada o que permite que ainda se faça a observação viva deste meio de transporte ancestral. É curioso observar a linguagem que o carreteiro usa para se comunicar com os bois. A palavra “vastra¨ significa volta, ou seja, anda para trás é um comando equivalente à marcha a ré num automóvel. Para andar para a frente, o carreteiro usa a palavra “vamos”, mas numa versão econômica que soa como “amo”, cortando o v inicial e o s final, de forma que o som parece um grunhido, o que deve ser muito apropriado para a compreensão de um animal como o boi.
No Vale do Caí ainda existem pequenas fábricas de carretas. Uma delas pode ser encontrada no centro da cidade de Harmonia, em plena atividade.

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