Como a chuva tornou-se mais forte, os índios selvagens correram para as suas aldeias. Voltariam no dia seguinte para queimar o corpo e furar o ventre pois, segundo a sua crença, se não fizessem assim, quando o corpo inchasse o mesmo aconteceria com o corpo daquele que o matou. Levaram com eles as roupas do padre e as dos meninos índios, seus ajudantes de missa, cujos corpos jaziam ao lado do corpo do sacerdote, que eles não quiseram abandonar, pois preferiam subir com ele à bem-aventurança eterna.
Mas Pai Quirito não morrera ainda. Quando anoiteceu ele voltou a si. A escuridão era completa, chovia e fazia muito frio. Ele estava deitado sobre a terra fofa do banhado e o sangue lhe escorria de inúmeras feridas. Acima de tudo, lhe causava dor o pudor da nudez. Procurou em torno alguma coisa para se cobrir, mas não encontrou nada.
Ele estava só, com a cabeça partida, uma orelha decepada (que os índios levaram como troféu), o rosto ensangüentado, um olho vazado, o corpo moído a pancadas, molhado, duro de frio e banhado em seu próprio sangue. Conseguiu levantar-se e, arrastando-se, andou um pequeno trecho a procura de abrigo e tentando encontrar algum dos seus companheiros. Quando lhe faltaram as forças, ele se estendeu novamente sobre a terra, sentindo as dores das feridas e tiritando pelo frio, que aumentava na medida que a noite mais avançava.
Nenhum comentário:
Postar um comentário