domingo, 23 de agosto de 2009

291 - Integralistas x Guarda Municipal

Professor de história e pesquisador, Paulo Daniel Spolier é caiense e interessado pela cultura da sua terra. Ele estudou o episódio do conflito armado ocorrido no centro do Caí em 1935 e fez um belo relato deste trágico evento:
"No Brasil, capitaneado desde 1930 por Getúlio Vargas, as tendências mundiais extremistas não demoraram a aparecer. Em 1922 era fundado o PCB (Partido Comunista Brasileiro), apenas cinco anos após a Revolução Russa. Em 1932, logo aos a Revolução Constitucionalista, um grupo de intelectuais entre os quais se destacavam Plínio Salgado (O Chefe Integralista) e Gustavo Barroso (ideólogo anti-semita), criaram a Ação Integralista Brasileira (AIB), definida como um movimento que apregoava o nacionalismo, assentados no lema “Pátria, Deus e Família” como elemento unificador nacional, tendo como símbolo a letra grega Sigma (Ó) e a saudação em tupi “Anauê!”.
Com militantes organizados em moldes paramilitares, possuindo, inclusive, fardamento próprio, sendo por isso conhecidos como os “camisas verdes” – lembremos aqui que esse tipo de organização demonstra, simbolicamente, é fato, uma inspiração nos movimentos nazi-fascistas europeus: na Itália, os seguidores de Mussolini eram os temidos “camisas negras” – os integralista chegaram a possuir no auge do movimento (fins de 1937) de 100 a 200 mil filiados (FAUSTO, 2000). O integralismo tinha como inimigos declarados os capitalistas internacionais e os comunistas, contando com apoio de setores da Igreja Católica e outros segmentos conservadores da sociedade.
O integralismo teve uma aceitação fervorosa entre as colônias de descendentes de imigrantes europeus no sul do país. Surgia como uma agremiação política e ideológica que, além de seguir o modelo europeu, era tolerada pelo regime varguista (o que não acontecia com os comunistas), já que o próprio Getúlio nutria simpatias por certos preceitos do nazi-fascismo. Além disto, o integralismo era, sobretudo, uma forma destes indivíduos serem aceitos como brasileiros natos e assim poderem participar de alguma forma do cenário político.
No Vale do Caí não foi diferente. Segundo Hélgio Trindade (1974), em 1936 já haviam núcleos integralistas nas localidades de Salvador do Sul e Arroio Canoas (hoje no município de Barão). Em 1937 foi oficializado o núcleo de São Sebastião do Caí.
Porém, a Ação Integralista Brasileira já possuía membros em São Sebastião do Caí há, pelo menos, dois anos antes da criação do núcleo na cidade.
O ano de 1935 foi um ano de grandes agitações na cidade de São Sebastião do Caí. A frente do governo da municipalidade estava, desde 1932, o Sr. Athos de Moraes Fortes, nomeado intendente pelo então Presidente do Estado, General Flores da Cunha.
No dia 25 de fevereiro, domingo, organizada por grupos que provinham de São Leopoldo, Novo Hamburgo e Caxias do Sul, aconteceu na cidade uma parada da Ação Integralista Brasileira, com discursos e um desfile com marcha dos “camisas verdes” pelas principais ruas da cidade."

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