Continuemos com a narrativa de Paulo Daniel Spolier:
"O saldo desta passeata será sangrento: três mortos e dez feridos.
Em matéria, “furo” de reportagem da época, o Diário de Notícias de 26 de fevereiro de 1935 narra os acontecimentos fatídicos que iniciaram um ano particularmente violento, em matéria feita in loco por seus repórteres, algo inusitado para a época, devido às dificuldades de comunicação então existentes.
Segundo a matéria do jornal, os integralistas iniciaram suas movimentações na parte da manhã, desfilando pela cidade e depois se concentrando na Praça João Pessoa (hoje Praça Cônego Edvino Puhl), no centro da vila. De acordo com o depoimento do então prefeito em exercício, Aluísio de Moraes Fortes (irmão de Athos, o qual estava em Torres desde o dia 23, como consta informe na coluna social do Diário de Notícias do dia 24, informação confirmada pelo próprio Athos em telegrama a Flores da Cunha), após encerrar as atividades previstas, os integralistas espalharam-se pelas ruas centrais, soltando impropérios aos populares. Conta Aluízio:
— Como era natural, a atitude dos ‘camisas verdes’ provocou logo um sentimento de revolta entre os populares, alguns dos quais mostravam-se verdadeiramente indignados. Pouco depois das duas da tarde, palestrava com dois integralistas graduados, procurando fazer-lhes ver que a atitude de seus subordinados estava revoltando os populares, vi que junto a um dos caminhões onde embarcavam os integralistas se iniciara o conflito (Diário de Notícias, 26/02/1935, p. 05).
Pedro Lino dos Santos, habitante da cidade e ex-guarda municipal, que ocupava o posto de motorista da prefeitura, discutia com um integralista, sendo seguro por um guarda municipal conhecido como “Marinho”, na verdade Valdemar Fernandes Reis. Recuando cerca de quatro passos, o integralista (não identificado) saca um revólver da cinta e dispara um tiro que atinge a boca de Marinho, matando-o na hora.
Segue-se, então, cerrado tiroteio, que só irá ter fim com a intervenção do tenente Valdomiro Veledo de Albuquerque, delegado da Junta de Alistamento Militar e Comandante do Tiro de Guerra local, que, junto com alguns praças do Tiro, consegue controlar a situação. O tenente Veledo conta, ainda, que depois de ter rendido os integralistas, estes dispararam em correria, sendo seguidos pelos guardas municipais, que atiravam à queima-roupa nestes."
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