Causa impressão o fato de que desde 1912, quando Dom João Becker assumiu o comando da igreja no estado, todos os bispos gaúchos foram descendentes de imigrantes. A comunidade lusobrasileira do Rio Grande do Sul, portanto, ainda não produziu um bispo que chegasse ao comando da igreja no estado.
Isto se explica pelo pequeno contingente populacional do estado no passado e também pela precária condução que a Igreja Católica pôde dar às suas paróquias nos anos iniciais da colonização. É claro que o bispo do Rio de Janeiro, naquela época de comunicações difíceis, não poderia zelar muito bem pela condução do seu rebanho gaúcho. E este distanciamento da administração eclesiástica perdurou até o ano de 1848, quando foi criada a primeira Diocese de São Pedro do Rio Grande do Sul.
E as conseqüências deste distanciamento foram extremamente maléficas pois, conforme diz o padre Arthur Rabuske, “por volta de 1850 e ainda mais tarde a situação religiosa da igreja no Rio Grande do Sul era horrível no seio da população luso-brasileira ou tipicamente gaúcha.” Havia, inclusive, uma brutal falta de sacerdotes. O fato de existirem na província muitas localidades com denominação de santos (Santo Antônio da Patrulha, Santa Maria, São Sebastião do Caí etc), fez com que se popularizasse a observação de que a província era uma terra de muitos santos e poucos padres.
E foi neste ambiente adverso que os imigrantes alemães, chegados a partir de 1824, tiveram de exercer a sua reliogiosidade. Os católicos alemães careciam quase totalmente de assistência da igreja, já que os poucos padres que por aqui haviam não sabiam falar alemão. E os colonos não falavam o português. Os padres responsáveis pela região colonial almã eram os das paróquias de São Leopoldo e de Capela de Santana, que só se expressavam em português. Esta situação só começou a ser remediada no ano de 1949, quando chegaram ao Rio Grande do Sul os dois primeiros padres que falavam o alemão. Eram padres jesuítas: Agostinho Lipinski e João Sedlac. Eles se estabeleceram em Dois Irmãos e São José do Hortêncio, dando início ao admirável trabalho realizado por padres de origem alemã entre a colônia germânica estabelecida no Rio Grande do Sul. Foi tão admirável este trabalho que os primeiros gaúchos a se tornarem bispos foram todos de origem alemã.
É notável o efeito benéfico que a vinda destes sacerdotes teve sobre a igreja no Rio Grande do Sul e no Brasil. Os jesuítas mostraram, mais uma vez, a sua incrível capacidade de realização e promoveram uma rápida e eficiente renovação na igreja, produzindo sacerdotes de alto nível que vieram a ter papel fundamental na condução da Igreja Católica no Brasil. A vinda de muitos sacerdotes alemães - portadores da enorme carga cultural desenvolvida naquele país - e o fato deles encontrarem aqui meninos que sabiam falar o alemão, facilitou muito a transferência de conhecimentos de alto nível da Alemanha para a região colonial alemã do Rio Grande do Sul.
E a primeira região gaúcha na qual este fenômeno de transferência internacional de conhecimentos se verificou foi a do Vale do Caí. É notável o fato de que os três primeiros bispos gaúchos - todos de origem alemã - nasceram ou ao menos se criaram no Vale do Caí. Isto se deve ao fato de que por um certo tempo - entre as décadas de 1890 e 1930- o Vale do Caí era a mais florecente região colonial do estado. Enquanto que nas colônias velhas, do Vale do Sinos, permaneciam os imigrantes mais velhos, os jovens partiram, por volta de 1850 a 1890, para a colonização do Vale do Caí, que passou a viver um período de grande desenvolvimento econômico.
Tanto que foi nesta região - e a partir desta época que ocorreu a criação dos seminários do Caí, Pareci Novo, Bom Princípio e Salvador do Sul, que estão entre os mais antigos do estado. Contribuiu também para o extraordinário desenvolvimento do catolicismo nesta região o fato de que no Vale do Cai surgiram várias comunidades exclusivamente católicas, como a de Bom Principio, que se converteram em verdadeiros celeiros de vocações sacerdotais.
São muitos os exemplos de sacerdotes originários do Vale do Caí que se destacaram na condução da igreja brasileira.
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