domingo, 9 de agosto de 2009

55 - O casamento de João Pareci

Ruben Neis encontrou, nos arquivos da Igreja, um documento relativo ao casamento de João Parassi e Ana Bela, ocorrido em 1755. Quanto à noiva estes e outros documentos informam que ela era mulata e escrava de João Batista Rosa. E consta ainda que seus donos a libertaram quando foi batizada. O sobrenome Bela, ela o adquiriu da patroa, como era comum acontecer naquela época.
Para poder casar, o noivo teve de dar uma declaração na qual afirmou que nasceu na aldeia de Cuiabá, dos índios Parassis, e que era filho de pais gentios (pagãos, índios não convertidos ao cristianismo). Era natural, portanto, do atual estado do Mato Grosso. Declarou ainda que saiu pequeno da sua terra natal, indo para as minas de Parnanpanema (Neis supôs que se trate da atual Paranapanema, no estado de São Paulo), quando era ainda um menino, levado por Manoel Ferreira que o criou e o encaminhou para o batismo. O mesmo Manoel Ferreira, seu pai de criação, trouxe-o para o Rio Grande do Sul mas, tendo ido para Montevidéu, o deixou com José da Costa. Isto quando ele tinha entre nove e dez anos.
O nome de batismo de João Pareci era João Ferreira da Silva e, quando do seu casamento ele tinha 22 anos. Nesta época era oficialmente proibido escravizar os índios. Mas, mesmo assim, eles eram socialmente equiparados com os escravos e a própria igreja os registrava no mesmo livro em que figuravam os negros. Livro separado daquele que era usado para o registro das pessoas brancas. Os índios e os negros, mesmo sendo livres, costumavam ser registrados nos livros destinados aos escravos.
Muito pouco se sabe sobre o destino de João Pareci, mas é bastante evidente que foi do seu apelido que surgiu o nome da localidade de Pareci Velho e também de Pareci Novo. Não se pode imaginar outra explicação, já que não existiam índios da tribo Pareci no Rio Grande do Sul. O úncio de que se tem notícia era este que veio do Mato Grosso e, ao casar com uma escrava alforriada do fazendeiro João Batista da Rosa, foi residir na sua fazenda, provavelmente trabalhando para ele.
A palavra Pareci serviu também de nome para a Fazenda Pareci, uma enorme propriedade que se estendia tanto do lado direito quanto do lado esquerdo do rio Caí nas proximidades dos atuais Pareci Velho e Pareci Novo. A grande fazenda incluía as terras dos atuais municípios de Pareci Novo, Harmonia e Tupandi (do lado direito do rio) e partes dos municípios de São Sebastião do Caí e Capela de Santana (do lado esquerdo). Esta fazenda foi adquirida em 1801, pelos irmãos Teixeira, grandes comerciantes de Porto Alegre. E quem a vendeu para eles foi o tenente Joaquim Anacleto de Azevedo. Por que esta fazenda, que pertenceu a tantas pessoas de destaque, foi sempre conhecida pelo nome de uma pessoa tão modesta como João Pareci? Esta é uma questão que ainda não foi esclarecida.

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