sábado, 29 de agosto de 2009

349 - O sequestro

Primeiro Valfrida ouviu o barulho dos quero-queros, dando o alarme. Os galos também deram o sinal. Então o cão fiel saltou de dentro de casa para o terreiro e correu, latindo furioso, em direção ao mato. Valfrida já se preocupa com estes sinais dados pelos animais, e logo vem a confirmação dos seus maus pressentimentos: uma flecha entra pela janela aberta, transpassa a casa e vai cravar-se na parede oposta, tremulante. A mãe deita no chão da casa, arrastando com ela os dois filhos. Os três se dirigem para o quarto de dormir, onde se encontra a espingarda carregada. Ela entreabre a janela e dispara um tiro na direção do mato, esperando assim espantar os bugres. Mas não é este o efeito alcançado. Os latidos furiosos do cão cessam pouco depois. Plutão, o fiel amigo da família, é atingido por uma flecha. Os bugres permanecem no mato, a espreita. O disparo da arma não os fez fugir. Eles estavam bem informados. Sabiam que ali se encontrava apenas uma senhora e seus dois filhos indefesos. Mais uma flecha penetra na casa, pela janela. Valfrida segura a espingarda de dois canos, pronta a atirar no primeiro bugre que se atrever a mostrar sua cara na janela da casa. Mas o ataque não ocorre logo. Pelo contrário, volta o silêncio e a tranqüilidade normais do lugar. Os animais voltam a emitir os sons da normalidade. Pássaros cantam na mata. A galinha choca volta a passear pelo terreiro, com seus filhinhos. Valfrida espia pela janela, pensando que os bugres haviam fugido. Mas, então, eles surgem. De todo lado, eles irrompem da mata, avançando sobre a casa aos gritos. A porta externa da casa é arrancada por violentos golpes e logo a Valfrida se vê cercada por selvagens semi-nus. Um deles lhe arranca a espingarda das mãos. Os invasores logo começam uma destruição estúpida de tudo que se encontra dentro da casa. Móveis, louças, panelas. No pátio, abatem os animais: cavalos, vacas, porcos. Destroem tudo. Voltam à casa e reviram a casa até encontrar os dois filhos que haviam se escondido debaixo da cama. E os rostos dos selvagens dão sinais de que era isto - as crianças - que eles procuravam. Os bugres agarram Jacó e Maria que gritam pela mãe, pedindo socorro. Ela corre para eles, mas recebe um murro violento desferido por um dos invasores, que a faz cair num canto da casa, sem sentidos. Quando volta a si, ela e os dois filhos estão com os pés e mãos amarrados. São prisioneiros dos índios que ainda vasculham a casa. Encontram um estojo com jóias, que o cacique pendura no próprio pescoço.
Os assaltantes preparam depois a retirada. Carregam o que podem. As facas da casa despertam especial interesse. Galinhas, porcos e vacas são mortos e esquartejados. Os selvagens atam com cordas grandes pedaços de carne, dois a dois, para carregá-los às costas. O que não podem carregar, destroem. E, para completar, acabam ateando fogo à casa de madeira. Em minutos, é destruído tudo que a família conseguiu erguer em dez anos de trabalho incansável. Valfrida e as duas crianças são levadas pelos índios, prisioneiros.
Quando Lamberto volta do Caí, se depara com a cena tenebrosa. Chocado pela ruína que encontra no lugar do seu lar e pressentindo a desgraça que se abatera sobre os seus, ele desaba. Desmaiado, tomba do seu cavalo. Voltando a si do desmaio e do desvairio inicial, Lamberto faz um levantamento da destruição e vê, pelo chão, as pegadas de muitos pés descalços. Ele, então, grita chamando pela mulher e os filhos, na esperança de que eles tenham conseguido fugir, escondendo-se no mato. Mas não ouve resposta alguma. Lamberto percorre a mata ao redor da casa procurando pela família e nada. Vai então até a casa dos vizinhos mais próximos, a família de João Boesing, mas também lá seus familiares não estão.
Logo o alarme se espalha por São Vendelino. O povo da colônia fica sabendo rapidamente que os bugres atacaram a morada de Lamberto Versteg e roubaram-lhe a mulher e os filhos. Ao toque do sino da capela, o povo se reúne e se inteira dos fatos.

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