domingo, 9 de agosto de 2009

60 - O tigre

Na mesma obra em que fala sobre as estâncias, Nicolau Dreys conta também sobre os tigres, ou seja, as onças, que eram um dos grandes temores da população naquele tempo. Neste trecho do seu livro Memória Descritiva, que transcrevemos a seguir, Dreys fala mais da situação da zona de campo, na qual ele andava e onde morava a quase totalidade da população rio-grandense. O temor pelos tigres era ainda maior na região da selvas, como a do Vale do Caí, nas quais estas feras tinham melhores condições de enfrentar o homem graças à sua habilidade para subir em árvores e à possibilidade de se esconder.
“Os tigres são numerosos no Rio Grande, como em todas as vastas planícies da margem setentrional do Rio da Prata. Eles têm deixado, é verdade, as imediações das vilas. À medida que a população se adianta, eles recuam, como as tribos selvagens dos indígenas. Mas eles, assim como os índios, só cedem o terreno passo a passo. Rodeiam escondidos as habitações dos homens e lançam-se, às vezes, inopinadamente no meio deles para surpreender e agarrar a presa.
Os matos e as altas macegas do Rio de São Gonçalo (que liga a Lagoa dos Patos à Mirim), na sua parte mais meridional, contêm ainda numerosas famílias de tigres. Muitas vezes, navegando por este rio e parando a embarcação - como acontece quase sempre para esperar o vento - ouvíamos, nas primeiras horas da noite, os estrondosos ruídos dessas feras comunicando-se de um a outro lado do rio. Porém, os tigres parecem ser mais numerosos nas planices que se estendem do Jaguarão a Montevidéu. Nestes desertos temos achado até mesmo alguns currais de paus a pique edificados de propósito, pela providência pública, para o viajante poder se fechar à noite, a fim de poder se resguardar, com sua comitiva, da voracidade do tigre. O que, entretanto, não o livra do incômodo de ser visitado no escuro pelos tigres, que levam o seu atrevimento até ao ponto de passar as garras pelas frestas dos paus, tentando agarrar o que puderem.

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