quinta-feira, 10 de setembro de 2009

386 - Barriga assada

Histórias que Adolfo Oderich contava ao seu filho Max, e que este deixou escritas para o nosso conhecimento. Elas falam da época em que Adolfo foi caixeiro viajante, na década de 1880. Para quem não sabe, caixeiro viajante era o nome dado aos profissionais que, hoje, são chamados de representantes comerciais. Vendedores que fazem a intermediação comercial entre as fábricas e os lojistas.
"Ser caixeiro viajante representava verdadeiro suplício, pois além de vendedor, o viajante, simultaneamente, também era cobrador. A falta de agências bancárias era absoluta. Nem mesmo sabia-se o que isto significava. Tempo em que o vil milréis valia mais que a libra esterlina. Lapso de tempo muito curto, mas suficientemente longo para deixar todo viajante comercial com a pele da barriga em carne viva. A razão? Simples. Os negociantes pagavam suas faturas com libras esterlinas: moedas de OURO. E, como reza o Pai Nosso, não nos deixai cair em tentação, os peões dos viajantes eram muito honestos. Mas o seguro morreu de velho, e assim mesmo morreu. A prudência mandava usar a guaiaca (melhor seria dizer as guaiacas) debaixo da camisa. Assim fazia o Senhor Adolfo, meu pai. Com o calor reinante, poeira, suor, eterno jingar da montaria nas infindáveis léguas que separam essas paragens ainda hoje consideradas longínquas da capital do Estado, não havia pele humana que aguentasse o tranco. Sabemos que alegria em casa de pobre dura pouco. E assim os nossos viajantes deram graças ao bom Deus quando o milréis voltou ao valor normal."

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