Outro motivo era o de proporcionar ao país um novo contingente de mão de obra livre e qualificada, para substituir a mão de obra escrava. Importar escravos africanos estava se tornando cada vez mais difícil, devido ao repúdio internacional à prática da escravidão.
Já naquela época (a década de 1820, quando o Brasil se tornou independente), a escravidão era condenada pelos países mais avançados da Europa e o fato de continuar com a escravidão era motivo de vergonha para o império brasileiro.
No início do século XIX, a presença de negros no Rio Grande do Sul era marcante. Em 1819, cinco anos antes de iniciar-se a imigração alemã, viviam aqui 26.010 negros e 32.000 brancos. Nas colônias alemãs instaladas nos vales dos rios dos Sinos e Caí os colonos estavam proibidos, pelas leis da província, de empregar mão de obra escrava. Afinal, se fora para acabar com a escravidão que os imigrantes haviam sido chamados para o Brasil, seria contraditório que essa aberração social persistisse entre eles. Em virtude disso, o número de negros nas áreas mais caracteristicamente coloniais do estado é reduzidíssimo, até mesmo nos dias atuais.
Lá pelo início do século XX, o comerciante Jacob Klein, que morava no Pareci Velho, resolveu visitar alguns parentes em Poço das Antas. Foi a cavalo, trilhando as estradas precárias, caminhos e picadas existentes na época. Nas proximidades do Morro Paris, no interior de Montenegro (hoje interior de Brochier), ele ficou em dúvida numa encruzilhada e resolveu pedir informações a um homem negro que passava pelo local. Mas, Jacob tinha uma certa dificuldade em falar o português, já que foi criado, desde a infância, no meio dos alemães. Quando se dirigiu ao homem, ele teve de fazer um esforço e, falando vagarosamente, escolhendo as palavras:
- Por favor - disse ele. - É esse o caminho para o Poço das Antas?
Ao que o negro, fazendo um gesto de escusas, respondeu:
- Ich verstebe nichts brasilianich (Eu não entendo nada de brasileiro).
Os poucos negros que vieram para a colônia alemã, tiveram de assimilar a cultura e língua predominante na região e, muitos deles, tal como os colonos, tinham o alemão como sua língua de uso principal. Do português, conheciam muito pouco.
Conta-se, também, a história de um político da nossa região que, sabendo falar muito bem o alemão, tirava proveito desta qualidade quando visitava os colonos para pedir-lhes voto. Chegando, certa vez, a uma casa de colonos, viu no pátio um menino negro.
- Bom dia - falou o visitante.
O negrinho respondeu apenas com um aceno de cabeça.
- O patrão está em casa? - perguntou então o homem.
O negrinho limitou-se a virar a cabeça para o lado da casa e chamou:
- Komm hea, Hear Weber. Do ist ein bloa do un te will mit dir aspreechen (Vem cá, seu Weber. Tem um brasileiro aqui e ele quer falar com o senhor).
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