A saga de Jakob Weissheimer e sua família contém episódios que parecem ser parte do roteiro de um filme:
No dia 10 de abril daquele primeiro ano de vida no Brasil, 1826, Jakob encilhou o cavalo que havia comprado e foi até a Feitoria, onde pretendia fazer algumas compras. A saída do homem da casa foi a oportunidade que os bugres esperavam para atacar. Eles, por certo, vinham há dias observando aquela gente branca que viera se instalar na mata que eles, antes, dominavam sem contestação.
No final da tarde, Jakob ainda não havia retornado. Maria Magdalena e a menina Gertrud estavam cuidando do trabalho doméstico. Foi então que os índios atacaram casa, vindo de todos os lados ao mesmo tempo. Numa ação muito rápida, os silvícolas prenderam Magdalena e Gertrud no interior da choupana e foram embora. Não as agrediram nem furtaram qualquer objeto, mas levaram com eles o pequeno Adam, o filho de Jakob e Magdalena que havia nascido durante a espera no porto de Hamburgo e que agora tinha pouco menos que um ano de idade. Logo que pode entender o que acontecia com o filho, Magdalena disparou a gritar, o que chamou a atenção dos vizinhos, que vieram em sua ajuda. Gertrud saiu correndo pela estrada até encontrar Jakob, que já vinha retornando para casa. Logo Jakob e alguns colonos vizinhos organizaram uma expedição para tentar encontrar o menino raptado. Mas foi em vão. Os selvagens conheciam a mata como ninguém e sabiam onde esconder-se. Jakob voltou até a feitoria para apelar ao administrador da colônia. Haviam sido criadas Companhias de Pedestres, uma espécie de força policial que tinha por objetivo defender os colonos do ataque dos bugres. O pedido de Jakob foi atendido e, ainda naquela mesma noite, um grupo de componentes da Companhia de Pedestres se apresentou na casa da família Weissheimer. Na manhã seguinte, o grupo, reforçado por Jakob e alguns colonos vizinhos, saiu em busca dos índios raptores, tentando reaver o menino. Levavam armas, munição e alimentos, além de cães farejadores. Não tardou muito para que os latidos dos cães chamassem a atenção dos perseguidores para um determinado ponto, no meio da mata. Ali encontraram o corpo do pequeno Adam. O seu crânio estava fraturado. Os experientes bugreiros (como eram conhecidos os homens que formavam a Companhia de Pedestres) explicaram o que havia acontecido. Com fome e cansado, Adam começara a chorar. E, como o seu choro poderia fazer com que os índios que o levavam fossem localizados pelos seus perseguidores, eles trataram de matá-lo. Para isto, algum índio o segurou pelas pernas e bateu sua cabeça contra uma pedra. Outros casos semelhantes já haviam acontecido antes.
O menino foi levado para casa, morto, aumentando o desespero da mãe. Magdalena, que já havia perdido a filha na viagem de navio, agora via também o seu filho morto. Neste momento, por certo, Jakob e Magdalena se arrependeram de haver deixado sua terra natal em busca de uma vida melhor no Brasil. Mas, que fazer, voltar era quase impossível. Eles não teriam o dinheiro necessário para pagar a viagem e nem incentivo do governo brasileiro para isto.
Os índios, que reagiam à pretensão dos brancos de ocupar as matas nas quais eles antes viviam em liberdade, eram os Güianeses, os mesmos Caingangues que hoje vivem em reservas, no norte do estado. Na época do descobrimento do Brasil eles viviam principalmente nas matas do atual estado de São Paulo. Expulsos pelos colonizadores portugueses, eles migraram para o sul, chegando até o atual território gaúcho. As matas que cobriam os vales do Sinos e Caí eram seus redutos preferenciais, pois ali eles encontravam caça abundante e frutas colhidas diretamente das árvores nativas. Para dominarem estas matas, os Caingangues tiveram de lutar contra os Tapes, que ali viviam originalmente. Agora, com a ocupação das suas matas pelos colonos brancos, os índios reagiam em desespero, pois tornava-se pequena a área que eles dispunham para caçar e catar os seus alimentos.
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