Egídio Weissheimer, na sua admirável obra, nos descreve a saga dos imigrantes de forma emocionante, ao mesmo tempo que analisa brilhantemente o modo como ocorreu a imigração alemã no Rio Grande do Sul:
A chegada à Feitoria não representou o fim dos problemas para a família Weissheimer. Eles tiveram de esperar ainda algum tempo até que o administrador da colônia, José Thomaz de Lima, determinasse o lote de terras no qual poderiam se estabelecer. Jakob Weissheimer, ao invés de estabelecer-se num lote situado na margem direita do Rio dos Sinos, como fazia a maioria dos colonos, preferiu uma área do lado esquerdo do rio, próxima à atual localidade de Lomba Grande. Nesta região ainda havia muito mato. Isto era sinal de terra fértil, mas onde havia mato existia maior perigo de ataque por parte dos bugres, ou seja, dos índios que ainda habitavam as matas da província naquela época e que se mantinham selvagens. O que atraiu Jakob para a área que ele escolheu foi a existência ali de um arroio, o Guary. Ë que ele já planejava construir um moinho e, para isto, o arroio era fundamental.
A antiga Feitoria tinha, além do prédio central da administração, vários outros, bastante rústicos, nos quais funcionaram senzalas, ou seja, acomodações nas quais viviam os negros escravos. Com a desativação da Feitoria, estes prédios ficaram vagos e serviram para acomodar os colonos enquanto não se decidia qual o lote que caberia a cada família. Quando Jakob escolheu a sua terra, ele e a família foram levados para um destes antigos prédios que ficava mais perto da área por ele escolhida. Assim, eles podiam ficar por ali enquanto Jakob preparava o terreno e construía uma casinha que servisse para acomodar a família. A administração da Feitoria fornecia alguns homens para ajudar neste trabalho inicial, mas os homens ficavam ajudando por poucos dias, já que eram muitos os colonos que chegavam. A construção não era mais do que uma choupana: quatro paus fincados no chão e quatro traves (como as das atuais goleiras do futebol). As paredes eram feitas com varas extraídas da mata e as fendas que sobravam entre elas, tapadas com barro. Na cobertura, as ripas eram de taquara e, no lugar de telhas, se colocava capim ou folhas de palmeiras. No interior da choupana, o piso era de terra batida. Mesas e cadeiras rústicas eram feitas de troncos de árvores. Na cama, igualmente rústica, o colchão inesistia, sendo substituído por folhas de palmeiras. As roupas, que eram poucas, ficavam penduradas em pregos fincados nas paredes. A cozinha ficava numa outra choupana construída nos fundos da casa. Temia-se que um incêndio provocasse a destruição da casa. Não havia fogão. O fogo era de chão e as pane1las ficavam sobre ele, penduradas numa vara horizontal que era sustentada por duas estacas dotadas de forquilhas.
Ao redor da casa, a mata precisava ser derrubada, deixando a terra limpa para as plantações. O trabalho era feito com machado, foice, facão e enxada. Terminada a construção da choupana e aberta uma pequena clareira na mata ao redor da morada, os trabalhadores cedidos pelo governo foram embora e Jakob pode trazer sua família para o novo, e precário, lar. Havia muito trabalho para fazer, mas a fertilidade da terra permitia sonhar com um futuro promissor.
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