sábado, 17 de julho de 2010

843 - Navegação em águas rasas


Acima de São Sebastião do Caí, o rio se torna raso, encachoeirado e corre entre montanhas. É ruim para a navegação, mas as paisagens se tornam maravilhosas (foto tirada no Balneário Harmonia)

De Porto Alegre ao Caí, o rio era perfeitamente navegável, graças à Barragem Rio Branco. Situada alguns quilômetros rio abaixo de Pareci, ela foi concluída em 1906 e era dotada de uma eclusa que permitia a passagem dos barcos. Foi a primeira barragem com eclusa construída na América do Sul, o que dá uma idéia da importância que teve o Vale do Caí naquela época. A região colonial alemã (que incluía Arroio do Ouro, Forqueta, Vale Real, Feliz, Bom Principio, São Vendelino, São José do Hortêncio e Vigia, entre outras localidades) era uma das mais ricas produtoras do país, destacando-se por pelo cultivo do feijão, alfafa e banha. O Vale do Caí também abastecia Porto Alegre de lenha, galinhas e de madeira para a construção e mobiliário.
Até a década de 1960, o Vale do Caí abastecia o exército nacional de alfafa. No tempo da cavalaria, a alfafa era o combustível que permitia o deslocamento das tropas e tinha, por isso, grande valor estratégico. Tanto que o governo federal construiu no Caí um grande prédio para depósito do produto. É o prédio situado na esquina da rua Oderich com a General Câmara, que de 1982 a 2008 foi utilizado pela fábrica Leitz. O depósito de alfafa pertencia ao exército e era administrado por oficiais. Trata-se de uma construção notável devido aos grandes arcos que sustentam o telhado, permitindo que ela tenha poucos pilares. Ficou desocupado por vários anos, depois que o exército deixou de aproveitá-lo. Até que ali se instalou a fábrica Leitz.
No final do século XIX e na primeira metade do século XX o porto do Caí era intensamente movimentado. Por volta do ano de 1950 Bernardo lembra ter visto sete a oito gasolinas (embarcações com motor a gasolina) atracadas no porto da cidade, nas duas margens do rio.
A navegação, entretanto, só era possível até a cidade do Caí, onde havia uma praia que servia como porto natural. Um dos únicos lugares em que as margens do rio não eram constituídas de barrancos altos. O que, nos demais lugares dificultava o trabalho de embarque e desembarque. Um pouco acima, o rio se torna encachoeirado.
Os rios, antigamente, cumpriam a função de estradas. Dizia-se que o rio é uma estrada que anda. E, segundo Bernardo, rio e arroio precisavam ser constantemente arrumados (conservados), assim como acontece com as estradas. Nos temporais, por exemplo, árvores caiam sobre o rio, impedindo a passagem dos barcos. O povo mesmo, em casos como este, providenciava a “arrumação” necessária. Antigamente, devido às precárias condições da administração municipal, era o povo também que arrumava as estradas. Para se ter uma idéia, pelo ano de 1950 a prefeitura do Caí dispunha apenas de alguns veículos e nenhuma máquina para cuidar das estradas e o município era enorme, abrangendo todas as terras da margem esquerda do rio Caí, desde Capela de Santana até as imediações de Gramado. E também no lado direito do rio, de Feliz para cima, incluindo a localidade de Santa Lúcia do Piaí, hoje pertencente a Caxias do Sul. Bom Princípio, nessa época, pertencia a Montenegro, assim como Tupandi, Harmonia e Pareci Novo.
Para cuidar das estradas que serviam todo o seu vasto território, a prefeitura dispunha (pela década de 1950), apenas de dois pequenos caminhões tombadeira e um trator.

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