sábado, 17 de julho de 2010

844 - Tropas de gado pelas ruas da cidade

Tropas de gado eram tocadas por cavaleiros, percorrendo as estradas que são hoje ruas centrais da cidade, como a Esperanto e a Osvaldo Aranha.

Bernardo Padeiro conheceu ainda uma picada (caminho estreito, aberto no meio do mato) que era usada pelas mulas. Ela passava por trás da atual Zona do Meretrício, dirigindo-se para o norte. Era, portanto, um caminho livre de enchentes pelo qual se chegava à ponte de ferro de Feliz depois de passar pela Vigia e Escadinhas.
Com as tropas de porcos acontecia que um homem ia na frente, a pé, levando um porongo cheio de grãos de milho, e chamando os porcos. O milho, jogado no chão, atraía os porcos que, desta forma, seguiam pelo caminho certo. Outros homens ajudavam a conduzir a tropa, cuidando para ela não abrir (espalhar-se). Os porcos eram muito gordos e alguns não resistiam à jornada, morrendo no caminho.
Inicialmente os porcos trazidos até o Caí eram levados de barco para Porto Alegre. Com o tempo foram se desenvolvendo fábricas de banha que passaram a abater os porcos no Caí. A partir de 1908, a fábrica de conservas da Oderich também passou a promover o abate de suínos e de gado bovino. Um outro tipo de indústria que se desenvolveu na cidade foi a de escovas, que utilizava as cerdas - pelos - do porco como sua principal matéria prima.
Nas fábricas de alimentos havia fiscais que examinavam as condições de saúde dos animais antes do abate. Porcos que eram trazidos mortos podiam ser aproveitados se a causa da morte era a estafa e não alguma doença contagiosa. Animais que não podiam ser aproveitados iam para a graxeira. Depois de bem cozida, esta carne era aproveitada para a alimentação dos porcos que ficavam presos num mangueirão, nos fundos da fábrica Oderich. Local que hoje se encontra ocupado pelos prédios mais novos da fábrica. Por volta de 1950 havia ali, ainda, dois grandes mangueirões: um para os porcos e outro para o gado bovino. Henrique Fetter era, nesta época, o tropeiro chefe das tropas de gado bovino que vinham para a Oderich.
Vinha muito gado para ser abatido na Oderich e, nesta mesma época, a maioria dele chegava de trem, sendo desembarcado na estação férrea do Pareci Velho. Dali os animais eram tropeados pela estrada da Barra do Cadeia e chegavam à cidade pela atual rua Esperanto. Vinha na frente um tropeiro (Atalíbio Monteiro) alertando as pessoas para se abrigarem em suas casas, pois sempre havia gado arisco e perigoso no meio da tropa. Sílvia Fritzen (proprietária da Imobiliária Klein), quando era ainda uma menina, certa vez se viu em perigo numa destas ocasiões e foi salva pelo tropeiro, que a apanhou pelo braço e a colocou em cima do seu cavalo, evitando que o gado a pisoteasse. A mesma Sílvia lembra também de uma ocasião em que Bernardo acudiu a ela e outras crianças numa situação semelhante, colocando-as na sua carroça. A passagem das tropas pela cidade (que durou até o final dos anos 50 do século XX) era ainda mais perigosa pelo fato das casas não serem muradas como hoje. E, geralmente, nem sequer cercadas. Casas mais finas, no entanto, tinham muros ou cercas de madeira. Certamente para evitar o perigo de invasão por parte de animais desgarrados das suas tropas.

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