A cidade de São Sebastião do Caí se desenvolveu devido ao seu porto. Num tempo em que matos fechados cobriam todo o Vale do Caí e ainda não existiam estradas, a navegação pelo rio Caí era o único meio de transporte viável. Mas o rio não era navegável em todo o seu percurso. Logo acima da cidade existem três cachoeiras que dificultam a navegação. Por esse motivo o porto de São Sebastião do Caí se desenvolveu muito. Era o último ponto a que se conseguia chegar, rio acima, sem maiores obstáculos à navegação. Adiante, só se chegava em canoas que podiam ser carregadas pelos remadores quando estes se deparavam com cachoeiras.
O Vale do Caí, graças à laboriosidade e aos conhecimentos técnicos dos colonos alemães (que começaram a se estabelecer na região pouco antes de 1850), tornou-se uma das mais ricas regiões de produção agrícola do país. Depois vieram os colonos italianos (a partir da década de 1870), fixando-se na região serrana e também demonstrando grande capacidade produtiva.
Tanto os colonos alemães como os italianos utilizaram o porto do Caí por muitas décadas, impulsionando o comércio e a indústria na cidade. Inicialmente, os colonos transportavam seus produtos até o porto carregando-os no lombo de mulas (única forma de escoar a produção pelas estreitas picadas abertas no meio do mato). As mulas cargueiras andavam em fila, lideradas por uma delas, mais experiente e conhecedora do caminho, que ia na frente e tinha uma sineta pendurada no pecoço (chamada de cicerro). Assim como acontecia com o cavalo Segredo, A mula madrinha carregava os mantimentos dos tropeiros, inclusive panelas, talheres e roupas. Eles dormiam e faziam suas refeições na beira da estrada. As mulas cargueiras, geralmente, eram usadas em grupo, andando em fila e orientadas por um homem ou mais. Um conjunto de mulas assim conduzido era chamado de cargueiro.
Para quem não sabe (e é a maioria) mula é o nome que se dá à fêmea do burro. Trata-se de um animal híbrido resultante do acasalamento de um jumento (parente do cavalo com menor porte: média de 1,3 metro de altura) com uma égua. A mula, em regra, não tem capacidade de se reproduzir. Mais tarde, na medida em que as estradas foram sendo melhoradas, passaram a utilizar carroças e, finalmente, com o surgimento dos caminhões com motor diesel (por volta da década de 1940) o transporte de carga passou a ser feito predominantemente em caminhões.
Mas no caso da produção animal (principalmente a de suínos) o transporte era feito pelo sistema de tropeio.
Os porcos eram tropeados pelas estradas que vinham das colônias (Hortêncio, Feliz, Nova Petrópolis, Caxias do Sul) e cruzavam a cidade para chegar ao porto do Caí. E isto aconteceu até por volta do ano de 1950. Pode se imaginar a imundice, o mau cheiro e o perigo que este tropeio acarretava para a cidade. Mas os caienses não podiam queixar-se dessa atividade, que representava a possibilidade de emprego e de renda para a maioria dos seus habitantes.
As tropas de gado bovino também passavam pela cidade. Vindas da zona da campanha (no sul do estado), elas se dirigiam a Caxias. Mas em certas épocas o fluxo era diferente, vindo gado da região dos Campos de Cima da Serra (especialmente de Vacaria) em direção a Porto Alegre. Mas isso era mais raro. O cachorro desempenhava um papel importante no tropeio do gado bovino. Treinado, ele ia atrás dos animais que se desgarravam da tropa, e os trazia de volta.
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