sábado, 17 de julho de 2010

847 - Vício Mortal

O livro Bernardo Padeiro conta a história do Caí como foi vista, e vivida, por ele

Bernardo teve o vício da bebida por muitos anos. Ele começou a beber em 1952, quando voltou do exército e passou a trabalhar no Caí. O hábito de beber começou pelo consumo de uma caipirinha feita com mel. Isto porque quando o mel era extraído dos favos, acontecia de alguns deles se quebrarem. Então era costume colocar um pedaço de favo num copo, socá-lo e depois completar o copo com cachaça e suco de limão. Também no trabalho da padaria, antes do almoço, era costume tomar uma “serrana”, que vinha a ser um limão socado dentro do copo, ao qual se adicionava açúcar e mel e completava com cachaça. Começando assim, ao longo de décadas, ele foi desenvolvendo o hábito que, aos poucos, transformou-se num vício incontrolável.
Ele era amigo dos Variani, proprietários da Churrascaria União e da Tratoria Di Variani. Vindos de fora, os Variani muitas vezes serviram-se dos préstimos de Bernardo para diversos serviços. Em troca lhe franquiavam o almoço, sempre regado a vinho. Com o tempo, ele foi comendo menos e aumentando a dose de vinho. Emagreceu muito, principalmente depois que se aposentou e passou a trabalhar apenas na chácara.
Na época, era vendida muita cachaça de má qualidade, feita em alambiques precários, sem controle da sua salubridade. No armazém do comerciante Faustino Frozi os alcoolistas da cidade costumavam bater às cinco e meia da manhã, em busca da bebida, aproveitando-se do fato deste comerciante ser o único que abria seu comércio tão cedo. No seu serviço de padeiro, Bernardo passava por aquele armazém cedo da manhã e, ao longo de anos, pôde observar e conhecer vários alcoolistas que iniciavam ali a sua jornada diária de embebedamento. E viu como todos eles morriam cedo. Chegou à conclusão de que mulheres que bebiam morriam aos 45 anos e os homens aos 50.
Na zona de prostituição do bairro Rio Branco, que Bernardo visitava diariamente para vender pão e o jogo do bicho, a média de vida das prostitutas que bebiam era de 45 anos.

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