domingo, 29 de agosto de 2010

968 - BR-116 agita a localidade pacata

Com o asfaltamento da BR-116 surgiram o movimento, o progresso e o café colonial

"Até quase o final da década de 1930, o centro de Morro Reuter era uma área única, formada pelo casario em poucas ruas, pelos potreiros e pelas plantações de verduras e frutas. Quando começou a ser implantada, a estrada federal cortou os potreiros ao meio, como aconteceu com a propriedade de Albino Sperb, que tinha gabo par abate. O trabalho de chão batido, a partir de 1937, desenhou o destino do lugar, que nessa época passou a receber os primeiros postes trazendo a energia elétrica. Conforme a topografia da região, a estrada atravessou áreas de rochas de basalto. Aneldo Bauer, foi um dos moradores contratados pelo DNER para o trabalho de abertura da rodovia para quebrar os blocos de pedra, que eram removido das margens em carroças puxadas por bois.

Em 1942, Affonso Sebastiany era aluno do professor Francisco Weiler em Picada São Paulo. Ele lembra que nesse ano o presidente Getúlio Vargas e o coronel Theodomiro Porto da Fonseca, delegado de São Leopoldo, fizeram em Morro Reuter a inauguração simbólica da ligação ainda sem asfalto entre Porto Alegre e Caxias do Sul. Foi uma solenidade em que todos os alunos do Professor Weiler cantaram hinos átrios em homenagem a Getúlio.

Mesmo sem asfalto, que só veio a partir de 1956, a estrada federal permitia a procissão diária de carros e ônibus. Todos os que saíam do Rio Grande do Sul para chegar ao centro do país passavam por Morro Reuter. Isso fez surgir na margem direita a Estação Rodoviária, com amplo restaurante, primeiro administrada pelos Sperb, depois pela família Ott. Logo em seguida de um lado e de outro da estrada, apareceram os estabelecimentos que definiram o perfil adquirido pelo lugar nos anos 50 e 60.

Para estabelecer e se alimentar, motoristas e passageiros consolidaram a parada obrigatória. Com isso se beneficiaram os pequenos agricultores das redondezas, que passaram a plantar frutas e flores, vendidas pelos filhos na frente da Rodoviária, entre as dezenas de ônibus e carros estacionados. Todos os dias vinham veículos a caminho de Caxias, Gramado, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio. Quando era época de Festa da Uva ou Festa das Hortênsias, a parada em Morro Reuter fervilhava de gente, indo para a Serra ou voltando para a região de Porto Alegre. Por cerca de duas décadas, entre 1950 e 1970, a venda de moranguinhos na BR-116 completou a renda familiar e fortaleceu o caráter da gurizada que oferecia frutas para os turistas de excursões, passageiros de linhas regulares de ônibus e qualquer pessoa que passasse pela estrada federal, onde o ponto de convergência era o prédio da Estação Rodoviária. Os moranguinhos vinham recém-colhidos dos canteiros cultivados pelas famílias. Cada menino, ou menina recebia uma quota de pratinhos para vender. Precisavam ter poder de comunicação, senso de humor e presença de espírito para conquistar compradores.

Celestino Graeff sempre foi o mais convincente, logo vendia rodo o estoque. Disputavam clientes, entre outros guris, os futuros prefeitos José Paulo Meyrer e Wilson Flademir Reinheimer, além dos quatro irmãos Heylmann – que se esmeravam e não gostavam de levar prato cheio nem desaforo para casa. Entre as gurias, estavam Elaine Heylmann, futura vereadora e depois vice-prefeita, e Nívia Closs, futura secretária municipal da Saúde. Pais e mães construíram uma pequena pirâmide de moranguinhos em pratos que eram esvaziados na frente do Freguês. Ainda não existia o filme plástico para embalar os frutos, então era preciso equilibrar um prato em cada mão, sem derrubar nenhum morango. Esgotada a quota, tinham que voltar até a horta para trazer novas pirâmides vermelhinhas.

Quando alguém gritava “chegou outra excursão!”, todos corriam para oferecer seus produtos. Nos meses de inverno, além dos morangos, a gurizada de Morro Reuter vendia pencas de bergamotas, traçadas pelos pais com cuidado extremo. Meninas como Vera Deimling vinham da Linha Görgen para vender flores, margaridas, e copos de leite principalmente. Às vezes, além do sucesso nos negócios, pintava alguma gorjeta. Era, então, a hora de comemorar com um refrigerante no restaurante da Rodoviária."

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