"As determinações do Ministério da Educação trouxeram às localidades de Morro Reuter professores nomeados para dar aulas em português, com as novas cartilhas. Padres e pastores reagiram, se exaltavam nos sermões, em defesa das escolas paroquiais. Um ofício enviado em 2 de março de 1941 pelo vigário de Dois Irmãos ao prefeito de São Leopoldo revela a extensão dos conflitos gerados pela Campanha de Nacionalização: “Não posso impedir que fundem a tal da escola na Picada São Paulo, ao meu ver desnecessária. Se, porém, a querem fundar, deixem de fazer funcioná-la até ter um prédio, ou aluguem uma casa, até ter própria, como foi feito no Walachai e mo próprio Dois Irmãos. Ao meu ver, se prestaria a sala de Henrique Arnecke. E seria um grande favor para toda a população católica de Picada São Paulo não colocar o prédio escolar perto da Igreja, como, aliás, quanto eu sei, estão pretendendo”.
No final, o padre reconhece que o processo de implantação de escolas públicas leigas, será irreversível: “Espero também no futuro poder viver em boa harmonia com as autoridades, mas respeitem meus direitos de sacerdote. Enquanto me restar sopro de vida, serei defensor intrépido das aulas paroquiais, verdadeiros seminários de vocações sacerdotais e religiosas e de homens lídimos e patriotas a toda prova”. Depois da II Guerra, com a queda de Vargas e a redemocratização do Brasil, aos poucos a rede escolar pública substituiu as escolas paroquiais em Morro Reuter.
Ainda durante a guerra, os colonos descendentes de alemães precisaram demonstrar que eram lídimos cidadãos brasileiros e patriotas a toda prova. Em 1942, a comoção nacional contra a Alemanha chegou ao auge. O ataque alemão a navios brasileiros em 17 de agosto levou o governo a entrar em conflito mundial. Nas pequenas comunidades rurais, isso significou um período de medo, perseguições e ameaças. Entre as informações, que chegavam desencontradas ou distorcidas à colônia, em Porto Alegre estavam depredando as lojas e fábricas de descendentes de alemães e atacando nas ruas quem era alemão. Ninguém mais podia falar alemão em público nem ter em casa qualquer coisa vinda da Alemanha, principalmente aparelhos de rádio. E os colonos passaram a esconder até os hinários sacros e edições alemãs da Bíblia no milharal ou entre as batatas nos galpões. O depoimento de Alma Wittmann, que em 1942 tinha dois filhos pequenos, leva às recordações amargas dos tempos de guerra: “Na primeira vez que eu ouvi falar de Hitler, desmaiei. Tinha muito medo dele, era nojento, por causa dele nos proibiram de falar alemão na colônia. Os chefes e gerentes de repartições do governo, que eram brasileiros, diziam que iam levar presos os que falassem em alemão. Passavam, silenciosos, para ver se a gente estava falando o dialeto dentro de casa. Graças a deus, depois da guerra, voltamos a conversar em alemão sem medo”.
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