domingo, 6 de fevereiro de 2011

1108 - Dona Amália Noll e o cinema na Feliz

Filmes falados em alemão, como Sissi a Imperatriz, fizeram grande sucesso no cinema de dona Amália Noll
Amália Noll nasceu na cidade de Feliz, em 16 de março de 1903, filha de Ernesto Noll e Ana Maria Ruschel. Faleceu aos noventa anos e está enterrada no cemitério católico da Feliz, mas a sua memória é ainda muito viva pelos atos culturais por ela incentivados.
Amália foi uma mulher que muito cedo assumiu sua identidade de mulher forte e ousada para a época. Ainda muito jovem foi perfeita na arte de fotografar. Ia para Porto Alegre ou São Leopoldo treinar e adquirir experiência. Possuía bons aparelhos e não perdia ocasião para registrar todas as ocasiões interessantes e foi praticamente uma pioneira na arte de registrar acontecimentos. Foi ela que registrou a grande enchente do ano de 1941; fotografou a visita do Dr. Getúlio Vargas, presidente da República, na passagem pela Feliz, na década de trinta. Registrava passeio de amigos pelo Rio Caí, de encontros da turma em passeios, festa de casamento, retratos de famílias e tantos outros momentos. Quando ia para o interior, a chamado de uma família, ela se vestia com roupas de homem, pois a profissão de fotógrafo não era trabalho aceito para mulheres.
Amália nunca se casou. Com a morte dos pais, ela assumiu a casa-mãe da família Ruschel, na época uma bela propriedade, construída pelo imigrante Sebastião Ruschel . No local situava-se a casa comercial de Jacob Ruschel. Com a morte precoce deste, Amália assumiu a propriedade, pois morava no local. Por muitos anos ela gerenciou um pequeno comércio de secos e molhados. Mais tarde alugou algumas peças para diversos fins, como sala do dentista Ivo Assmann, sala para instituto de beleza de Hardy Tempass. Foi ali que se instalou por primeiro o Sindicato Rural de Feliz. Mas o que fazer do grande salão onde funcionou outrora a casa comercial? Durante muitos anos ele transformava o local em salão de baile, atendendo pessoas que não eram associadas na Sociedade Cultural de Feliz e para oferecer mais um local de entretenimento.
Mas Amália acompanhava a evolução dos tempos. E foi então que ela pensou em proporcionar para o povo de Feliz uma diversão que só existia em cidades grandes. Importou direto da Alemanha uma máquina de projeção de filmes. Era uma moderna e famosa Bauer. Isto pelos meados de 1960. Foi grande a sensação em toda a redondeza. Quem não vinha ao cinema da “Malche”? Assistir aos filmes de Teixeirinha, Tarzan, Mazzaropi, e o famoso Noviça Rebelde e os roteiros de Sissi, A Imperatriz.
Mas, havia alguns problemas que ela soube resolver. Os técnicos da máquina, para cuidar da projeção, eram pessoas do lugar. Primeiro foi o Bino (cujo sobrenome não se tem certeza), depois Zeca Spier, seguido de Evaldo Trein e mais tarde Cláudio Schmitz. Certamente o trabalho de técnico de exibição de vídeo ajudou muito a Cláudio Schmitz a descobrir os segredos da imagem, já que é, nos dias atuais, um dos mais renomados fotógrafos do Vale do Caí.
As fitas que vinham em grandes tubos de lata, eram enviados por ônibus, de Porto Alegre, por Astrogildo Ströher e na rodoviária de Feliz eram buscados de carrinho de mão, pelo jovem Cláudio.
Schmitz nos conta que, tendo sua mãe trabalhado na casa de Amália, ele como guri assistiu ao desenrolar dos acontecimentos. Como na época, havia filmes proibido para menores, em dias de sessão, Amália passava no salão ás cincos horas e mandava todos os menores para fora da sala de cinema. Quando o filme era próprio para crianças, ela oferecia uma sessão pela tarde.
Casa sempre lotada, muitas vezes um filme era reprisado uma, duas, três ou mais vezes , até todos os interessados pudessem  satisfazer sua curiosidade. Sentados em bancos de madeira ou cadeiras de palha, era silêncio total ao começar o ruído da máquina. E, no melhor do filme, lá se ia a sequência e arrebentava a fita. O que ocorria por serem já muito usadas e seu aluguel mais barato, as fitas facilmente arrebentavam. E “ Malche “ aproveitava para vender umas balas ou alguma gasosa, na luz de uma lanterna. Refeito, o estrago,  continuava a rodagem  do filme.
Nos anos de 70 ela parou de oferecer a diversão pela precariedade do local e também por ela já estar cansada dos compromissos. Ficou só com o atendimento no balcão com poucos produtos para pessoas que transitavam pela casa em salas alugadas.
Com sua saúde abalada ficou internada, em seus últimos dias, em casa de saúde em Novo Hamburgo.
Assim como foi a passagem de Amália no século vinte, assim também a importante casa dos Ruschel foi do apogeu à ruína, para grande sentimento de uma boa parte da família, que não tiveram oportunidade de a preservar. Inúmeras vezes foi feito um trabalho conjunto com o patrimônio público de preservação e destinação de locais históricos, como esta propriedade, 
para fins culturais, sempre sem êxito.


Texto de Paula Solange ten Cate

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