Os colonos alemães transformaram mato fechado que cobria
o Vale em área cultivável, com esforço, coragem e perseverança
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Graças aos imigrantes alemães e italianos, por constituírem a maior leva dentre as demais etnias que compuseram este estado, se forjaram núcleos habitacionais de progresso e prosperidade em várias regiões do Brasil meridional. Toda vez que surgiam dificuldades em sua pátria, os colonos europeus procuravam novos desafios, imigrando para outros lugares em busca de um futuro melhor para suas famílias.
Para o imigrante alemão, as dificuldades e os sofrimentos já começavam na Europa, quando se dirigiam até um porto em busca de um veleiro que os levasse até o Rio de Janeiro. Partiam do Rio de Janeiro em barcos menores, que os levavam até o porto de Rio Grande. Daí viajavam em vapores até Porto Alegre, onde também aguardavam os trâmites oficiais de imigração e o lanchão que os levava até São Leopoldo.
Do povoado até São Leopoldo eram conduzidos até o casarão da Feittoria do Linho Cânhamo, onde eram alojados até receberem seu quinhão de terra para colonizar. O martírio aí durava meses, devido a politicagem na distribuição de lotes de terras mais férteis e melhor localizadas. Da Feitoria Nova até a encosta da serra gaúcha, seu deslocamento se fazia com muita dificuldade, a pé, a cavalo ou de carreta através de picadas abertas na densa floresta da região.
Já o imigrante italiano, que chegou ao estado a partir do ano de 1875, se dirigia de Porto Alegre até o porto de São Sebastião do Caí, via barco a vapor. De São Sebastião do Caí o colono italiano rumava, para a serra gaúcha, se deslocando a pé e a cavalo pela vegetação fechada e cheia de animais silvestres e do temível bugre, em busca de seu chão.
Os colonizadores muito sofreram em seus deslocamentos em busca de novas terras para cultivar. Viajavam semanas e semanas pelo rincão gaúcho, atravessando acidentes geográficos como montanhas, riachos e rios, com muita dificuldade. No novo torrão ermo não haviam recursos como medicamentos, mantimentos, etc. pois tudo era desabitado. Encontravam somente mata fechada e muitas vezes, os índios guaranis ou caigangues.
A cada nova aventura, tudo tinha que ser recomeçado: construir nova cabana provisória - usualmente feita com troncos, galhos e palha e o que estivesse ao alcance imediato - para se proteger da natureza, fazer novo cercado e preparar a terra para cultivar o seu sustento. Trabalhavam de sol a sol, de pés descalços, calças e camisas arregaçadas. Cobriam a cabeça para se protegerem do sol escaldante. Toda a família trabalhava na roça.
O colono sempre foi um abnegado, um sonhador e um lutador. Nunca se deixou abater. Pena que, ao longo de tantos acontecimentos posteriores nas décadas que se passaram, aquele colono de olhos no futuro e mãos em suas necessidades urgentes, teve, de certa maneira, seus valores relegados e esquecidos pelas gerações posteriores aculturadas pela vida moderna.
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Texto de José Adalíbio Fell
Foto do acervo de Felipe Kuhn Braun
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