domingo, 1 de junho de 2014

4086 - A Estrada Rio Branco e os imigrantes

No Porto do Guimarães, os imigrantes transferiam seus poucos pertences para carroças, mulas e carretas e seguiam para os lugares onde haviam barracões de imigrantes, no passo da Boa Esperança, na Picada Feliz, em Nova Milano, Nova Palmira, em São Luiz da Terceira Légua  e no Campo dos Bugres.
 Deixavam as famílias em algum destes barracões onde havia lugar e seguiam para o seu lote de terras( as vezes citado como “prazo”) normalmente de 24 ha, que correspondia a uma colônia, ou 12 ha, correspondente a meia colônia. Lá deveriam receberda diretoria da colônia uma casa de madeira provisória. Estando pronta a casa, voltavam para buscar a família no barracão. Subiam por uma picada aberta na “montanha da torre”, chamada também de “morro Cristal” ou “morro Caxias”.

Carta de Bortolo Gaggio, reclamando do transporte  e dos pouco apoio aos imigrantes. Fonte: Arquivo Nacional

Fonte: ADAMI, J.S. Historia de Caxias do Sul,1962, p.34 


O preço do lote variava de 2 a 8 contos de réis de acordo com o arbitramento e memorial descritivo do agrimensor. Na colônia Caxiasforam vendidos 3.500 lotes entre 3 a 4 contos de réis(MACHADO, 2001, p. 48).
Os imigrantes, tinham muitas vezes de enfrentar as enchentes do Rio Cahy, cujas águasavançavam sobre a estrada, construída muito próxima da margem, ora impedindo o tráfego de carretas e mulas, ora pelos atoleiros que ficavam, quando o rio baixava, ou mesmo quando as enchentes carregavam as pontes construídas, principalmente sobre o Arroio do Ouro e o Arroio Pinhal.
Eram freqüentes as reclamações e os pedidos para concertos da estrada em função dos atoleiros, tanto na Câmara de São Sebastião do Cahy, quanto na Comissão de Terras e Colonização da Colônia Caxias. O principal trecho de atoleiros ficava entrea casa de Miguel Ledur e Pedro Wiltgen, próximos de Bom Principio, verificados através das sucessivas solicitações de recursos para a manutenção da estrada junto à Câmara de S. S. do Cahy.
O primeiro traçado da estrada passava muito próxima do rio Cahy, estando sujeita a seguidas inundações e alagamentos. Segundo MASSON (1940, p. 31), "estando a estrada Rio Branco mal localizada, é facilmente atingida pelas enchentes do rio Caí, o que a torna um verdadeiro sorvedouro de verbas para conservação, o governo do estado prolongou a Júlio de Castilhos até a sede do município. fazendo-a passar por zona mais apropriada, e ligando-a à estrada de São Leopoldo."
A solução encontrada foia construção da estrada Julio de Castilhos, que partia de São Leopoldo, passava por Portão, São Sebastião do Cahy e encontrava a estrada Rio Branco no Km 14, já em Feliz. A estrada passava por Vigia, Escadinhas e Feliz. A Julio de Castilhos seguia por Alto Feliz(Morro das Batatas ou Santo Inácio), Nova Milano, Nova Vicenza (Farroupilha), Vila Jansen, Nova Roma do Sul, Alfredo Chaves (Antonio Prado) até Vacaria, dali seguia para Lagoa Vermelha e terminava em Marcelino Ramos.
Em vários trechos, a estrada Julio de Castilhos aproveitou o traçado da Estrada Rio Branco, como de Vigia a Escadinhas, do passo da Esperança até Kautenbach (Arroio Feliz) e de Capão Alto até Vacaria.

Num relato da época, compilado por Álvaro Franco, há a descrição do percurso da família de José Eberle, do Porto dos Guimarães até o Campo dos Bugres :

“ Era aí que se organizavam as tropas de mulas, as quais trilhando picadas, vencendo escarpas, resvalando em sulcos mal abertos, por entre despenhadeiros que se comprimiam um junto ao outro, como em crispações de uma natureza desenfreada, galgavam o platô ridente, em que hoje está situada a cidade de Caxias, então minúsculo agrupamento de colonos, denominado Campo dos Bugres. . . . Entre os tropeiros que, nesta época gozavam de grande fama, sendo considerado um dos melhores vaqueanos da região, incluía-se um tal Giuseppe Leonardi, vulgo Nonnez. À sua larga experiência e zêlo José Eberle resolveu confiar a tarefa de transportar sua familia e a preciosa carga que trouxera da Itália( Abramo Eberle tinha 4 anos, e seu irmão, Eugênio, 6 anos. José Eberle perdeu uma filha Maria Luiza, de pouco mais de um ano, sepultada nas matas virgens do vale do Caí, no caminho para o Campo dos Bugres ). E assim os Eberle foram incluídos numa dessas tropas de cargueiros e, grimpando por um morro a pique, onde havia sido loteada a chamada 3aLégua, lá foram rumo a seu novo destino, representado pela incipiente colônia Campo dos Bugres. ”(FRANCO, 1943, pp. 40-41)

          Outro episódio relatado da relação entre os imigrantes e os meios de transporte da época foi o que aconteceu com Bortolo e Vittore Gaggio. Numa reclamação endereçada ao Inspetor Geral de Terras e Colonização, no Rio de Janeiro, reclama das condições em que se deu o transporte dele e de sua família, desde a Itália.

Eu abaixo assinado, declaro a todos quantos que no mês passado eu tive que pagar uma soma de 412,50 liras em ouro para embarcar no vapor Belgrano.As paradas foram as seguintes: Em Sao Sebastião do Caí, 2 dias, o transporte de São Sebastião para Feliz, montados numa carroça com a esposa e três filhos, e eu segui caminhando ao mesmo tempo,um filho nasceu ali em  05 de maio de 1878. Em Feliz ficamos por três dias, o transporte para Palmira foi montadoa cavalo e a pé.A parada de Palmira foi de 8 dias, e o transporte de Palmiraaté o campo (Campodos Bugres), minha esposa grávida, você tinha que andar tendo sobre seus ombros uma criança de 3 anos e, felizmente, teve que permanecer ali em meio a grande floresta.
Declaro que fui aocampo para receber fornecimento por 10 dias e foi suficiente apenas para 5 dias. Não quero me alongar e junto a esta estão os recibos de pagamento.
Me declaro seu servo,GaggioBortolo , em 05 de maio de 1878.
FONTE: Fundo DB/Agricultura/dep.311, caixa 24, Arquivo Nacional
À regia comissão encarregada:
Na viagem de São Sebastião ao Campo dos Bugres, nós fomos maltratados. Nossa família de 11 pessoas recebeu comida para 6. Recebemos comida para 10 diase quenão foi suficiente para 5.
De São Sebastião ao Campo dos Bugres, a viagem foi feita em 17dias com as respectivas paradas nos respectivos barracões. Do barracão de Nova Palmira ao Campo, fomos forçados a percorrer a estrada com um pouco de café e pão preto, e assim forçados a viajar por todo o dia até o acampamento. O transporte nas mulas foram para 7 pessoas e os outros 4 foram a pé.  Ilustrissimo Excelentissimo, Eu faço o dever de apresentar aqui o recibo do dinheiro que eu paguei na Itália para o embarque, ou seja, a soma de 1.158.75 francos em ouro.
Eume resigno,De vós seu digno servo, GagioVittore, em 13  de junho de 1878.

             FONTE: Fundo DB/Agricultura/dep.311, caixa 24, Arquivo Nacional

Texto extraído de estradariobrancohistoria, site de Luiz Ernesto Brambatti

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