domingo, 1 de junho de 2014

4087 - A estrada Rio Branco I

Traçado da Estrada Rio Branco em 1915 - Mapa do Exercito. Fonte: Arquivo Nacional

Desde a colonização alemã do vale do Caí já havia o acesso para das Villas de São José do Hortêncio à Picada Feliz (Linha Feliz), de Nova Petrópolis para Nova Palmyra e de Linha Christina para Feliz (1867), uma vez que a colonização alemã ali se instala entre 1846 e 1850.  Em 1854, os colonos alemães já utilizavam o passo da Esperança, na Picada Feliz, para chegar até o porto de Dona Theodora[1], no Rio Cahy para levar sua produção:
Tive a honra no dia 12 do corrente de receber o officio de V.Excia. datado de 12 do mesmo , no qual ordena o quanto antes me  apresentar à Contadoria Provincial  a fim de prestar contas  da quantia de três contos de reis que recebi dos Cofres Provinciais em diferentes prestações, sendo a última  em março do ano passado para reabertura da estrada que conduz do passo da Esperança ao porto de D. Theodora, no rio Cahy.
Exmo. Sr. Meus desejos são de muito as ter prestado se não fosse os tropeços que tenho encontrado na falta de trabalhadores.
ASSINA: Antonio José da Silva Junior – Administrador dos trabalhos da Estrada
(Fonte: Maço 09, caixa 05, Obras Publicas, Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul)


 


A primeira referência encontrada de construção de parte do que seria mais tarde a estrada Visconde do Rio Branco foi em oficio de 11 de maio de 1854, onde José Antonio da Silva, administrador dos trabalhos de estradas, informa ao Presidente da Provincia de São Pedro do Rio Grande do Sul, Dr. José Lins Vieira Cansanção de Sinimbu, que viria a ser o Ministro da Agricultura e Obras Publicas do Imperio, no Rio de Janeiro, no período da colonização italiana,as contas com a abertura da estrada que vai do Passo da Esperança ao porto de Bernardo Matheus, no rio Cahy.
Levo as mãos de V. Excia. a conta e documentos com que provo as despesas feitas com a abertura da estrada que do Passo da Boa Esperança na Picada da Feliz segue ao porto de Bernardo Matheus, no rio Cahy acima, com as estivas feitas na sua estrada. A ponte e outros melhoramentos estão em andamento e conto brevemente dar a V;Excia a última conta. Deos guarde a V. Excia. em 11 de maio de 1854: ASSINA: Antonio José  da Silva Junior – Administrador dos trabalhos da Estrada
Fonte: Maço 09, caixa 05, Obras Publicas, Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul.

A primeira picada que se tem noticia que subiu em direção à futura Colonia situada a fundos de Nova Palmyra foi aberta, segundo Adami, por Antonio Machado de Souza, em 1864, o qual firmou residência no local onde está localizado o centro da cidade de Caxias. Em 1871, l.uiz Antônio Feijó Junior, “recolheu amostras de terra e fibras naturais, para serem examinadas nos laboratórios da Corte e verem do que eram capazes de produzir” (ADAMI, Historia de Caxias do Sul, de 1864 a 1970, TOMO I, 1970, p. 79), medida necessária antes de iniciar a colonização. Dizem os antigos que Feijó também expulsou alguns índios na região, que nessa época já eram poucos. ( SANOCKI, 2002,p.62)

Luiz Antonio Feijó Junior era estancieiro da Fazenda “Estaleiro”, município de Triunfo. Após trabalhos realizados , solicitou a governo três Léguas quadradas nas localidades de Conceição e São Marcos, onde loteou e vendeu para os imigrantes. Estes o chamavam de “Conde Feijó”. Adquiriu do Governo os lotes n. 18 e 19 do Travessão Santa Tereza da 5ª Légua, em 1885.Adami se refere a Feijó como “O Visionário”, por ter sido ele, segundo o autor, quem levou ao governo da Provincia a idéia de mudar a sede da Colônia, inicialmente em Nova Milano, para o “Campo dos Bugres”, atual centro de Caxias. Seu nome consta do Monumento Nacional ao Imigrante. ( SANOCKI, M. 2002, p.62, apud GARDELIN, 1992, p.90)

Spadari Adami, um dos historiadores de Caxias do Sul, cita que ”assim era esta região ainda em 1875, quando os imigrantes, que também podem ser considerados como primeiros povoadores, começaram a chegar à base do Morro Cristal, então conhecido como Morro da Torre, em Nova Palmira, e chegaram à primeira, Segunda e Terceira Légua, já medidos pelos agrimensores, e conhecidos após pelo nome de Núcleo Colonial aos Fundos de Nova Palmira. ” (ADAMI, Caxias do Sul, 1957)
As medições de terras na nova colônia começaram em 1874, portanto, para chegarem ao Campo dos Bugres, os agrimensores já usavam a picada aberta na montanha, pelo Morro Cristal da Terceira Légua, pois já havia acesso de São Sebastião do Caí até Nova Palmira, e ir de Nova Palmira ao Campo dos Bugres era mais perto do que ir de Nova Milano.
Embora a Colônia Caxias pertencesse ao município de São Sebastião do Caí, a construção das estradas de acesso (viação externa) e estradas vicinais(viação interna) das Colônias ficava a cargo da Diretoria da Comissão de Terras e Colonização da Colônia, vinculada à Inspetoria Especial de Terras, sediada em Porto Alegre, que por sua vez, estava vinculada à Inspetoria Geral de Terras e Colonização do Império, no Rio de Janeiro, pertencente ao Ministerio dos Negocios de Agricultura e Obras Publicas . Esta estrutura de organização das Colônias perdurou até 1906.
O engenheiro Chefe da Comissão era a autoridade máxima da colônia, “ a quem cabia coordenar os trabalhos de demarcação, dirigir todos os negócios e serviços da Colônia que iam desde a expedição dos títulos provisórios e definitivos de propriedade à arrecadação da renda da Colônia, passando pelo emprego dos imigrantes nos trabalhos de construção de estradas” (MACHADO, 2001, p. 42).            
Quando da formação da Republica, em 1889, a construção e conservação de estradas estaduais passou para a Diretoria de Viação da Secretaria de Obras Publicas do Estado do Rio Grande do Sul.







[1][1][1] Dona Theodora é a referencia de Dona Teodora Antônio de Oliveira, que em 1836 comprou de Bernardo Mateus metade de sua sesmaria, que era de 272 ha, ou seja, comprou 136 ha. No lugar onde é hoje São Sebastião do Caí. O lugar de embarque e desembarque, no rio Caí, foi conhecido em meados do século XIX também como porto Thedora. (Historias do Vale do Caí. Blospot, postagem n. 529, acesso em 05 de maio de 2013)

Extraído do blog estradariobrancohistoria, de Luiz Ernesto Brambatti

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