segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

5037 - Entrevista com o Doutor Cassel 4

Doutor Cassel com amigos numa mesa animada a Pepsi e cerveja Brahma Extra


FN - Desde quando o senhor começou a participar da política? Começou logo como prefeito?
CASSEL - Não. Não. Olha. Eu sou um cara que nunca gostou de política. Eu não devia gostar. Eu tinha por princípio não me meter em política. Na revolução de 1923, quando eu era ainda um menino de 12, 13 anos, os meus familiares eram maragatos e sofreram bastante. Os meus irmãos mais velhos tiveram de ir para a revolução, Houveram perseguições contra a nossa família e eu me revoltei muito contra esta coisa toda. Por isto, não queria saber de política. Eu vivia aqui no Caí muito bem sem me envolver com estas coisas. Só tive problemas por causa da guerra, quando eu e o Dr. Olavo Leão defendíamos os colonos alemães contra as perseguições bem desagradáveis por causa disto. Mas depois, com o fim da guerra e da ditadura, em 45, surgiram os novos partidos. O Getúlio fundou o primeiro PSD, depois PTB.
Um dia, chegou na minha casa, a mesma em que, hoje, o Dr. Bernardo tem o seu consultório o Valter Jobim que era muito amigo da minha família. Ele era um dos principais líderes do PSD gaúcho. E eu devia favores a ele. Ele veio junto com o Dr. Oscar Carneiro da Fontura e me falou o seguinte: “Olha Cassel, eu não conheço ninguém aqui no Caí. Eu vou te deixar esta papelama porque tu tens conhecidos na cidade e nós precisamos fundar o PSD local. Eu não tenho tempo para fazer isto. Tu vais ter que te virar e fazer isto para nós? Eu tentei cair fora: “Mas Valter”, falei, “eu não entendo nada deste negócio”.
“Não interessa”, ele disse, “nós não temos tempo pra fazer isto. Te vira”. E foram embora.
Então eu fiquei com aqueles papéis e pensei: “O que que eu  vou fazer com isto?”. Fui falar com o seu Aloísio Fortes e ele se decidiu a encaminhar o negócio. Fizeram reuniões e acabaram fundando o PSD caiense.
Naquele tempo, ainda era o único partido que existia por aqui. Todo mundo era do PSD.
Depois Getúlio fundou o PTB, e, com isto, criou uma situação, difícil. Primeiro, ele havia lançado a candidatura do Valter Jobim pelo PSD e depois lançou a do Alberto Pasqualini. Com isto a campanha foi muito disputada, uma verdadeira guerra. O Jobim acabou vencendo por uma diferençazinha muito pequena. Coisa de 16 a 20 mil votos.
Pra mim, a escolha do candidato foi até difícil, porque o Pasqualine era muito amigo meu. Nós havíamos morado junto na mesma pensão, em Porto Alegre. E o Valter Jobim eu conhecia de Santa Maria, pois ele, embora sendo de Porto Alegre, morou por lá, onde foi promotor público.
Eu tive de votar no Jobim porque era do PSD.
E assim eu fui me envolvendo na política do Caí. Naquele tempo, o nosso Município era muito grande. Incluía Nova Petrópolis, Feliz, Portão. Era um enorme dum Município. Logo que eu cheguei, tinha até um distrito, Santa Lúcia de Piaí, que, pra chegar lá, tinha de passar  por Caxias.
Aconteceu até que o Dr. Egydio Michaelsen, quando era prefeito foi, uma vez, de auto, visitar Santa Lúcia, mas a estrada era muito ruim e perigosa e o auto capotou e foi rolando em direção ao rio. Pouco antes de cair no rio, a porta se abriu e fez uma alavanca segurando o auto e impedindo a sua queda. O pessoal que estava no auto teve muita sorte. Poderiam ter morridos todos. Só quem saiu machucado foi o Juiz de Direito da época, O Dr Armando, que sofreu uma fratura de rótula, ou coisa assim. Estavam junto, além do Dr. Egydio e do Dr.  Armando o delegado da Junta  de Alistamento e o motorista, o seu Alexandre, um velhinho que tinha por aí e era o “chofeiro” da Prefeitura.
Com esta o Dr. Egydio pegou aquilo e largou nas mãos de Caxias. Ele disse: “Não quero mais”. (Ri) Nós gozamos muito do Egydio. Dizíamos pra ele: “O susto foi tão grande que tu resolveu atirar Santa Lúcia nas costar de Caxias”. Ele entregou o distrito caiense para Caxias sem nenhuma compensação. Mas fez muito bem. Não havia condições de manter um distrito como aquele. Tão distante da sede.
A primeira eleição democrática que se realizou para a escolha de prefeitos depois da candidatura de Getúlio, foi feita em 1948.
Já existia, então, a UDN no Caí: era o Clóvis Kroeff. A UDN aqui, era o Clóvis Kroeff e o Mauro Selbach (Ri). Tinha também o PTB que era mais forte. O Dr. Orestes e muitos outros elementos do PSD deixaram o partido e acompanharam o Getúlio quando este criou o PTB. Os operários, principalmente, eram muito pelo Getúlio e entraram para o PTB. Os operários, principalmente, eram muito pelo Getúlio. Naquela primeira eleição, tinha muita gente  do PSD querendo se candidatar. Eu nem pensava nisto.
Quando estavam faltando apenas uns dias para as eleições, os outros partidos (PRN, UDN, PTB), fizeram uma reunião e lançaram um candidato, o seu Libino Ruschel, da Feliz. Ele era um homem muito bom, mas vivia na colônia. Não tinha jeito para administração pública.
Com esta coligação dos outros partidos, a turma do PSD se assustou. Ninguém mais queria se candidatar. Daí o pessoal veio pro meu lado, querendo que eu fosse o candidato. E, para não desagradar a turma, aceitei.
Interesse em ser prefeito eu não tinha. Minha preocupação maior era com a medicina, que eu não queria deixar de lado para cuidar da administração. Mas então eu pensei: “Não custa nada concorrer. Eu vou perder de todo jeito. Isso não vai me atrapalhar”. Me candidatei só prá não desagradar os amigos. E, por infelicidade, ganhei (Ri).

Matéria publicada pelo jornal Fato Novo na sua edição 
de 13 de dezembro de 1984

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