domingo, 25 de fevereiro de 2018

5310 - A primeira praça de Nova Petrópolis


A Praça das Flores é um marco iniciais da cidade de Nova Petrópolis


A planta da sede colonial da antiga “Colônia Provincial de Nova Petrópolis”, projetada em 1858, já apresenta uma quadra de 10 mil m2 destinada a ser a “Praça Central” do núcleo urbano. No lado leste da quadra vizinha, um espaço destinado à construção da Igreja da “religião oficial do Império”.
O conjunto de quadras do núcleo urbano previa uma área verde, no leste, constando de uma “sobra”triangular denominada pelos imigrantes de “Dreispitz”. No lado sul, mais uma “sobra” de forma retangular, entre as quadras e a Colônia Nº 1. No lado oeste, uma vasta área de 24 hectares formava o “logradouro público”, simbolicamente doado pelo Imperador D. Pedro II à população urbana. Além do logradouro, estavam 6 “chácaras” das quais esperava-se o fornecimento de alimentos para a sede urbana. No lado norte iniciavam os lotes da “Linha Povoação” que se estendia até o início do atual “Bairro Piá”, onde iniciavam os lotes da “Linha Imperial”. 
O destino dessas áreas públicas foi o seguinte: A sobra triangular “Dreispitz”, foi concedida a um colono. A sobra triangular do lado sul foi vendida em 1904 ao Cel. Alfredo Steiglich e a Sociedade do Tiro ao Alvo. Quanto ao Logradouro Público foi loteado ilegalmente pelo Município do Caí em 1955 quando Nova Petrópolis se tornou independente. O processo se encontra nos arquivos da Prefeitura, mas jamais foi contestado pelo município, acabando por “legalizar-se” por “concordância tácita” (silencioso, calado).
Sobrou a quadra central onde hoje encontra-se a Praça da República” ou popular “Praça das Flores”.
Originalmente o terreno era muito acidentado e completamente despido de vegetação, pois o grande incêndio de 02 de dezembro de 1858 provocado pela queimada das derrubadas oficiais da sede, consumiu todas as árvores ali existentes. Parte do terreno era composto por rochas o que não dava um aspecto muito agradável a “praça”.
Uma lenda espalhou-se entre os imigrantes sobre aquele local. Contava-se que os primeiros caboclos que chegaram ao local junto com o agrimensor Dr. José Maria Vidal, encontraram uma tribo de índios acampada no local. Não houve qualquer ação agressiva e os selvagens permitiram que os estranhos acampassem nas proximidades.
Certo dia uma índia deu a luz a gêmeos o que causou uma grande comoção na tribo. O pai com os dois meninos nos braços, levou-os ao cacique. Este os examinou detalhadamente para apontar um deles. O outro ficou nas mãos do cacique enquanto o pai levava o bebê designado até um grande pinheiro. Tomou-o pelas pernas e esmagou-lhe a cabeça contra o tronco da árvore. Os caboclos ficaram chocados e o Dr. José Maria Vidal perguntou ao cacique o motivo de um ato tão violento. O índio fez-se entender por gestos, que gêmeos trariam desgraça e maldições sobre a tribo e caberia ao pai livrar a tribo deste mal.
A praça na sua parte mais elevada, junto a atual “Avenida 15 de novembro” recebeu algumas mudas de árvores exóticas no início do século: um carvalho, plátanos, cinamomos, mas em 1922 durante as comemorações de 1º Centenário da Independência e o 4º aniversário da Colonização, foi plantado solenemente um carvalho no centro da quadra e semeadas sementes de Pau-Brasil numa caixa. Era o símbolo do imigrante alemão e da população nativa desenvolvendo-se lado à lado. Uma placa comemorativa em Português e Alemão também foi descerrada.
Durante o culto festivo o Pastor Ackermann durante sua prédia afirmou: “assim como existe um Deus no céu, este carvalho deverá crescer. Resultado: o carvalho morreu. Foi replantada outra muda algum tempo depois. Quanto ao Pau-Brasil, as sementes vingaram e estavam sob os cuidados dos alunos da “Aula Pública Federal” da professora Elisabeth Pintovsckeg (Seibt). Durante o período das férias a caixa com as mudinhas foi entregue ao Sub-Intendente que era a autoridade máxima da época, onde seriam cuidados até o final das férias. Certo dia a “mula do Sub-intendente decidiu experimentar o gosto daquelas folhinhas desconhecidas... ali se foi o Pau-Brasil. Até a placa alusiva à festividade sumiu tendo a Prefeitura resgatado os seus dizeres e fixado nova placa no monumento atual.
No ano de 1942 a população da Linha Imperial inaugurou a celebre Praça Padre Amstad que foi construída pelos moradores durante todo ano de 1941. O exemplo dado surtiu efeito na sede distrital e um grupo de cidadãos entusiasmou-se decidindo imitar o pessoal de Linha Imperial e construir uma praça na sede também. Certo dia um pelotão de aproximadamente 50 pessoas de todas as idades, munidas de ferramentas, carrinhos de mão, carroças de bois, iniciaram solenemente a grande obra. Não demorou o cansaço tomou conta, a luta era muito dura e as pedras atrapalharam. Durante uma semana o ardor cívico continuou, mas foi diminuindo pouco à pouco, finalmente não veio mais ninguém.
Sabendo do fato o Prefeito de Caí, Dr. Egidio Michaelsen designou uma turma que continuou o trabalho até surgiu um espaço livre e plano de 50 X 50 metros. No centro foi erguido um grande mastro de eucalipto para o hasteamento da Bandeira nos dias festivos.
Em 1942 foram também plantadas duas fileiras de álamos, tendo mais ou menos 30 metros cada uma, ao longo da Rua Rui Barbosa, desde o espaço livre até a esquina da Rua 7 de setembro onde havia uma rocha. Ainda no mesmo ano as escavações continuavam vagarosamente, feitos por alguns trabalhadores, contratados pelo Caí e pelos presos da cadeia local. Dos presos que vieram para este trabalho eram infelizes e falavam em alemão, o que era proibido no tempo da 2ª Guerra Mundial. O trabalho transcorreu bem, ninguém se feriu e as coisas eram feitas na maior calma.
Em 1943 o Prefeito do Caí, Dr. Egídio Michaelsen, pouco antes de renunciar o mandato, concedeu à população de Nova Petrópolis, brinquedos diversos a serem montados na praça. Na época ela estava dividida na parte plana, das comemorações cívicas e a parte alta, onde havia algumas árvores. O local foi escolhido para receber os brinquedos. Durante muitos anos a garotada divertia-se naquele local.
O carvalho replantado em 1923 no centro da praça, vingara e tornara-se uma bela árvore. Nas suas imediações os ciganos costumavam armar seu acampamento e os circos usavam a parte onde hoje se encontra as flores.
Quando foi construída a RS 235 grande parte da praça foi escavada pelos tratores da empreiteira encarregada do serviço. Os brinquedos foram removidos para o local onde hoje estão os canteiros. Com a emancipação em 1955 a praça também sofreu alterações, principalmente em 1957 quando o município se preparava para a grande festa do Centenário em 1958.
A maior parte da área foi nivelada. A segunda pista da Avenida foi iniciada na quadra da praça. Os álamos foram retirados sendo o espaço dividido em grandes canteiros onde cinamomos proviam a sombra. Um monumento foi erguido no local destinado as os dois níveis e uma cancha de esportes foi colocada na parte baixa. Na esquina da Rua 7 de setembro com a Rua Frederico Michaelsen uma casinha de madeira continha dois grandes trcomemorações cívicas e toda a praça foi cercada com jacarandás. Os brinquedos permaneceram no local. Uma arquibancada de pedra separava ansformadores da CEEE. Nos anos seguintes várias árvores foram plantadas nos espaços disponíveis. Os jacarandás das partes altas não resistiram ao inverno e foram substituídas por outras.
A poda equivocada do cinamomo acabou provocando a sua morte e durante o 1º Mandato do Prefeito Evaldo Michaelsen de 1969-1972, eles foram removidos. Os brinquedos foram transferidos para o centro da área e no seu lugar surgiram os primeiros canteiros com flores. Naquela época a Prefeitura adquiriu mais um espaço para praça: um potreiro entre a Rua Cel. Alfredo Steglich e D. Pedro II. Decidiu-se transferir os brinquedos para lá, tornando-se aquele espaço a “Praça dos Brinquedos”. Mais um conjunto de canteiros para flores foi implantado no espaço agora disponível e mudas de jacarandás foram plantados para fazer sombra.

Decidiu-se também transformar os acessos ao centro da praça em “túneis verdes ou floridos”. Desde então foram plantados todos as espécies exóticas ou nativas disponíveis dando o local as suas funções atuais, tudo isso na serra gaucha.

Professor e historiador Renato Urbano Seibt

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