domingo, 25 de fevereiro de 2018

5312 - A conribuição dos Brummers para a educação

Michaelsen  (1995, p. 39) destaca a importância que os soldados Brummers, que aqui chegaram com um bom nível de instrução trazido da Alemanha, tiveram para a educação na região colonial. “Em 1872 Carl von Koseritz observou que mais da metade dos professores das colô- nias alemãs eram Brummer e foram eles que educaram muitos teuto-brasileiros que tiveram atuação destacada na vida gaúcha, no período de 1872 até 1920.” Entre esses mestres se destacam Koseritz e Wichmann, em Pelotas; Michaelsen e Oye, em Nova Petrópolis; Roehe em Campo Bom; Jurgensen, em Mundo Novo; Emílio Meyer, em Novo Hamburgo, todas cidades do Rio Grande do Sul. Kreutz (2003, p. 163) cita o jornal Deutsches Volsblatt, que em edição de 19 de janeiro de 1922 faz referência à formação cultural dos Brummer, os quais, além de dominarem diferentes línguas, contribuíram substancialmente para o associativismo, a difusão da imprensa e a participação política, com ideias e posições precisas sobre a organização econômico-social e política, formando, com isso, uma elite intelectual entre os imigrantes alemães, os quais, ao se destacarem nos concursos para professor estadual, promoviam a melhoria do magistério na época. Ainda conforme Kreutz: Por volta de 1870, mais da metade dos professores na colônia era Brummer. No ano de 1853 casei e decidi fundar minha escola, por conta própria. Inicialmente tinha nove alunos e mais tarde treze. Entre estes o futuro profeta e médico milagroso J. Maurer, esposo da famosa Jacobina. Consegui elevar os meus rendimentos de 500 réis para 6.500 réis mensais. Naquele cargo privilegiado acabei adquirindo um cavalo por 12 Mil réis. Lamentavelmente o pobre animal tinha um olho só e rengo de uma perna. João Jorge Maurer, citado por Costa (2004, p. 115), relata: Um colono analfabeto que um dia afirmou ter ouvido vozes celestiais que o aconselharam a curar seus semelhantes. Ex-auxiliar de curandeiro João Jorge se tornou famoso na região como o “wunderdoktor” doutor maravilhoso. Jacobina Maurer, sua mulher, era acometida por crises de ausência, sonambulismo e ataques do tipo epilé- tico, sintomas associados na colônia à capacidade de curar. Essas curas levaram à formação de um grande grupo de seguidores, composto de mais de setessentas pessoas, moradores no morro Ferrabrás, no atual município de Sapiranga - RS, que passaram a ser conhecidas como Muckers ou, na memória local, um grupo de faná- 78 REP - Revista Espaço Pedagógico, v. 16, n. 1, Passo Fundo, p. 71-84, jan./jun. 2009 78 ticos. Criaram uma espécie de comunidade isolada e, em razão de uma forma própria de viver, que não seguia o protestantismo nem o catolicismo, religiões nas quais a colônia alemã se dividia, passaram a ser hostilizados pela população. Esse grupo, em 1873, passou a ser liderado por Jacobina, acabando por serem mortos num combate que reuniu colonos e soldados. Continua a crônica de Frederico Michaelsen: No dia 1º de maio de 1854 assumi como professor na Linha Hortêncio, conhecida como “Picada dos Portugueses”. Ali eu assinei um contrato por quatro anos, recebendo a moradia e terras para plantar, além disso um salário fixo de dez Mil réis mensais. Devia lecionar para todas as crianças da comunidade cujo número oscilava entre 30 e 40. Estas davam suas contribuições mensais em moedinhas que somavam 13, 14 ou 15 Mil réis. Além das minhas tarefas como professor estava ao meu encargo o serviço da Igreja nos domingos quando o pastor estivesse ausente. Este vinha de São Leopoldo, cada três meses. Eu presidia as devoções, fazia as leituras bíblicas e a leitura dos sermões além de iniciar os cânticos da comunidade. Por esse trabalho recebia 20 Mil réis por ano e de cada membro da comunidade uma “quarta” de feijão preto7 e duas quartas de milho, in natura. Renda extra: numa festa de noivado recebi “uma pataca”8 para fazer o discurso oficial, além de ter o direito de comer e principalmente beber à vontade! Mas a minha bagagem espiritual! Levei vazia para casa. (Michaelsen mencionou “sacola espiritual” do que o leitor pode deduzir que nada aprendeu de importante naquela festa de modo e levá-la vazia para casa). No dia 1º de maio de 1858 este contrato brilhante chegou ao final. Sua renovação por mais quatro anos significou um aumento de dois Mil réis mensais de modo que passei a receber doze Mil réis fixos, e anualmente de cada associado o dobro em produtos agrícolas: 2 quartas de feijão preto e 4 quartas de milho, mas tive que assumir o compromisso de conseguir prédicas novas pois as antigas estavam muito maçantes! Naquele período aconteceu a fundação de Nova Petrópolis (1858) e os imigrantes que vinham da Pomerânea, Saxônia e França ficavam retidos em “Linha do Hortêncio”, pois não podiam tomar posse imediatamente das suas terras. Se os novos colonos tivessem algum dinheiro eu teria feito bons negó- cios, pois morriam em grande número, principalmente as crianças, e como não havia pastor no local o professor atendia aquelas funções. Mas pela graça de Deus todos aqueles foram entregues à terra. (Nota: Frederico Michaelsen presidia os enterros gratuitamente, pois os colonos eram muito pobres).

MEMÓRIAS DE UM PROFESSOR Luiz Alberto de Souza Marques 

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