segunda-feira, 26 de abril de 2010

822 - Ivone Weber: uma grande educadora

Dona Ivone, quando era diretora da escola mantida pela fábrica Azaléia para os seus funcionários, tornou-se amiga do gerente da indústria Luis Alberto Oliveira (clique na foto)

Ivone Weber foi, talvez, a mais notável educadora caiense. Ela foi professora e diretora de diversas escolas caienses, além de secretária municipal de educação.
Começou a lecionar quando ainda era bem jovem, ainda solteira, e só parou de fazer isso um ano antes da sua morte, quando suas condições de saúde não lhe davam mais nenhuma condição de continuar. Depois de aposentada e mesmo quando a doença já a impedia de sair de casa, ela continuava dando aulas particulares para jovens que iam à sua casa buscando reforço em matérias que tinham deficiência. Dona Ivone nem cobrava para dar essas aulas. Educar, para ela, era uma paixão.
Nascida no bairro caiense do Rio Branco, Ivone era filha da auxiliar de enfermagem Matilde Olinda Arnold. Trabalhando em São Leopoldo, Matilde conheceu Patrício Vargas, que tornou-se padrasto da menina Ivone. Ele era tradicionalista e transmitiu à enteada o seu gosto pela cultura gaúcha.
Ivone cresceu em São Leopoldo, onde estudou para professora e conheceu o futuro marido, Avelino Ademaro Weber.
Quando dona Ivone formou-se professora, fez concurso e ingressou no ensino estadual. Veio, então, para o Caí, onde tornou-se professora da Escola Felipe Camarão. Ela casou-se com Avelino (que todos no Caí conheciam como Pubi) e o casal passou a morar no bairro Quilombo, em frente à Madeireira Mello. Ali seu Pubi tinha uma oficina de rádio técnico.
Em 1960, nasceu o único filho do casal, Léo, que tornou-se professor, contagiado pelo entusiasmo materno.
Por 17 anos, dona Ivone foi diretora da Escola Felipe Camarão. Nos anos de 1982 a 1988 foi secretária municipal da educação, durante o último governo do prefeito Bruno Cassel.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

821 - Dona Ivone: abrindo portas para a educação

Dona Ivone, já idosa, com seu filho único: Léo Weber

Dona Ivone morreu no dia 21 de abril de 2010.
Além de ensinar, ela gostava também de estudar e procurou sempre o aprimoramento, fazendo a faculdade de Pedagogia e pós-graduação em Folclore. O folclorista Antônio Augusto (Nico) Fagundes foi seu professor no pós e tornou-se seu amigo.
Depois de aposentar-se no ensino estadual, Dona Ivone não se afastou do magistério. Foi diretora e professora na Escola Alceu Masson.
Depois do fechamento desta escola (conhecida como Contador), ela foi convidada pelo filósofo e sociólogo Ernest Sarlet para dirigir a escola mantida, no Caí, pela Azaléia Calçados, para apriomorar a educação dos seus funcionários.
Dona Ivone sofria de diabetes e problemas circulatórios. Em 1997, sua situação se agravou. Ela esteve hospitalizada em Porto Alegre por cinco meses e foi necessária a amputação de uma das suas pernas.
Nem por isso ela se abateu. Passou a viver mais em casa, onde sempre recebeu muitas visitas de amigos, principalmente suas colegas de magistério. Dava aulas particulares, sem cobrar dos alunos.
Centenas, milhares, de pessoas guardam dela boas lembranças, pois Dona Ivone era sempre positiva e preocupada em ajudar.
Exemplo é Santos Fagundes, hoje importante liderança política (presidente do PT caiense, assessor do senador Paulo Paim).
Santos, a partir da infância, foi ficando cego progressivamente. Foi Dona Ivone que o procurou, ainda na década de 1980 e insistiu com ele para que ingressasse no Instituto Santa Luzia. Ela foi pessoalmente a Porto Alegre levando Santos para inscrever-se no curso de leitura Braile. A partir dali, novos horizontes se abriram para ele.
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820 - Alternância no poder

Heitor Selbach, natural de Bom Princípio, foi duas vezes prefeito caiense

O doutor Bruno Cassel, quando jovem, participou da revolução que levou Getúlio Vargas ao poder e manteve-se sempre fiel ao primeiro partido criado por Vargas: o PSD. Extremamente dedicado à medicina, ele nunca se interessou muito em ser o prefeito da cidade. Era um médico muito humanitário e atendia a todos sem se preocupar em cobrar por suas consultas. Por isso era um candidato imbatível. Todos lhe deviam favor. Sendo assim, seus correligionários do PSD sempre quiseram que ele fosse candidato a prefeito e o Doutor elegeu-se para o cargo por quatro vezes.
O primeiro governo do doutor Cassel foi no período de 1947 a 1951. Nessa época Cassel era quase o único médico da cidade e, ocupado com a sua profissão, não pôde dar muita atenção à administração do município. Fez um mau governo segundo a sua própria avaliação. Depois disso ficou longo período afastado do poder municipal. O doutor Orestes Lucas (advogado), o doutor Mário Leão (também advogado) e novamente o doutor Orestes, exerceram o poder municipal por 12 anos. O doutor Mário era filiado ao PL e o doutor Orestes ao PTB, segundo partido criado por Getúlio Vargas. Apesar de serem, de certa forma, partidos irmãos, o PTB e o PSD eram fortes rivais e dominavam a cena política no Rio Grande do Sul.
Orestes José Lucas foi duas vezes prefeito (nos anos de 1952 a 1955 e de 1960 a 1963). Ele era neto de outro Orestes José Lucas, que era seu avô e também foi duas vezes prefeito caiense governando o município entre os anos de 1900 a 1908. Este primeiro Orestes Lucas era filho do Capitão Carlos José Lucas, que foi importante líder militar da Revolução Farroupilha na região.
Nos anos de 1964 a 1969, o doutor Cassel voltou a exercer o cargo de prefeito. Como os antigos partidos políticos foram extintos pelo governo militar, seu partido agora era a ARENA (uma continuação do PSD). Quem o sucedeu foi Heitor Selbach, que pertencia ao MDB. A ARENA, partido de apoio ao governo militar, e MDB, de oposição, eram os únicos partidos permitidos. Depois deste governo de Heitor Selbach, o Doutor Cassel governou novamente, de 1973 a 1977, quando fez o que considerou ser o seu melhor governo. Aquele no qual realizou um bem sucedido esforço para atrair empresas para o município. Depois disto, Heitor Selbach governou mais uma vez, de 1977 a 1983. E quem o sucedeu foi, de novo, o Doutor Cassel, no seu quarto e último governo, de 1983 a 1988.

819 - Cassel x Selbach

O doutor Bruno Cassel foi um médico querido do povo e imbatível nas eleições para prefeito

Na fase em que Cassel e Selbach se alternavam no poder, Bernardo chegou a ter certa influência na política. Foi suplente de vereador por 11 anos. Mesmo sendo filiado ao MDB (partido depois denominado PMDB), ele tinha bom acesso ao prefeito Cassel, pois entregava pão diariamente na sua casa. E o doutor apelava para Bernardo quando precisava de algum préstimo, pois sabia que era pessoa de confiança.
Certa vez, como a ponte sobre o arroio Coitinho havia caído, Bernardo foi falar com o Doutor para pedir providências. Aproveitou para pedir ao prefeito que fosse colocada novamente a luminária em forma de estrela de Natal, que fora instalada no alto da pedreira, fazendo bonita vista. Ela podia ser avistada até das montanhas situadas no município de Salvador do Sul. Cassel deu ordem ao seu secretário de obras para que fosse atendido o pedido de Bernardo quanto à ponte. Mas quanto à estrela, não.
Explica-se: a estrela de Natal havia sido uma realização do seu grande rival Heitor Selbach. A disputa políticaentre os dois era famosa e dividia a população. Tanto que, em governos de Heitor Selbach, quando a estradinha que dava acesso ao Hospital Sagrada Família estava mal conservada as pessoas diziam que o prefeito Selbach deixava a estrada assim de propósito. Só porque o Doutor Cassel tinha de passar por ela várias vezes por dia, quando ia para o seu trabalho no hospital e quando voltava para o consultório na sua casa.
A ponte do arroio Coitinho ficou caída por três meses, impedindo a passagem de veículos, apesar do seu conserto ser uma obra pequena. Fácil de ser realizada. A prefeitura não podia fazer a obra sem uma autorização do DAER, órgão estadual responsável pelas estradas. Como se vê, os entraves da burocracia e a ineficiência dos governos não são coisa só dos nossos dias.
A colocação da estrela acabou ocorrendo por insistência de Bernardo, que falou com o proprietário das terras (no morro do hospital) em que ela costumava ser colocada na época do Natal. Jaime Blauth, o proprietário, não só consentiu como foi o primeiro a assinar um abaixo-assinado pedindo a volta do enfeite natalino.
Havia um problema entre a prefeitura e a CEEE (Companhia Estadual de Energia Elétrica) que teve de ser superado, mas acabou por haver um acordo. A prefeitura colocou os postes, a CEEE estendeu a rede de fios e a estrela voltou a brilhar nas noites natalinas.

818 - "Doutor" Marcos

Em setembro de 2007 um escândalo estourou na cidade. Atendendo a uma denúncia, a policia civil caiense prendeu em flagrante Marcos Renato Lanz, que atuava como médico pela Secretaria Municipal de Saúde e no Hospital Sagrada Família. Ele havia sido admitido na prefeitura sem que fosse apurado o seu currículo. O hospital também o contratou, baseado no fato dele já atuar na Secretaria Municipal de Saúde.
Ocorre, entretanto, que Marcos Lanz era um médico muito apreciado pelos seus clientes, que o consideravam muito atencioso e competente. Bernardo também se tratou com ele e ficou muito satisfeito.
Ele estava com um estranho problema. Quando se deitava, a cabeça ficava bamba, sem firmeza, inclinando-se para um lado ou o outro. Consultou-se com o “Doutor” Marcos, na Secretaria de Saúde, e esse lhe receitou um remédio. Bernardo tem suas convicções a respeito de medicina e relutou em usar o medicamento recomendado. Queria antes descobrir qual era a causa do seu problema. Então, casualmente, viu no noticiário da TV que um remédio que ele estava tomando para tosse (receitado por um outro médico) estava sendo recolhido das farmácias porque vinha causando problemas às pessoas que o tomavam.
Bernardo foi até a casa do “Doutor” Marcos, que ficava perto da sua e lhe contou o que descobrira.
- Descobri qual é o meu problema - disse Bernardo ao falso médico. - Agora vou tomar o seu remédio.
- Pode tomar - disse o “Doutor”.
E o remédio lhe fez muito bem. Sua cabeça voltou a ficar firme e, quando aconteceu do problema voltar (algumas vezes), era só tomar o remédio receitado pelo “Doutor” que o problema ficava resolvido.
O fato de Bernardo ter se sentido a vontade para ir até a casa de Marcos Lanz, para falar do seu problema, mostra como o falso médico era atencioso e humano com os seus pacientes. Razão pela qual muitos o defenderam, apesar dos seus alegados crimes de exercício ilegal da medicina e de falsificação de documento.
A forma de ser do “Doutor Marcos”, quanto à atenção que tinha com as pessoas, lembrava a do Doutor Cassel.

817 - Esgoto do hospital

O esgoto do hospital foi desviado para ser despejado no rio abaixo da cidade

Bernardo, de forma espontânea e voluntária, defendeu inúmeras causas de interesse da comunidade. Uma delas foi o problema do esgoto do Hospital Sagrada Família. Ele escoava por um córrego que passa perto do campo de futebol do Riachuelo, desembocando logo depois no arroio Coitinho. O pior é que, pelo arroio Coitinho, elas chegavam, em seguida, ao rio Caí. E isso acontecia pouco acima do ponto em que as bombas de captação da CORSAN (Companhia Riograndense de Saneamento) extraiam do rio a água que, depois de tratada, era distribuída para a população. O que não parecia nada recomendável, uma vez que o esgoto do hospital poderia estar contaminado por doenças.
Bernardo empenhou-se em resolver esse problema e insistiu nisso até conseguir que o escoamento do esgoto do hospital fosse modificado, de modo a entrar na rede normal de esgotos da cidade. De qualquer modo, as águas acabavam escoando para o rio, sem tratamento. Mas, pelo menos, o despejo dessa água passava a acontecer adiante do ponto de captação de água da CORSAN.
Outro caso em que foi decisiva a intervenção de Bernardo foi o do prolongamento da rua Mário Spohr. Essa rua faz parte do Loteamento Blauth, situado junto ao centro da cidade. E, como as demais ruas desse loteamento, não tinha continuidade em direção ao bairro Vila Rica. Isso fazia falta, porque a avenida Osvaldo Aranha ficava sendo a única via pública que servia para a comunicação entre o Centro e a Vila Rica. E, como a Osvaldo Aranha é facilmente atingida por enchentes que interrompem o tráfego, o prolongamento da rua Mário Spohr ofereceria uma alternativa que possibilitava a comunicação em casos de enchentes médias.
Bernardo era atingido por esse problema, pois tinha de deslocar-se diariamente, com a sua carroça, da Vila Rica para o Centro. Quando uma enchente não permitia a passagem pela Osvaldo Aranha, ele era obrigado a passar pela RS-122. Uma opção muito perigosa, pois antes da abertura do desvio dessa rodovia (que aconteceu em julho de 2001) o movimento de veículos na mesma era intenso, caótico e extremamente perigoso.
Além de Bernardo muitas outras pessoas pediam à prefeitura a realização da obra de prolongamento da rua. Mas havia um empecilho para a sua realização. Seria necessária a autorização da proprietária da área de terra a ser atravessada pela rua, dona Marta Dill. Bernardo, que a conhecia bem, foi falar com ela e tanto fez que conseguiu convencê-la. Mais uma vez a sua maneira educada no trato com as pessoas, somada à sua persistência, deu resultados.

816 - Os leiteiros caienses

Na sua infância e juventude, o atual prefeito caiense, Darci Lauermann, entregava em residências da cidade o leite que era produzido na chácara de seus pais

Assim como a profissão de padeiro (no sentido de entregador de pão a domicílio) foi importante no passado, também existiram outras funções semelhantes e importantes. No século XIX, em cidades como Porto Alegre, existiam profissionais que percorriam as ruas vendendo água. O produto era levado em barris, no lombo de burricos.
Não se tem notícia de que isso tenha acontecido no Caí. Mas o que havia bastante, e ainda há moderadadamente, é a venda domiciliar de leite. Proprietários rurais das cercanias da cidade tinham suas vacas leiteiras e produziam leite que, além de servir para o consumo da família, possibilitava uma renda extra através da venda do excedente para moradores da cidade.
Antigamente, a entrega era feita a pé, a cavalo, em lombo de mula ou em charrete. E até mesmo de bicicleta. No final do século XX, essa entrega chegou a ser feita em camionete por alguns leiteiros mais estruturados.
No inverno, como os pastos não cresciam tanto como no verão, a produção de leite também diminuía. E, com isso, muita gente na cidade ficava sem leite. Os leiteiros racionavam a entrega do produto, garantindo o abastecimento somente para os clientes mais assíduos e bons pagadores.
Assim como o pão, o leite é um alimento fundamental para a dieta do brasileiro. E, portanto, o leiteiro - da mesma forma que o padeiro - era personagem importante na vida de uma cidade.
Na sua juventude, quando trabalhava na granja da família Erich, na Vila Rica, Bernardo fez entrega de leite na cidade. Mas ele foi apenas um de centenas - talvez milhares de pessoas que cumpriram essa tarefa no Caí ao longo dos tempos. Alguns somente na infância ou juventude. Outros por longo tempo, tornando-se verdadeiros profissionais.
Também o editor desse blog, Renato Klein, quando era ainda menino, entregava leite produzido na granja dos seus pais Wilibaldo e Helmi Klein (localizada onde hoje se encontra o escritório do jornal Fato Novo, em frente à revenda de automóveis Blavel). Ele fazia a entrega de bicicleta, levando o leite num tambinho, de alumínio, com capacidade para dois litros. Isto ocorreu no início da década de 1960 e Renato atendeu, principalmente, à família da viúva do agrimensor Ary Baierle (que morava na avenida Coronel Guimarães).
O atual prefeito caiense Darci Lauermann também entregou no Caí leite que era produzido na granja de seu pai, Ivo Lauermann, no bairro Quilombo. Ele o fez de forma mais intensa e profissional, exercendo esta função (juntamente com outras) até o início da idade adulta. Outro produtor do Quilombo, que entregava leite na cidade era Arno Brochier.
E existiram outros leiteiros no Caí que fizeram da entrega de leite nas casas a sua principal atividade na vida. Era um serviço que exigia muito asseio, pois o leite - principalmente no verão - tem forte tendência a talhar (azedar). Por isto o vasilhame era feito preferencialmente de alumínio ou de vidro (garrafas), para facilitar a lavagem.
Entre as pessoas que mais se destacaram no Caí, como entregadores de leite, podemos destacar João Flores, mais conhecido como Né Flores. Ele tinha sua granja no bairro Chapadão Baixo, que na época era conhecido como Boa Vista. Os filhos de Né Flores, Jaime e Egídio, também se dedicaram à entrega de leite na cidade durante a sua

815 - "Points" do século XX

Onde hoje se encontra esse prédio comercial, no Calçadão Caiense, havia o Bar & Bar e, antes, o Beco do Trago

O Caí, mesmo nas épocas em que andou um tanto “por baixo”, sempre preservou a característica de ser um centro regional. A população dos municípios vizinhos sempre foi atraídas para o Caí, por encontrarem nela coisas que nas outras, menores, não existiam. Inclusive diversão.
No final do século XX, o inovador Bar & Bar, de Vando Coelho, atraiu a juventude do Vale do Caí com festas memoráveis. Mas, falando-se de coisas mais antigas, também pelos meados do século, outros pontos de encontro (e de namoro) caiense se tornaram célebres.
Este foi o caso dos dois cinemas que, ao longo de grande parte do século, foram famosos locais de diversão e pontos de encontro para a juventude.
Um deles foi o Cine Gaúcho, que funcionava na esquina das ruas Pinheiro Machado com 1° de Maio. Quase em frente à casa do Doutor Cassel. Depois veio o Cine Aloma, na Marechal Deodoro. O prédio no Calçadão Caiense, no qual funcionou, até recentemente, o supermercado Agliardi.
O Caí teve também alguns bares que se tornaram célebres. Antes do Bar & Bar, eles não eram dançantes, mas nem por isso deixavam de ser pontos de encontro importantes, que faziam parte da vida (e da fantasia) das pessoas.
Um deles, mais antigo, foi o bar A Tafona, instalado no prédio que, até hoje, existe dentro da praça Edwino Puhl.
Quando menino, Bernardo vivia no Chapadão e raramente ia ao centro do Caí. Mas lembra que em 1941, quando fez a sua primeira comunhão, na igreja matriz, já existia o bar A Tafona. O dono mais antigo do bar, pela memória de Bernardo, era conhecido como Webinha (diminutivo abrasileirado do sobrenome Weber). Mais tarde, ele passou a pertencer a Dari Luchesi, que era cunhado do padeiro Otto Schaeffmacher.
Otto, por sinal, foi um dos primeiros padeiros caienses e o seu estabelecimento funcionava no mesmo local em que hoje se encontra a agência Bradesco. E Bernardo ouviu falar, também, de um outro padeiro antigo chamado Roberto Padeiro, cujo estabelecimento ficava num prédio situado no quarteirão hoje ocupado pela Escola São Sebastião.
O bar A Tafona tinha mesa de biliar, um famoso sorvete e mesas em ambiente interno, além de outras (de ferro) na rua, à sombra das árvores. Tinha uma sala reservada aos homens, mas era também frequentado por senhoras e crianças. Um ambiente familiar, numa época em que mulheres sérias e crianças não entravam em bares.
Outro bar famoso foi o El Farolito, instalado ao lado do Cine Aloma. O prédio (do cinema e do bar) pertencia ao empresário Helmuth Blauth (proprietário da Empresa Caiense de Ônibus Ltda - Ecol).
O Cine Aloma era grande e teve o seu auge nas décadas de 50 e 60, mas se manteve aberto até os anos 80 (ultimamente com o nome mudado para Cine Brasil). O nome Aloma vem do filme Aloma, a Virgem Prometida, produção de 1941 estrelada por Dorothy Lamour.

814 - As últimas carroças na cidade

Hoje elas são raras, mas até algumas décadas atrás as carroças eram muito comuns no centro da cidade

Certa vez, por volta do ano de 1970, numa madrugada fria de inverno, Jaime Flores cumpria a sua tarefa diária de entrega do leite. Quando atravessava a faixa já asfaltada da RS-122, na Vila Rica, o cavalo que puxava a charrete na qual ele fazia a entrega escorregou no asfalto e caiu sobre a pista. Jaime tentou atravessar a faixa ligeiro, por causa do intenso movimento de carros e esqueceu uma recomendação que Bernardo, bem mais experiente, já lhe havia feito. A de que é preciso ter cuidado quando se anda a cavalo sobre o asfalto frio. Ao calor do sol o asfalto amolece e dá mais aderência às rodas dos veículos e, inclusvive, ao casco dos animais. Ao amanhecer, principalmente no inverno, o asfalto tem menor aderência e se torna perigoso.
No momento da queda, Bernardo passava no local, também de carroça, levando a família, e pôde prestar socorro ao jovem Jaime. Fez sinal para que os veículos que passavam diminuíssem a velocidade e ajudou a levantar o cavalo que, atrelado à carroça, ficou preso e tinha dificuldade para se levantar sozinho.
Devido ao calçamento das ruas da cidade, que intensificou-se nas décadas de 70 e 80, aumentou o desgaste das ferraduras dos cavalos que (como o de Bernardo e o de Jaime) circulavam muito pelo Centro. Com isto, as ferraduras tinham de ser trocadas mensalmente.
As ferraduras tinham pequenas saliências (algo semelhante ao salto dos sapatos) que fincavam na terra, dando mais estabilidade para o animal. No asfalto, porém isso não funcionava. Daí o perigo, principalmente em dias frios, quando a pista de asfalto fica mais “dura”.
No Caí, um dos últimos ferreiros que se dedicou a ferrar cavalos (pregar ferraduras nos cascos) foi Edmundo Werner (pai do dentista Ilson Werner), que teve seu estabelecimento na esquina das rua Coronel Paulino Teixeira com Floriano Peixoto. Bem no centro da cidade. Outro entre os últimos ferreiros caienses foi Reno Jacobsen, que tinha sua ferraria na esquina em frente ao armazém Tem Pass e à loja Compumaq.
Hoje é raro ver-se uma carroça circulando pelo centro do Caí, pois o trânsito cada vez mais intenso faz com que isso se torne perigoso. Bernardo foi um dos últimos a manter essa prática, na sua entrega de pão. E, mesmo depois de parar com essa atividade, continuou a fazer passeios com crianças das escolas infantis da cidade. As crianças pediam para andar na sua carroça e gostavam muito do passeio quando ele as atendia. Algumas costumavam pegar carona com Bernardo quando este fazia o seu trabalho diário de entrega do pão.
Por isso, Bernardo acabou fazendo (com a ajuda de alguns amigos, especialmente Danilo Griebler) uma carroça especialmente para essa finalidade. Era uma carroça bonita, enfeitada e especialmente planejada para oferecer conforto e segurança para as crianças. Assim ele fez muitos passeios levando crianças das creches, sempre acompanhadas de suas professoras. Esses passeios aconteciam em datas especiais, como o Natal, Páscoa e São João. As crianças participavam com roupas ou fantasias apropriadas (Papai Noel, coelhinho, caipira). A capacidade da carroça era para 18 crianças sentadas e mais duas “tias”.
Em alguns estabelecimentos comerciais, como o de Jacinto Tem Pass, os comerciantes faziam questão de receber a visita das crianças. Nesses locais, as crianças cantavam e ganhavam balas. Em algumas ocasiões, quando seu filho Geraldo o ajudava dirigindo a carroça, Bernardo acompanhava o canto das crianças tocando gaita. Ele ainda tem essa carroça e, eventualmente, faz passeios com crianças. Recentemente fez isso com os alunos da APAE, portadores de deficiências.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

813 - Sankt Wendel

São Vendelino faz juz ao título de Pequeno Paraíso, que lhe é atribuído (foto dos anos 1990)
São Vendelino ganhou esse nome porque muitos dos seus colonizadores vieram da cidade alemã de Sankt Wendel (foto)

No ano de 2003 uma delegação de Sankt Wendel veio conhecer São Vendelino. Um grupo daquela cidade alemã veio conhecer a pequena cidade irmã brasileira. Uma terra de gente germânica situada no sul do Brasil. Estas pessoas estavam curiosas por conhecer este lugar para o qual parentes de antepassados seus vieram, há 150 anos atrás. Entre os alemães que colonizaram São Vendelino, muitos eram naturais de Sankt Wendel. Foram eles que decidiram dar esse nome à localidade por eles fundada, que hoje se transformou na pequena cidade de São Vendelino.
Os habitantes de Sankt Wendel só descobriram a existência de São Vendelino em 1991, por causa de Cristina Holz, uma jovem de Novo Hamburgo que, pesquisando as origens de seus antepassados, foi visitar a cidade de Sankt Wendel, no sul da Alemanha. Lá conheceu seu primo em terceiro grau Klaus Lauck, que interessou-se muito pela existência desta pequena cidade irmã no continente sul americano.
Jair Baumgratz, primeiro prefeito de São Vendelino, interessou-se também pela cidade irmã alemã e foi visitá-la. Os laços foram se estreitando e foi decidido que as duas cidades se tornariam, oficialmente, cidades irmãs. E, desde então, relações especiais se estabeleceram entre elas.
Segundo observa Klaus Lauck, "Os habitantes de Saarland, que imigraram para São Vendelino no final do século XIX, não precisaram se adaptar. Para onde eles foram não havia nada”.
De fato, os primeiros colonizadores estabeleceram-se no meio da selva. Num lugar onde haviam poucos homens brancos de origem portuguesa. O vilarejo que eles criaram aqui, era uma comunidade germânica. E, assim como outras localidades pequenas que permaneceram relativamente isoladas, com pouco contato com pessoas de origem portuguesa, preservaram o uso da língua alemã e dos costumes trazidos da Alemanha. Enquanto os imigrantes estabelecidos em Porto Alegre ou em São Paulo se abrasileiravam, os das pequenas colônias interioranas, continuaram sendo alemães.
A amizade dos habitantes de Sankt Wendel pelo povo de São Vendelino levou à criação do Círculo de Amizade Teuto-brasileiro, que tem em Jügen Zimmer um dos seus principais líderes. Jürgen visita o Brasil frequentemente e procura contribuir para o estreitamento das relações entre o povo alemão e seus parentes que um dia deixaram a velha pátria para integrar-se ao povo brasileiro. Mas sem esquecer suas origens.
Sankt Wendel é um distrito do estado alemão pertencente ao estado alemão denominado Saarland (ou, resumidamente, Saar). Também é conhecido pelo nome Sarre. Dezesseis municípios compõem o distrito de Sankt Wendel e a sua capital se chama, também, Sankt Wendel. O distrito de Sankt Wendel conta, além da capital, com os municípios de Freisen, Marpinen, Namborn, Nohfelden, Nonnweiler, Obrthal e Tholey.

sábado, 3 de abril de 2010

812 - A miracle called Tupandi


A municipal development model can be an example to other developing cities

Inside a small Brazilian city, an honest, dedicated and competent administration has been able to multiply GDP per capita by 30 in only 20 years. From USD700 to USD 20,000. The objective of this case is to serve as a role model to contribute for the development on the neighboring cities of Cai Valley.
Introduction
The adoption on scientific method brought an extraordinary development to mankind. Towards that new discoveries might be replicated and applied for the benefits of the society. However, scientific findings shall be well analyzed, documented and shared.
Under this assumption we are pleased to introduce the case of a Brazilian city, located in Cai Valley near the city of Porto Alegre (Capital of Rio Grande do Sul state) in the southern part of Brazil. This city is called Tupandi, where a competent administrative work transformed a community from a poverty situation to a wealthy and prosperous condition in just two decades.
Tupandi became an independent city in 1988 through a local referendum. On its first 11 years of existence, its GDP per capita increased 11 times, from USD776.16 to USD 10,438.16. On this period, average growth was 28% per year. On the next six years, from 2001 to 2006, average growth was not so intense. Eventough, in 2006 the GDP per capita reached USD22,239.26, similar to South Korea.
It is important to consider that no exogenous factor contributed significantly for this growth. Tupandi’s differential is based on the quality of his municipal administration. Also, there are strong arguments favoring the leadership from the former mayor Mr Hilario Junges, who played a fundamental role on this achievement.
The book titled “A miracle called Tupandi”, analyses the tactics, policies and procedures led by Mr Hilario Junges during his administration. It was possible to find to quite accurate conclusions, which make an administrative procedure that can be applied in other municipalities. Neighboring municipalities in the same region of Cai Valley are trying to apply this method looking for similar success.
The method is simple and nothing prevents it to be implemented in any municipality with similar results. It may therefore be a practical and applicable way to improve economic condition in communities worldwide.
The method
Everything begins with basic premisse that the mayor and his key advisors must commit their action based on honesty and public spirit. Overall, the administrative method that provided such great progress in Tupandi is extremely simple:
1. Increase investment capacity through expenditure reduction
Tupandi’s administration implemented a rigid control of municipal spending, avoiding unnecessary expenditures, e.g. excessive employment. In addition, employees were chosen for their efficiency and not for political reasons or personal preferences.
Since most public administrations are usually inefficient, the adoption of an austere and efficient administration results in higher savings and significantly increases the investment capacity of the municipality.
2. Seek resources outside of the municipality
Besides the capital saved, administration should seek resources outside the municipality, especially in development programs promoted by federal and state governments. The key point is the administrator’s commitment in the project formulation to be submitted to funding providers. From private sector, productive investments were selected, even if the companies are located outside the municipality.
3. Preference for production stimulus
Resources obtained from savings and external sources should be initially invested in the development of production capacity in the city. Reasons: i) increase the income of the population; ii) increase collection of taxes. As a consequence, city hall can multiply its investment capacity.
4. Adopt a strategic plan
Develop a strategic plan is very important. This plan does not have to be sophisticated, in fact, for Tupandi’s case it was very simple. Taking advantage of the agricultural vocation of the local population and using the resources that the city has accumulated through the strict control of expenditure, the administration has provided a strong stimulus to the local farmers to help them build aviaries and pigpens.
On this activity, the farmer works on integration with a large company who buy their production. In addition, they have access to advanced techniques and supplies to increase productivity. The production is sold with the issuance of invoice and proper collection of taxes, differently from before.
Jumping to development
The city was extremely poor. There was no industry, trade was very precarious, the structure of communications (roads, telephone) was disastrous. Agriculture was rudimentary, usually as subsistence for the family. Young people had no perspective in their city then they migrated to larger ones, seeking jobs in factories with low wages.
Initially, Mayor Hilário Junges tried to leverage development of his city through attraction of industries, taking advantage of labor availability. However, the lack of access by road asphalt, lack of telephony and poor electricity supply represented enormous barriers to industry attraction.
In Brazil, industry attraction is the conventional strategy that municipal governments use to promote development.
Realizing the limitations of this model and the difficulty of applying it in a municipality as Tupandi, the administration developed a new plan that proved to be extremely appropriate and effective, resulting in a development leap.
This development plan was done in the fifth year after the effective creation of the municipality. The new plan was based on a strong incentive for the raising of chicken and pigs. The administration took the opportunity in partnership with a major meat exporter. In two years (1993 and 1994), Tupandi had 198 modern pigpens and poultry in the city.
The plan was original in the region since it was the first time for a city to directly invest in local producers. A farmer who was willing to build an aviary was granted with roads, earthmoving, roof and curtains for the hall. The city and the company provided, further, technical assistance and support in obtaining bank financing.
On the other hand, the plan consumed a large part of Tupandi’s investment capacity. There was some damage to other immediate needs of the population. For example, due to the intense use of the city hall machinery, municipal roads remained without maintenance a long time.
Results
The result of this effort was notorious: the municipal GDP growth reached 93% in 1995 and kept high on the following years. However, benefits for the population were not felt immediately and the municipal government lost popularity. As a consequence, in 1996 elections, Hilário Junges failed to elect his successor.
Some years later, however, the success of the strategic development plan became evident. Nowadays, Tupandi offers first world living conditions to its population. Most roads are paved, even the ones with low traffic. Young people are granted with university tuition. Public health service is an example for the region and household consumption is much higher than those of other municipalities.
Hilário Junges is not a genius on administration or economy. The work he performed was relatively simple and even obvious. The achievement of this remarkable result was possible because of his honesty, enthusiasm for public causes and persistence. Undoubtedly, the tenacity in formulating a viable and ambitious development strategy was essential to achieve this positive result.
Tupandi’s success is motivating several municipalities in the region of Cai Valley to follow the same model. The result was a stronger development of poultry and swine industry focused on exporting food goods. Nowadays there are more than 1,000 modern poultry and pigpens in the region (whose population is only 160 thousand inhabitants). Industrial base are strong players like Doux, Oderich, Agrosul, Naturovos, Ouro do Sul Cooperative and Agrogen.
These are evidences of a spontaneous creation of an agroindustrial cluster dedicated to food production for export.
The next challenge

Currently, Tupandi and other municipalities in the region of Cai Valley need a plan for a new development leap. A viable alternative would be a joint effort to create a regional cluster for cost reduction, incrementing production and enhancing competitive strengths in the region.
The cluster concept is currently under discussion. It tries to integrate city halls, farmers, industries and public institutions. Some initiatives have been proposed such as:
· Construction of a port on Cai river in order to reduce transport costs to main the port of Rio Grande (connection to Atlantic Ocean);
· Creation of technical schools and support academic research toward food production;
· Asphalting more rural roads;
· Deployment of biodigester to generate energy and fertilizer from pigpen and poultry residues;
· Increase public support for the establishment of poultry and pigpens to local families.
Final remarks
In 20 years, Tupandi transformed itself from a poverty situation (per capita income of USD700) to a wealthy condition comparable South Korea (per capita income of USD22 thousand).
The same type of administration and development strategy applied in Tupandi could benefit similar communities around the globe. And the phenomenon occurred in Tupandi is an evidence that this is possible.

Este texto resume apresentação feita por Daniel Fink num seminário sobre clusters realizado na Coréia do Sul