domingo, 29 de agosto de 2010

975 - Com o imperador, contra os farrapos

A história de Morro Reuter tem muito a ver com a do restante da região colonial alemã

O município de Morro Reuter situa-se no vale do arroio Cadeia e, como esse arroio é afluente do Caí, o município faz parte do Vale do Caí. Além disso, a história de Morro Reuter tem grande similaridade com a dos municípios dessa região. Por isso vale muito a pena conhecer o trabalho sobre a história de Morro Reuter que se encontra publicado no site da prefeitura desse município ( http://www.pmreuter.com.br/site/ ).

Nesta e nas próximas nove postagens reproduzimos boa parte desse trabalho que, segundo informações colhidas junto à prefeitura, foi baseado fundamentalmente no livro História de Morro Reuter escrito pelo professor Afonso Sebastiani:

"Maltratados pelo governo imperial, os imigrantes estavam condenados ao isolamento. O caráter germânico de ajuda mútua, a religiosidade e o idioma foram os principais elementos de união, resistência e sobrevivência. Como Justino Vier descreve em seu livro, qualquer contato com o mundo exterior limitava-se a cartas ou pacotes carregados em lombo de burro: “Assim os imigrantes ficavam longe dos habitantes mais antigos da Província, e politicamente separados de um governo sem ação, incapaz de garantir escolas, comunicações e outras necessidades básicas da população. Sabe-se que os colonos, sem apoio e ajuda das autoridades locais, mas com muito ânimo, seguiram as receitas e conhecimentos aprendidos em sua terra natal. O isolamento destas novas povoações almas preservou seu idioma e desenvolveu meios de ensiná-lo às novas gerações nascidas neste Novo Mundo”.

O primeiro momento histórico testemunhado pelos imigrantes alemães no Continente de São Pedro foi a Guerra dos Farrapos, entre 1835 e 1845. Se Porto Alegre tinha na época cerca de 15 mil habitantes, em Morro Reuter a população era formada por no máximo uma dúzia de famílias, isoladas em algumas das localidades do que viria a ser o atual município. Mas há registros da participação no episódio farroupilha de um representante da incipiente colônia que se formava: Mathias Mombach, considerado o primeiro morador do Walachai.

Quando os farrapos atacaram Porto Alegre, no dia 20 de setembro de 1835, estava em São Leopoldo um de seus maiores inimigos, defensor da causa caramuru e da manutenção da monarquia no Brasil. Era João Daniel Hillbrand, diretor da colônia, que no mesmo dia 20 lançou uma conclamação de apoio aos imperiais e começou a preparar a Companhia de Caçadores Voluntários Alemães para lutar contra os rebeldes. Em 18 de dezembro de 1838, para anular a influência de Hillebrand no Vale do Sinos, o governo farroupilha criou o Esquadrão de Cavalaria de voluntários Republicanos dos Colonos de São Leopoldo. Hillebrand permaneceu fiel ao Império até o fim da guerra, primeiro como Comandante-Geral de Polícia em São Leopoldo, depois como Comandante-Geral de Polícia em Porto Alegre, nomeado em 1842 pelo próprio Barão de Caxias. Defendeu a colônia sob influência e forneceu voluntários da Companhia de Caçadores para tropas ilegais."

974 - Mathias Mombach: o caçador de farrapos

O homem que prendeu o Menino Diabo vivia em Morro Reuter

"Na bibliografia sobre a Guerra dos Farrapos, nenhum autor se refere a grandes conflitos armados ou enfrentamento com baixas significativas na região do Vale do Sinos. As principais batalhas ocorreram em outras áreas do Continente de São Pedro. Mas, em 1º de dezembro de 1845, de volta a São Leopoldo como diretor-geral da colônia, João Daniel Hillebrand divulgou uma relação de pensões a serem pagas para viúvas de 19 imigrantes alemães mortos ao longo da década em que houve guerra, todos os casos isolados, entre 1836 e 1842. Além da perda de vidas e de abalos na economia regional, o maior prejuízo para a colônia alemã talvez tenha sido a interrupção da vinda de novas levas de colonizadores. Só em 1846 foi reiniciado o processo de imigração, com continentes cada vez maiores de pessoas trazidas da Alemanha. É grande a fama de Mathias Mombach, citado por autores como Theodor Amstad, Hilda Flores, Carlos de Souza Moraes e Germano Oscar Moehlecke. Conforme o professor Arthur Blasio Rambo, da Pós-Graduação em História da Unisinos, Mathias foi soldado da guarda pessoal de Napoleão Bonaparte antes de vir para o Brasil. Resolveu viver como uma espécie de eremita no Walachai, a partir de 1829. Nessa época, estava com cerca de 60 anos, pois todos os textos referem-se a ele como um guerreiro veterano, que depois de uma carreira militar na Europa se tornou alferes da Guarda Nacional a serviço do Império brasileiro. Sob o comando de Hillebrand, quando tinha quase 70 anos, Mathias chegou a ser chamado de caçador de Farrapos.

No livro O Colono Alemão (1891), Carlos de Souza reproduz o texto original em espanhol de um relato feito pelo político argentino Juan María Gutierrez, que em 1844 conheceu a casa de Mathias Mombach, na mata virgem do Walachai: “As peças principais são de madeira de cedro, dispostas para se defender dos índios selvagens. Ao entrar naquelas peças senti uma fragrância que logo soube a que atribuir: vinha da madeira de cedro, único material empregado na construção daquela espécie de arca consagrada ao abrigo de um ancião (Mombach), que foi soldado do imperador Napoleão e hoje é alferes do imperador Dom Pedro II. Um arroio claríssimo corre sobre o chão pedregoso a meia quadra do prédio. Quem é íntimo da casa pode encontrar todo o necessário nos domínios do alferes Mombach: espingardas, cachorros, a companhia de um dos seus filhos. E, a poucos passos, um tigre negro, um javali, um veado, a escolher”.

Como revela Germano Oscar Moehlecke no livro Os Imigrantes Alemães e a Revolução Farroupilha (1986), o nome de Mathias Mombach aparece em vários documentos administrativos da época. Num ofício de 16 de dezembro de 1840, o comandante Hillebrand requisitou o alferes Mathias para fazer parte da resistência permanente da Companhia de Voluntários Alemães. E, numa prestação de contas do Quartel do Comando-Geral de São Leopoldo, em 2 de julho de 1843, é declarado que Mathias ganhava com alferes um salário mensal de 50 mil réis, com soldo e gratificações. Quase um terço dos vencimentos do coronel Hillebrand, que recebia 183 mil réis mensais."


973 - Nas guerras dos farrapos e dos muckers

Os colonos alemães tiveram de enfrentar índios, farrapos, mucker e federalistas

Para os inimigos dos farrapos, como Mathias e Hillebrand, os rebeldes que ousaram proclamar a República Rio-Grandense era a ameaça de invasões, saques, confisco de bens assassinatos. Por isso, na subida da serra, qualquer bando de bandidos que aparecesse logo era associado aos farroupilhas. Esse foi o caso do famigerado Menino Diabo, que mais uma vez colocou Mathias Mombach como personagem da história de Morro Reuter.

Entre 1836 e 1837, no segundo ano de conflitos e escaramuças entre farrapos e imperiais, surgiram na região as histórias das atrocidades do bandoleiro Antônio Joaquim da Silva, de origem portuguesa. Apelidado de Menino Diabo por causa da baixa estatura, liderou roubos e assassinatos em Estância Velha, Ivoti, Dois Irmãos, Morro Reuter, Picada Café e Lomba Grande. No livro Cem Anos de Germanidade no Rio Grande no Rio Grande do Sul – 1824-1924, o Padre jesuíta Theodor Amstad descreve bárbaros crimes cometidos pelos “sanguinários bandidos farrapos”. Nos depoimentos colhidos para o episódio O Menino Diabo da série Histórias Extraordinárias, veiculado pela RBS TV em setembro de 2003, o diretor e roteirista João Guilherme Barone obteve informações de que Antônio Joaquim chegou a liderar um bando com cerca de 200 bandidos e que teria deixado um tesouro nunca encontrado.

Farrapo ou assaltante, o certo é que o Menino Diabo foi ferido e preso por Mathias Mombach e alguns colonos, que toparam com o bando na estrada de Dois Irmãos. A idéia de Mathias era entregar o bandido para julgamento. Mas parentes e vizinhos de vítimas lincharam o Menino Diabo. Existem duas versões. Numa delas, o bandoleiro teria sido obrigado a cavar a própria cova antes de ser morto. Na outra, do padre Theodor Amstad, o criminoso foi retirado à força da casa onde estava preso sob a guarda de Mathias: “Passaram um laço no pescoço do Menino Diabo e o arrastaram da cama, cruzaram a estrada, lançando-lhe no rosto suas barbaridades e terminaram por infligir-lhe morte pavorosa. Foi este o fim desse monstro em figura humana”.

Depois da guerra, Mathias Mombach, voltou para o Walachai, já como uma figura lendária, tem uma trajetória melhor documentada que a do pioneiro Reuter, de quem quase nada se sabe, embora seja dele o nome do município.

Entre 1873 e 1874, quando já havia as capelas católicas e luteranas e as primeiras escolas em Morro Reuter, ocorreu o apogeu e o fim dos Muckers (Santarrões), seita que Jacobina Maurer criou mo Morro do Ferrabrás, em Sapiranga. Os Muckers foram massacrados no dia 19 de julho de 1874 pelos soldados do coronel Genuíno Olímpio de Sampaio, vindos de Porto Alegre para acabar coma rebelião dos crentes, que, perseguidos pela polícia e pelos colonos cristãos, reagiram com violência.

972 - Respingos da Revolução Federalista

A paz custou a custar para os colonos que povoaram Morro Reuter

"Como no período farroupilha em relação a bandos que aproveitavam a confusão da guerra para matar e roubar, os seguidores da visionária Jacobina Maurer eram descritos nos relatos dos colonos com bandidos. Nos púlpitos, os padres católicos e os pastores luteranos condenavam os seguidores fanáticos da santarrona diabólica. Ainda hoje, correm histórias de Mucker invasores, que vinham às localidades morroreutenses para saquear propriedades. Há inclusive uma lenda: nas mesmas cavernas cavadas pelos bugres nas rochas de Morro Reuter existiria um tesouro, fruto das pilhagens dos capangas enviados por Jacobina.

No Walachai, alguns colonos se arriscaram a caminhar até Sapiranga, por causa da fama de curandeira da líder da seita. Voltaram decepcionados. Contaram que, na hora da consulta, os homens eram beijados por Jacobina. Os moradores do Walachai se apavoraram mulher casada beijar assim era pecado mortal. Ninguém mais se atreveu a procurar no Ferrabrás.

Outro episódio em que a ação de bandidos se confundiu em Morro Reuter com os conflitos políticos é o da Revolução Federalista, entre 1893 e 1895. A guerra civil de maragatos contra pica-paus, que deixou mais de 10 mil mortos, cerca de mil por degolas sumárias, envolveu colonos alemães, principalmente nas regiões do Rio Pardo, do Alto Taquari e do Caí. Houve enfrentamento em localidades com Estrela, Lajeado, Encantado, e Venâncio Aires. Mas sempre foram embates de pequeno porte, se comparados com as batalhas fratricidas de regiões mais distantes, principalmente na Campanha Gaúcha, em que morriam centenas de combatentes de cada lado.

Entre os morro-reutenses, os efeitos da guerra perdida pelos maragatos viraram, de novo, um caso de bandidagem. Depois da paz assinada em Ponche Verde no dia 25 de agosto de 1895, um personagem semelhante ao Menino Diabo dos tempos farroupilhas apareceu para apavorar as localidades de Morro Reuter. Foi o bandoleiro conhecido como Negro Malaquias, que por alguns meses liderou alguns “maragatos”, ladrões e assassinos sem qualquer ligação com o partido federalista. No artigo A Revolução Federalista e a Imprensa, incluído no livro A Revolução Federalista e os Teuto-Brasileiros (1995), o professor Arthur Blasio Rambo revela que Malaquias teve o mesmo fim do Menino Diabo: “Os colonos do Walachai terminaram eliminando, numa tocaia, o famigerado Negro Malaquias líder do bando que infestou por meses a região.”

971 - As caixas rurais do Padre Amstad

A Cooperativa de Crédito Caixa Rural, atual Sicredi, teve sua primeira sede em Nova Petrópolis (foto), o movimento pela sua criação começou na Feliz e a primeira unidade aberta foi em Linha Imperial: tudo no Vale do Caí


'Uma das características das colônias alemãs no Rio Grande do Sul sempre foi o trabalho conjunto, com a participação de todos os moradores, por exemplo, na construção de capelas, escolas e prédios comunitários. Não por acaso, em Linha Imperial, distrito de Nova Petrópolis, o cooperativismo de crédito foi implantado no Brasil. A iniciativa foi do onipresente padre Theodor Amstad, que trouxe da Alemanha o sistema Raiffeisen de cooperativas, Sempre circulando por todas as localidades, o jesuíta que ficou sendo chamado de “Pai dos colonos” fundou cooperativas, sindicatos, hospitais, escolas e jornais. Desde que veio para o Brasil, em 1885, até morrer, em 1938, espalhou a filosofia da cooperação: “Se uma grande pedra se atravessa no caminho e 20 pessoas querem passar, não o conseguirão se um por um a procuram remover individualmente. Mas se as 20 pessoas se unem e fazem força ao mesmo tempo, sob a orientação de um deles, conseguirão solidariamente afastar a pedra e abrir o caminho de todos”.

No dia 28 de dezembro de 1902, padre Theodor criou a Caixa de Economia e Empréstimos Amstad, primeira cooperativa de crédito da América Latina. Segundo Ruben Neis, em separata de Perspectiva Econômica publicada pela Unisinos em abril de 1976, “uma após uma, surgiram as caixas nos diversos centros de colonização alemã, chegando ao número aproximada de 50, coordenadas pela Central das Caixas Rurais, com sede em Porto Alegre. Nelas, o colono, cheio de confiança nas direções, depositava a juros as sobras de suas economias, que eram reaplicadas na mesma região, emprestadas que iam sendo a outros colonos, necessitados de um empréstimo temporário. É a colaboração mútua que se fazia através de entidade criada em favor do agricultor”.

No dia 13 de junho de 1907, o próprio padre Theodor trouxe o cooperativismo para Morro Reuter, ao fundar a Caixa Rural União Popular de São José do Herval. O sistema Raiffeisen passou a orientar e garantir o desenvolvimento econômico da região. Por 40 anos, de 1916 a 1955, o professor João Klauck foi o diretor da Caixa Rural, condição que lhe conferia liderança política. Em 1957, quando comemorou 50 anos de atividades, a Caixa de São José do Herval tinha 1.110 associados que se beneficiam com o s créditos para investimentos nas propriedades rurais.

A partir de 1964, com a reforma bancária decretada pelo governo, as Caixas Rurais foram sendo extintas. Segundo Werno Blásio Neumann, em 1991 nasceu a nova era do cooperativismo de crédito rural brasileiro, com a criação do Sistema de Crédito Cooperativo, Sicredi. Em 2002, eram 760 agências do Sicredi espalhadas por cinco Estados, beneficiando 565.503 associados de 130 cooperativas. Instalado em Morro Reuter desde 1991, o Sicredi mantém atualmente sua agência na Rua Anita Garibaldi, no centro."


970 - Quando os alemães passaram a ser inimigos

Em Morro Reuter, como nas demais comunidades de origem germânica, colonos foram proibidos de falar o único idioma que conheciam

Foto: atelier do artista plástico Flávio Scholles


"Depois das décadas de luta pela sobrevivência, em que os pioneiros enfrentaram feras e bugres, um dos piores períodos para os moradores das localidades de Morro Reuter foi a Era Vargas, junto com os efeitos da II Guerra Mundial nas colônias alemãs. Antes de Hitler iniciar na Europa as invasões nazistas, Getúlio Vargas lançou a Campanha de Nacionalização do Ensino, que atingiu principalmente as escolas rurais em que o único idioma era o herdado dos imigrantes contra os descendentes de alemães quando o Brasil entrou na guerra para combater a Alemanha.

Os professores paroquiais, tanto os católicos quanto os luteranos, trabalharam nas colônias alemães até metade da década de 1940. Getúlio Vargas decretou o fim das pequenas escolas rurais mantidas pelas comunidades religiosas com a Nacionalização do Ensino e uma sucessão de decretos. A partir de maio de 1938, ordenou que todo o material usado na escola elementar fosse em Português, todos os professores e diretores da escola fossem brasileiros natos, que nenhum livro de texto, revista ou jornal circulasse em língua estrangeira nos distritos rurais e que o currículo escolar deveria ter instrução adequada em História e Geografia do Brasil. E proibiu o ensino de língua estrangeira a menores de 14 anos.

Em 25 de agosto de 1939, o Decreto nº 1006 instruiu os secretários estaduais de Educação a construírem e manterem escolas em áreas de colonização estrangeira, estimularem o patriotismo, fiscalizarem o ensino de línguas e proibirem que se fizesse o uso de idioma estrangeiro em assembléias e reuniões públicas. Em 3 de setembro de 1941, o Decreto nº 3.580 proibiu a importação e a impressão em território nacional de livros de língua estrangeira para o ensino elementar. Conforme Lúcio Kreutz, professor da Pós-Graduação em Educação da Unisinos, autor do livro O Professor Paroquial – Magistério e Imigração Alemã (1991), a Campanha de Nacionalização do Ensino foi iniciada com medidas preventivas: “A partir de 1938, passou para uma ação mais ostensiva e repressiva, especialmente nos núcleos em que houvesse alguma resistência. A nacionalização também se entendeu às sociedades culturais. Houve casos em que a animosidade tomou vulto, a resistência de algumas comunidades rurais se radicalizou do mesmo modo como a ação policial invadindo lares, arrancando inscrições já existentes havia 50 ou mais anos em tumultos”.

969 - Dificuldades nos tempos da guerra

Quando o Brasil declarou guerra à Alemanha, colonos passaram a ser vistos como suspeitos de traição

Foto de Morro Reuter vista do alto do Morro da Embratel
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"As determinações do Ministério da Educação trouxeram às localidades de Morro Reuter professores nomeados para dar aulas em português, com as novas cartilhas. Padres e pastores reagiram, se exaltavam nos sermões, em defesa das escolas paroquiais. Um ofício enviado em 2 de março de 1941 pelo vigário de Dois Irmãos ao prefeito de São Leopoldo revela a extensão dos conflitos gerados pela Campanha de Nacionalização: “Não posso impedir que fundem a tal da escola na Picada São Paulo, ao meu ver desnecessária. Se, porém, a querem fundar, deixem de fazer funcioná-la até ter um prédio, ou aluguem uma casa, até ter própria, como foi feito no Walachai e mo próprio Dois Irmãos. Ao meu ver, se prestaria a sala de Henrique Arnecke. E seria um grande favor para toda a população católica de Picada São Paulo não colocar o prédio escolar perto da Igreja, como, aliás, quanto eu sei, estão pretendendo”.

No final, o padre reconhece que o processo de implantação de escolas públicas leigas, será irreversível: “Espero também no futuro poder viver em boa harmonia com as autoridades, mas respeitem meus direitos de sacerdote. Enquanto me restar sopro de vida, serei defensor intrépido das aulas paroquiais, verdadeiros seminários de vocações sacerdotais e religiosas e de homens lídimos e patriotas a toda prova”. Depois da II Guerra, com a queda de Vargas e a redemocratização do Brasil, aos poucos a rede escolar pública substituiu as escolas paroquiais em Morro Reuter.

Ainda durante a guerra, os colonos descendentes de alemães precisaram demonstrar que eram lídimos cidadãos brasileiros e patriotas a toda prova. Em 1942, a comoção nacional contra a Alemanha chegou ao auge. O ataque alemão a navios brasileiros em 17 de agosto levou o governo a entrar em conflito mundial. Nas pequenas comunidades rurais, isso significou um período de medo, perseguições e ameaças. Entre as informações, que chegavam desencontradas ou distorcidas à colônia, em Porto Alegre estavam depredando as lojas e fábricas de descendentes de alemães e atacando nas ruas quem era alemão. Ninguém mais podia falar alemão em público nem ter em casa qualquer coisa vinda da Alemanha, principalmente aparelhos de rádio. E os colonos passaram a esconder até os hinários sacros e edições alemãs da Bíblia no milharal ou entre as batatas nos galpões. O depoimento de Alma Wittmann, que em 1942 tinha dois filhos pequenos, leva às recordações amargas dos tempos de guerra: “Na primeira vez que eu ouvi falar de Hitler, desmaiei. Tinha muito medo dele, era nojento, por causa dele nos proibiram de falar alemão na colônia. Os chefes e gerentes de repartições do governo, que eram brasileiros, diziam que iam levar presos os que falassem em alemão. Passavam, silenciosos, para ver se a gente estava falando o dialeto dentro de casa. Graças a deus, depois da guerra, voltamos a conversar em alemão sem medo”.

968 - BR-116 agita a localidade pacata

Com o asfaltamento da BR-116 surgiram o movimento, o progresso e o café colonial

"Até quase o final da década de 1930, o centro de Morro Reuter era uma área única, formada pelo casario em poucas ruas, pelos potreiros e pelas plantações de verduras e frutas. Quando começou a ser implantada, a estrada federal cortou os potreiros ao meio, como aconteceu com a propriedade de Albino Sperb, que tinha gabo par abate. O trabalho de chão batido, a partir de 1937, desenhou o destino do lugar, que nessa época passou a receber os primeiros postes trazendo a energia elétrica. Conforme a topografia da região, a estrada atravessou áreas de rochas de basalto. Aneldo Bauer, foi um dos moradores contratados pelo DNER para o trabalho de abertura da rodovia para quebrar os blocos de pedra, que eram removido das margens em carroças puxadas por bois.

Em 1942, Affonso Sebastiany era aluno do professor Francisco Weiler em Picada São Paulo. Ele lembra que nesse ano o presidente Getúlio Vargas e o coronel Theodomiro Porto da Fonseca, delegado de São Leopoldo, fizeram em Morro Reuter a inauguração simbólica da ligação ainda sem asfalto entre Porto Alegre e Caxias do Sul. Foi uma solenidade em que todos os alunos do Professor Weiler cantaram hinos átrios em homenagem a Getúlio.

Mesmo sem asfalto, que só veio a partir de 1956, a estrada federal permitia a procissão diária de carros e ônibus. Todos os que saíam do Rio Grande do Sul para chegar ao centro do país passavam por Morro Reuter. Isso fez surgir na margem direita a Estação Rodoviária, com amplo restaurante, primeiro administrada pelos Sperb, depois pela família Ott. Logo em seguida de um lado e de outro da estrada, apareceram os estabelecimentos que definiram o perfil adquirido pelo lugar nos anos 50 e 60.

Para estabelecer e se alimentar, motoristas e passageiros consolidaram a parada obrigatória. Com isso se beneficiaram os pequenos agricultores das redondezas, que passaram a plantar frutas e flores, vendidas pelos filhos na frente da Rodoviária, entre as dezenas de ônibus e carros estacionados. Todos os dias vinham veículos a caminho de Caxias, Gramado, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio. Quando era época de Festa da Uva ou Festa das Hortênsias, a parada em Morro Reuter fervilhava de gente, indo para a Serra ou voltando para a região de Porto Alegre. Por cerca de duas décadas, entre 1950 e 1970, a venda de moranguinhos na BR-116 completou a renda familiar e fortaleceu o caráter da gurizada que oferecia frutas para os turistas de excursões, passageiros de linhas regulares de ônibus e qualquer pessoa que passasse pela estrada federal, onde o ponto de convergência era o prédio da Estação Rodoviária. Os moranguinhos vinham recém-colhidos dos canteiros cultivados pelas famílias. Cada menino, ou menina recebia uma quota de pratinhos para vender. Precisavam ter poder de comunicação, senso de humor e presença de espírito para conquistar compradores.

Celestino Graeff sempre foi o mais convincente, logo vendia rodo o estoque. Disputavam clientes, entre outros guris, os futuros prefeitos José Paulo Meyrer e Wilson Flademir Reinheimer, além dos quatro irmãos Heylmann – que se esmeravam e não gostavam de levar prato cheio nem desaforo para casa. Entre as gurias, estavam Elaine Heylmann, futura vereadora e depois vice-prefeita, e Nívia Closs, futura secretária municipal da Saúde. Pais e mães construíram uma pequena pirâmide de moranguinhos em pratos que eram esvaziados na frente do Freguês. Ainda não existia o filme plástico para embalar os frutos, então era preciso equilibrar um prato em cada mão, sem derrubar nenhum morango. Esgotada a quota, tinham que voltar até a horta para trazer novas pirâmides vermelhinhas.

Quando alguém gritava “chegou outra excursão!”, todos corriam para oferecer seus produtos. Nos meses de inverno, além dos morangos, a gurizada de Morro Reuter vendia pencas de bergamotas, traçadas pelos pais com cuidado extremo. Meninas como Vera Deimling vinham da Linha Görgen para vender flores, margaridas, e copos de leite principalmente. Às vezes, além do sucesso nos negócios, pintava alguma gorjeta. Era, então, a hora de comemorar com um refrigerante no restaurante da Rodoviária."

967 - Como surgiu o café colonial

Encanto dos turistas, o café colonial surgiu em Morro Reuter


"Morro Reuter foi o berço do café colonial, na época em que ainda era distrito de São Leopoldo. Depois de Dois Irmãos, Gramado e Canela deram fama nacional ao café acompanhado de dezenas de iguarias, cada vez mais sofisticadas. 
Dois Irmãos ostenta o título de Capital do Café Colonial. Mas foi em Morro Reuter, à beira da estrada federal (BR-116), que nasceu o simplesmente chamado café com mistura, origem do que veio a se tornar atração turística. Ainda nos anos 50, o restaurante do Turista, e o Galeto Copacabana começaram a servir um café reforçado por muitos produtos da colônia alemã.
Em 1935, a família Schäfer construiu a parte inicial do prédio do atual restaurante Klaus Haus, no Quilômetro 216 da BR-116, nº 1445. Junto ao primeiro restaurante, a Distribuidora Shell instalou a primeira bomba manual de gasolina da região, pois de Novo Hamburgo a Nova Petrópolis não havia outro ponto de abastecimento. Por volta de 1950, a família Feltes adquiriu o posto e o restaurante, ampliou a construção, colocou uma bomba de gasolina mecânica e reinaugurou o estabelecimento com o nome de Galeto Copacabana.
Passageiros do ônibus e carros que trafegavam pela faixa federal, como era chamada a estrada de chão batido, não resistiam ao apelo do galeto servido com massa caseira, polenta e saladas. Foi quando os Feltes começaram a oferecer, além de almoços, um café com acompanhamentos caseiros a que batizaram de café com mistura. Junto com as xícaras e bules, vinham para a mesa de pães de trigo e milho, roscas de polvilho, cucas, queijo, lingüiça, morcilha, queijo-de-porco, nata, requeijão, mel, salsicha bock, rocambole, rabanete e pepino. Tudo de produção própria. Estava nascendo Morro Reuter o logo famoso café colonial, também servido nas mesas da Rodoviária e no restaurante do Turista.
José Antônio Pinheiro Machado, o Anonymus Gourmet dos programas de rádio e TV e dos livros sobre gastronomia, na crônica “O carinho de Morro Reuter” (Zero Hora, 25/10/2002), torna pública a certidão de nascimento do café colonial: “Morro Reuter é uma das minhas primeiras, digamos assim, memórias gastronômicas, anos 50 e 60, quando íamos a Caxias, meu pai pilotando o seu flamante Aero Willys, Serra acima. Parávamos para o café colonial, e ali descobri pela mão de meu pai o encanto inexcedível de um sanduíche feito de fatias de cuca açucarada com boa manteiga colonial e salame italiano. Depois, Morro Reuter se tornou uma referência naqueles sábados nublados que pedem uma mesa farta, de sotaque alemão e alguma cerveja, antes da sesta inevitável."
Os Feltes mantiveram o Galeto Copacabana até 1982. Depois de um período de abandono, Elton e Carmen Wedig adquiriram o prédio, que passou por reformas e foi reaberto em 16 de dezembro de 1988 com o nome de Restaurante Klaus Haus. A área da Rodoviária hoje é ocupada pela fábrica de Calçados Maide, e onde existia o Turista surgiu a primeira linha de costura da Indústria de Calçados Wirth, depois substituída pelo prédio da atual Metalúrgica Reuter.
No final da década de 1960, ficou totalmente asfaltada a BR-101, entre Osório e Torres. A maior parte das empresas de ônibus interestaduais optou pela nova ligação junto ao litoral, principalmente quando a freeway foi inaugurada, em 1973. E o esvaziamento do fluxo de viajantes se ampliou quando ficou pronto o asfalto que também leva à Serra, desviando por Portão e São Vedelino. A nova realidade econômica se tornou um desafio para os moradores de Morro Reuter".

966 - Morro Reuter se emancipa

A emancipação trouxe progresso e melhoria de vida para os morro-reutenses

A década de 1980 foi a da retomada de fôlego para os morroreutenses. Se a perda do movimento na estrada federal significou desemprego e falta de oportunidades, a chegada de indústrias e a ampliação das existentes passaram a ser um alento. Ao mesmo tempo, os aviários e o cultivo da acácia, milho, verduras e flores, principalmente, começaram a apresentar resultados promissores. Em 1991, com 800 propriedades rurais em atividades, Morro Reuter, ainda em 2º Distrito de Dois Irmãos, produzia cerca de 5 mil toneladas de batatinha por ano, 3.200 toneladas de frango, 1.600 toneladas de milho, 1 milhão de litros anuais de leite . Estavam preenchidos os quesitos básicos para o município pleitear a emancipação política. Como lembra o professor Affonso Sebastiany, “a organização em torno dos centros comunitários, evangélico e católico, levou as lideranças a criarem os próprios meios de progresso que mais e mais alimentaram os planos emancipacionistas”.

Fizeram parte da Comissão Emancipadora Leopoldo Kochhann, como presidente, José Paulo Meyrer, Roque Querino Klauch, Affonso Sebastiany, Vergílio Perius, Affonso Inácio Rohr, Guido Wiest, Roque Dieter, Wilson Reinheimer e Benno Mallmann. Nos meses em que a comissão trabalhou, reunido argumentos para a inclusão de Morro Reuter no plebiscito previso pelo governo do Estado para outubro de 1991 nos locais candidatos a município, toda a comunidade se mobilizou. Nessa etapa, a Comissão contou com a simpatia do próprio prefeito de Dois Irmãos, Arnildo Malmann, e com uma campanha desenvolvida pelo jornal Dois Irmãos. No centro, principalmente, a maior parte dos moradores defendia a emancipação. Em outras localidades, como São José do Herval e Walachai, os eleitores preferiam permanecer como distrito de Dois Irmãos, satisfeitos que estavam com a administração de Mallmann.

No dia 10 de novembro de 1991, foi realizado o plebiscito. Pelos resultados da apuração, de um total de 2.847 eleitores aptos, 2,283 votaram. O Sim obteve 1.228 votos, o Não 1.025. Foram30 votos em branco e nulo. Democraticamente, estava vitorioso o sonho de tornar uma dos novos municípios do Rio Grande do Sul. Em 20de março de 1992, o governador Alceu Collares assinou a lei estadual nº 9.583, oficializando a emancipação. No dia 3 de outubro, os morro-reutenses participaram da primeira votação para escolha de prefeito, vice-prefeito e vereadores. Agora, os próprios moradores decidiam sobre seu futuro.

Emancipado, o município de Morro Reuter ficou formado pelo núcleo central, Belvedere e Linha Görgen e pelas localidades rurais do Walachai, São José do Herval, Picada São Paulo, Linha Cristo Rei, Fazenda Padre Eterno, Birckental, Frankental, Muckental, e Batatental. “Tal” é designado de vale, lugar em que as lavouras fornecem um dos esteios da economia municipal. Nos últimos anos, a exploração da acácia-negra, da qual é extraído o tanino usado na indústria coureira, vem se expandindo. Da mesma forma, vem crescendo o número de estabelecimentos comerciais e industriais. Em 2003, Morro Reuter encara o futuro com a garantia de empregos e benefícios proporcionada pela produção constante de fábricas e ateliês de calçados, frigoríficos e aviários de grande porte. Já fazem parte da história os anos em que a maioria dos morro-reutenses só podia apostar no movimento da BR-116.

965 - Cascata gigantesca, no arroio Cadeia



Com 125 metros de altura, a cascata do Herval é um ponto turístico de rara beleza

Próximo às suas nascentes, o Arroio Cadeia apresenta uma das mais altas cascatas do país. Com 125 metros de altura, ela está situada no município de Santa Maria do Herval.
De uma beleza estonteante, a cascata fica próxima da localidade e o acesso ao local é fácil. É possível passar por trás da queda d'água sem se molhar.

964 - Paquim dos Fuchs, no Matiel

Hoje em ruínas, o Paquim dos Fuchs foi um dos principais do estado, contando até com câmera fria

Na localidade de Matiel, do outro lado do rio em relação ao Caí, em frente à Praia da Manteiga, existiu um grande e moderno packing house (beneficiadora de laranjas) dotado de equipamento moderno para polimento das frutas e, inclusive, câmara fria.
A empresa pertencia aos irmãos Jacob e Arno Fuchs e mais dois sócios: Armando Dietrich e Plínio Schroeder.
Inicialmente, eles usavam as instalações de refrigeração dos Frigoríficos Nacionais Sul Brasiliros, em Canoas, para fazer a conservação das frutas. Posteriormente, os empresários matielenses construiram a sua própria câmara fria no porão do prédio de Matiel. Para garantir o isolamento térmico, as paredes eram duplas, com o espaço entre uma parede e outra sendo preenchido com casca de arroz.
No início da sociedade, o transporte das laranjas para Porto Alegre era feito em gasolinas (barcos a motor). Mas, com o tempo, a empresa passou a usar caminhões.
Os sócios Plínio e Armando deixaram a sociedade, permanecendo a empresa com os irmãos Fuchs até 1974, quando Arno Fuchs também se afastou (pouco antes da sua morte, em 11 de novembro de 1974).
Jacob Fuchs, também conhecido como Jacozinho, era um líder da localidade de Matiel.

963 - Hunsrück



O Hunsrück é uma região do sul da Alemanha, de onde provieram a maioria dos imigrantes vindos para o Rio Grande do Sul. A região, situada junto às fronteiras com a França e Luxemburgo, fica bem próxima à cidade de Frankfurt e se caracteriza por não possuir grandes montanhas

Os primeiros imigrantes alemães, que se estabeleceram nos vales do Sinos e Caí nos anos de 1824 a 1830 eram, na sua maioria, provenientes da região do Hunsrück.
Eles falavam o dialeto daquela região chamado de runrückich que se tornou predominante como língua falada dos imigrantes alemães do Rio Grande do Sul e outros estados do sul brasileiro. Com a imigração dos descendentes desses colonos que, ao longo de décadas, foram desbravando novos territórios (pelos vales do Taquari e Pardo ao noroeste do Rio Grande do Sul, depois oeste de Santa Catarina e Paraná, Mato Grosso, região do Serrado, chegando hoje ao Maranhão e à Amazônia, o dialeto é falado hoje em grande parte do país.
Em alemão, o significado de Hunsrück é “lombo de cachorro”. Uma representação da topografia daquela região da Alemanha, que se caracteriza por colinas e montanhas de baixa altitude.
A Wikipédia descreve assim a região do Hunsrück:
"O Hunsrück é uma serra de montanhas baixas, localizada no estado da Renânia-Palatinado, no sudoeste da Alemanha. É cercado pelos vales do rio Moselle, ao norte, do rio Nahe, ao sul, e do Rio Reno, ao leste.
Muitos de seus montes não passam de 400 metros de altura. Porém, há vários picos notadamente mais elevados na serra do Hunsrück, cada qual possuindo nome próprio. Por exemplo, o monte (Schwarzwälder) Hochwald, o pico Idarwald, o Soonwald, e o Binger Wald. O mais elevado de todos é o pico Erbeskopf, de 816 metros de altura.
Algumas das cidades mais conhecidas da região serrana do Hunsrück são Simmern, Kirchberg, Idar-Oberstein, Kastellaun, e Morbach.
O aeroporto de Frankfurt-Hahn Airport também está localizado na região do Hunsrück e contribui em muito à economia regional.
O clima do Hunsrück caracteriza-se, sobretudo, por ser bastante chuvoso.
A região também é conhecida por suas minas de ardósia.
A célebre trilogia Heimat (para televisão), produzida na década de 80, e dirigida por Edgar Reitz, examina a vida de um vilarejo fictício, do século XX, localizado na serra do Hunsrück.
A migração de habitantes do Hunsrück - e de regiões vizinhas - para o sul do Brasil, nas duas últimas centenas de anos, contribuiu muito para a formação socio-cultural dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Variantes de seus dialetos regionais - também ainda falados correntemente na Alemanha - continuam sendo praticados em diversas regiões, tanto rurais como urbanas, no Brasilmeridional.
Na Alemanha de hoje, a maioria dos falantes do Hunsrückisch é bilingue: pratica o dialeto ancestral nos lares e ao ar livre mas lê e estuda em Hochdeutsch, outro dialeto com gramática formalmente mais organizada, que veio a se tornar oficial em toda a Alemanha. Na época das emigrações, entretanto, poucos eram os agricultores - a maioria dos viajantes - letrados em Hochdeutsch. Levaram para o Sul brasileiro, com raras e notáveis exceções - atribuíveis a professores e profissionais mais graduados que também emigraram -, apenas seus falares locais."
Os colonos de descendência alemã que vieram se estabelecer no Brasil e viveram em pequenas localidades do interior (como Tupandi, Hortêncio, Alto Feliz e outras) tiveram pouco contato com a Alemanha e preservaram o modo de falar que os seus ancestrais trouxeram do Hunsrück. Ao contrário do que aconteceu com aqueles que ficaram na Alemanha, país extremamente culto e integrado à cultura mundial. A língua falada pelos colonos alemães que hoje vivem no Brasil se distingue bastante do alemão falado atualmente e tem muita semelhança com a lingua alemã falada há 200 anos atrás na região do Hunsrück.


sábado, 28 de agosto de 2010

962 - Biografia do Padre Balduino Rambo


A Wikipédia sintetisa assim a vida e obra do Padre Balduino Rambo:

Filho de Nicolau Rambo e Gertrudes Vier, desde cedo foi interessado pelas ciências naturais. No ginásio iniciou sua coleta de plantas, tendo logo juntado uma grade coleção. Após ter completado o noviciado no Brasil, cursou filosofia em Pullach. Na Alemanha, aproveitava os dias de folga para excursões científicas, cujos resultados foram publicados em revistas alemãs e brasileiras.
Voltou ao Brasil, em 1931 e tornou-se professor de história natural no Colégio Anchieta em Porto Alegre, onde ficou até 1933. Sua primeira obra, uma monografia sobre líquenes foi publicada no mesmo ano, no Relatório do Colégio Anchieta, dali em diante não parou de publicar, publicando quase anualmente. Estudou teologia no Seminário Conceição de São Leopoldo, ordenando-se em 1936. Voltou a lecionar no Colégio Anchieta, onde fixou e residência e passaria a maior parte de sua vida.
Foi fundador da cátedra de Antropologia e Etnografia da UFRGS em 1940, também lecionou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Leopoldo, futura Unisinos. Fez campanha pela criação de um Jardim Botânico em Porto Alegre e conseguiu que o Itaimbezinho fosse declarado Parque Nacional. Suas pesquisas botânicas resultaram num acervo de plantas de 50 000 exemplares, em 1948, cerca de 90% da flora nativa. Organizou o Museu Rio-Grandense de Ciências Naturais e fundou a revista Iheríngia.
Em 1942 publicou sua primeira grande obra, A fisionomia do Rio Grande do Sul, uma descrição detalhada da geografia do estado, incluindo mapas e 30 ilustrações paisagísticas, feitas a partir de fotos áereas tiradas por ele em viagens por todo o território, realizadas com um avião do terceiro Regimento de Aviadores de Canoas.
O seu diário, considerado por ele sua maior obra literária e científica, escrito de 1919 à 1961, contém os mais variados assuntos, inclusive suas aspirações e conflitos pessoais. Parte destes escritos foram publicados na obra Em busca da Grande Síntese.
Foi redator do principal veículo de comunicação jesuíta no estado, a revista Sankt Paulusblatt, destinada à formação e à informação dos colonos teuto-brasileiros católicos. É a revista católica em língua alemã mais antiga do Brasil, uma das poucas que voltou a circular após a campanha de nacionalização empreendida pelo Estado Novo, circulando até os dias de hoje.
Obras:
A fisionomia do Rio Grande do Sul (1942)
Em busca da Grande Síntese (1919 - 1961)
Referências:
SPALDING, Walter. Construtores do Rio Grande. Livraria Sulina, Porto Alegre, 1969, 3 vol., 840pp.

961 - Retrato da família Rambo


O padre Balduíno Rambo, com sua família, em Tupandi


Balduíno Rambo, nascido em Tupandi, foi um dos maiores intelectuais gaúchos. Destacou-se como cientista, ambientalista e historiador. Foi grande professor e editor.



A foto acima retrata o momento em que ele, tendo sido ordenado sacerdote, resou a sua primeira missa na localidade de Tupandi. Fato ocorrido em 7 de novembro de1936.
Na foto, o padre Balduino aparece com seus familiares:
Da direita para a esquerda (de pé): Apolônia e Raimundo Graef, Maria Orth, Fridolino, Tecla, Leopoldina (irmã Antônia) e José Bertoldo. Sentados, Padre Roberto, o pai Nicolau, Balduino, a mãe Gertruda, Arthur Braz e Ana.

Segundo pesquisa feita pelo Padre Rambo, o casal Mathias e Susanna, que emigrou da cidade de Loeffelscheid da região do Hunsrück na Alemanha, em 1828, foi o precursor dos milhares de descendentes dos Rambo no Brasil.

A linha dos antepassados de Balduino Rambo é a seguinte:
Mathias Rambo X Susanna Hochscheid



Pedro Rambo X Juliana Simsen



Pedro Rambo F º X Bárbara Brand



Nicolau Rambo X Gertrudes Vier
Os filhos de Nicolau e Gertrudes foram:
Balduíno Rambo
Raimundo Rambo
Fridolino Rambo
Roberto Rambo
Ida Maria Rambo
Ida Rosalina Rambo
Tecla Leopoldina Rambo
João Bertoldo Rambo
Ana Marcolina Rambo
José Rambo
N.N. (menina nati-morta)
Arthur Blásio Rambo







960 - Os Vogel de Porto União

18 e 19 de setembro de 2010, foram os dias escolhido para a realização da 13ª Vogel Fest, na cidade de Porto União, bela cidade de Santa Catarina, situada às margens do rio Iguaçu, na divisa com o estado do Paraná

Maiores detalhes sobre a festa podem ser obtidos pelos números: (42) 99862953 - 98981705 e 99264883.

Em 1847 veio para o Brasil um Johannes Vogel, filho de Adão Vogel e Margarida Bart. Veio solteiro e aqui casou com Anna Maria Webber, em 12 de novembro de 1851, em Montenegro. Este Johannes Vogel é o ancestral dos Vogel das olarias, em Bom Princípio, e dos Vogel que imigraram para Capioví na província de Misiones, na Argentina, no ano de 1924.

No ano de 1857, outro Johannes Vogel, filho Balthazar Vogel e Anna Maria Eich veio para o Brasil. Já veio casado com Anna Maria Boll e com três filhas. Aqui no Brasil, nasceram outros filhos entre o quais Jacob Vogel e Pedro Vogel.

Jacob Vogel casou com Catharina Finkler em 9 de setembro de 1879, na Igreja de São Miguel de Dois Irmãos. Em 19 de maio de 1919, quatro filhos de Jacob Vogel (Miguel, Mathias, Adão e Jacob Vogel Filho), com suas esposas e filhos, mudaram-se para São Miguel da Serra, no município de Porto União em Santa Catarina, sendo os pioneiros desta localidade. Mais tarde Jacob Vogel, esposa e os outros filhos também mudaram para São Miguel da Serra, e é a este tronco que nós Vogel de Porto União pertencemos.

Foram os Vogel de Capioví que deram início à Vogelfest, no ano de 1974, por ocasião dos 50 anos da vinda deles do Rio Grande do Sul.

Durante a 10ª Vogelfest em 2003, a primeira no Brasil, em Bom Principio, Otávio Vogel (um dos Vogel de Porto União) manteve o primeiro contato com os descendentes do primeiro Johannes Vogel. Foi por meio destes encontros, que os descendentes destes dois troncos fizeram contato, e participam cada vez em maior numero dos encontros. Eles se tratam de primos, embora não saibamos o parentesco entre os dois Johannes que imigraram da Alemanha para o Brasil no século XIX. É bem provável que existam descendentes do segundo Johannes no Vale do Caí.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

959 - A chaminé da Oderich


Assim como o chaminé da Oderich, o Buraco dos Fuchs servia para as previsões meteorológicas da a população caiense

Nestor Wasen, lembrando o tempo em que era chefe dos escoteiros caienses, narrou que o grupo descobriu um meio de prever se iria chover nas próximas horas.
"Nós descobrimos uma maneira de saber se o tempo seria bom para acampar. Nós controlávamos o tempo pela chaminé da Oderich. Se a fumaça subia reta, o tempo seria bom; se saísse de outra forma era sinal de chuva."
A chaminé da fábrica Oderich é um marco no Caí. E era muito mais no passado, quando não existiam prédios altos na cidade e a chaminé podia ser vista de longe.
BURACO DO FUCHS
Outra peculiaridade da meteorologia caiense é a observação do céu sobre o Buraco do Fuchs, ou seja, de um trecho do rio Caí, logo adiante (rio abaixo) do Cais do Porto e da Prainha da Manteiga. Neste trecho o rio é mais fundo (razão de ser chamado de buraco) e fica próximo do Paquim dos Fuchs (uma antiga beneficiadora de frutas pertencente aos irmão Fuchs e sócios).
Se o céu que se observa acima desse local se encontrar com nuvens baixas e escuras (carregadas), é sinal de que vai ter chuva no Caí.

958 - Escoteiros já em 1917

Em 1917, um grupo de escoteiros caienses fez jornada a pé de Caxias ao Caí

Existe nos arquivos do Grupo Escoteiro Taquató um registro de atividades escoteiras na cidade já no ano de 1917. Nesse ano, mais exatamente no dia 11 de junho, um grupo de escoteiros caienses realizou um excursão escotista, percorrendo - a pé - o trajeto de 65 quilômetros entre Caxias do Sul e o Caí.
Segundo Nestor Wasen, os grupos escoteiros que surgiram no início do século XX eram ligados às sociedades ginástica, muito comuns nas comunidades de colonização alemã.

957 - Grupo Escoteiro Taquató

As primeiras reuiniões do Grupo Escoteiro Taquató aconteceram na casa de Nestor Wasen

Conta Nestor Wasen que, em 1960, existia um grupo de garotos que, por iniciativa própria, faziam caminhadas pelas matas da região. O grupo, formado informalmente, era chamado de patrulha Águia. Como Nestor já havia sido escoteiro, resolveu ajudar aqueles garotos a formar um verdadeiro grupo escotista.
Conforme lembrava Nestor Wasem, o grupo escoteiro criado por ele e outros companheiros em 1960, no Caí, deveria chamar-se Abaeté. Palavra que, em linguagem indígena, significa homem honrado. Mas descobrimos que já havia um grupo com esse nome. Então optamos por Taquató, que significa ave que voa alto.
A primeira sede do grupo Taquató foi na casa de Nestor, na rua General Osório, 630. Depois, com o crescimento do grupo, as reuniões passaram a ser realizadas no porão da mesma casa.
Entre os primeiros escoteiros figuravam, Maurício Bohn, Luiz Bohn, Júlio Peters, João Carlos Pooter e Cláudio Selbach.
O grupo pioneiro desenvolvia atividades principalmente com os grupos de Montenegro e Bom Princípio. Havia bastante interesse e participação, mas o grupo não se manteve sempre em atividade, pois muitos escoteiros tiveram de abandonar o grupo em virtude deles irem estudar ou trabalhar fora do Caí.